Economia de Minas Gerais volta a ter desempenho inferior à média brasileira no 1º trimestre de 2025, continuando a desaceleração verificada desde 2023

Autor; Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

No 1º trimestre deste ano, o PIB mineiro registrou retração real de 0,1%, contra uma expansão média brasileira de 1,4% na comparação com o trimestre imediatamente inferior

No acumulado dos últimos quatro primeiros trimestres, a economia de Minas Gerais apresentou uma expansão de 2,6% – contra uma média nacional de 3,5% verificada no mesmo período

A FJP-Fundação João Pinheiro divulgou, no dia 17 de junho, os dados estatísticos do 1º trimestre de 2025, relativos ao desempenho do PIB-Produto Interno Bruto de Minas Gerais, que confirmam uma tendência de queda inferior à média nacional – já iniciada durante o ano de 2023.

De acordo com a FJP, no primeiro trimestre de 2025, o PIB nominal de Minas Gerais somou R$275,3 bilhões. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve expansão real de 1,4% – inferior à média nacional de 2,9% ocorrida no mesmo período. Deste montante, o Valor Adicionado Bruto (VAB) das atividades agropecuárias foi estimado em R$27,1 bilhões, o das indústrias totalizou R$62,4 bilhões e, o dos serviços, R$150,7 bilhões, além dos impostos (R$ 35,1 bilhões).

A participação do PIB de Minas Gerais no PIB nacional foi de 9,1% no primeiro trimestre de 2025, acima dos 8,8% registrados no mesmo trimestre do ano passado. Esses resultados foram divulgados pela Fundação João Pinheiro no dia 17/6 e já estão disponíveis no site da instituição.

Os dados não são definitivos e estão sujeitos a futuras revisões por ocasião da divulgação das Contas Regionais pelo IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Para a FJP vale também notar que o PIB real apresentou relativa estabilidade em comparação ao trimestre imediatamente anterior, com ligeira variação negativa de -0,1% na série com ajuste sazonal. Nos três primeiros meses de 2025, as indústrias extrativas tiveram expansão de 6,2% em relação ao trimestre anterior, praticamente devolvendo a queda da produção ocorrida ao final do ano passado. As indústrias de transformação retraíram -1,3% no trimestre, resultado da produção física menor dos derivados de petróleo e de biocombustíveis, de produtos de minerais não-metálicos, da metalurgia, de máquinas e equipamentos e de veículos automotores. A construção civil, por sua vez, apresentou contração de -2,1% no trimestre, com forte queda no número de postos de trabalho no setor.

O setor de serviços cresceu 1,0% no primeiro trimestre de 2025, com expansão do volume de vendas no comércio de combustíveis, de hipermercados, de veículos automotores e de material de construção. Os transportes tiveram crescimento de 0,9% no trimestre, enquanto o grupo de outros serviços apresentou aumento de 1,1% na produção estadual.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2024, o setor agropecuário registrou queda de -5,6%, um desempenho bastante influenciado pela queda na produção de banana e de tomate e pelo recuo da primeira safra de feijão e de batata-inglesa. Além disso, o consumo de carvão vegetal pela metalurgia estadual foi menor no período.

Detalhamento

O PIB de Minas Gerais apresentou ligeira contração de -0,1% em termos reais no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o quarto trimestre de 2024 na série com ajuste sazonal2 (gráfico 1). Os resultados positivos obtidos nas indústrias extrativas e nos serviços foram anulados pela retração na agropecuária, nas indústrias de transformação, nos serviços industriais de utilidade pública3 e na construção (tabela 1).

Na comparação interanual4, o PIB de Minas Gerais alcançou um patamar 1,4% acima do registrado no primeiro trimestre de 2024, com expansão expressiva nas indústrias de transformação, no comércio, nos transportes e nos outros serviços. Nessa base de comparação, entretanto, já se registra diminuição dos volumes produzidos na agropecuária, nas indústrias extrativas e na construção (tabela 1).

Na comparação do resultado acumulado nos 12 meses encerrados em março de 2025 com igual período imediatamente anterior, estimou-se crescimento real de 2,6% no PIB estadual – contrastando com uma expansão média da economia nacional de 3,5% no mesmo período. Também nessa ótica de comparação, os volumes produzidos na agropecuária mineira e nas indústrias extrativas locais foram inferiores aos registrados no período anterior.

Agropecuária

A produção agrícola não tem distribuição uniforme ao longo do ano, o que faz com que o resultado agregado de cada trimestre seja influenciado desproporcionalmente pelo desempenho de algumas poucas lavouras.5

No primeiro trimestre de 2025, por exemplo, o valor adicionado na agropecuária de Minas Gerais teve queda de -8,0% em comparação com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. Na passagem do quarto trimestre do ano passado para o primeiro deste ano, ganharam participação cultura com retração da produção em 2025 (banana e tomate entre as lavouras permanentes e as primeiras safras de feijão e de batata-inglesa).

As previsões de colheita menor nessas lavouras em 2025 compensaram os ganhos esperados na produção de soja e na primeira safra de milho em Minas Gerais.6

Além disso, a demanda menor por carvão vegetal na metalurgia local implicou retração no segmento da produção florestal.

Indústria

Compostas pelas indústrias extrativas, de transformação, da construção e pelos serviços industriais de utilidade pública (geração e distribuição de eletricidade, gás, água e saneamento), as atividades industriais representam diretamente mais do que um quarto da economia estadual.7

O valor adicionado nas indústrias extrativas de Minas Gerais foi 6,2% maior no primeiro trimestre 2025 em relação ao trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal (praticamente devolvendo a contração do último trimestre do ano passado). Na comparação com o mesmo trimestre em 2024, foi 3,5% menor, basicamente em função da produção menor de minério de ferro nos sistemas sul e sudeste da Vale.8

Nas indústrias de transformação, houve retração de -1,3% no volume de valor adicionado no primeiro trimestre em comparação com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. Tal fato se deveu à queda na produção física dos derivados de petróleo e de biocombustíveis, de produtos de minerais não-metálicos, da metalurgia, de máquinas e equipamentos e de veículos automotores.

A fabricação de produtos químicos praticamente não se alterou, e a expansão da produção da indústria de alimentos, bebidas, fumo, celulose e na fabricação de produtos de metal não foi suficiente para compensar o peso dos setores manufatureiros em contração.

Nos demais grupamentos de atividade do setor industrial, também se observou variação negativa do valor adicionado pelos serviços industriais de utilidade pública e na construção no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal.

Nas atividades de geração e distribuição de eletricidade, gás, água e saneamento, predomina o valor adicionado no segmento da distribuição – para o qual o volume da produção pode ser aferido conforme a evolução do consumo de eletricidade (em MWh) – e no da geração de eletricidade.

No primeiro trimestre de 2025, o consumo total de eletricidade em Minas Gerais ampliou-se ligeiramente na comparação com o trimestre imediatamente anterior9, enquanto se contraía a geração de eletricidade no segmento hidroelétrico (a geração de eletricidade praticamente não se alterou no modal térmico e continuou em expansão no modal solar).

Com relação ao nível de atividade na indústria da construção, verificou-se que os indicadores da produção física na fabricação de produtos de minerais não metálicos (PIM-PF) apresentaram queda acentuada no primeiro trimestre em Minas Gerais na comparação com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. Além disso, os indicadores da evolução do mercado de trabalho (tanto da Pnad-C quanto do Novo Caged) mostraram acentuada destruição de empregos no setor na série com ajuste sazonal e sustentam o diagnóstico de retração do volume de valor adicionado nesse grupamento de atividade econômica estadual no período considerado.

Serviços

Os serviços representam diretamente pouco menos que dois terços da economia estadual e são compostos pelas quatro atividades seguintes: comércio, transportes (inclusive armazenagem e correios), administração pública e outros serviços.

No primeiro trimestre de 2025, em comparação com o trimestre imediatamente anterior, a expansão do volume de vendas no comércio de combustíveis, de hipermercados, de veículos automotores e de material de construção compensou a retração nos três segmentos seguintes: móveis e eletrodomésticos, farmácia e, terceiro, equipamentos e aparelhos de informática e comunicação.10

Nas atividades de transporte, houve expansão real do valor adicionado na comparação com o trimestre imediatamente anterior, interanual e no acumulado do ano.

Para as atividades agrupadas na rubrica de outros serviços,11 os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) fornecem informações importantes para se acompanhar o nível de atividade dos segmentos empresariais não financeiros desse setor, com exceção dos segmentos da saúde e da educação.

Na comparação do primeiro trimestre de 2025 com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal, houve expansão do volume de produção nos serviços de informação e comunicação, mas queda nos serviços prestados às famílias, nos serviços profissionais, técnico-científicos e administrativos e nas atividades caraterísticas do turismo. Na comparação interanual, entretanto, ainda se verifica expansão do volume de produção em todos os segmentos mais relevantes para a economia estadual.

Considerações finais

Para a Fundação João Pinheiro, quando se leva em consideração, além das variações nas quantidades produzidas (chamadas de variações reais), o efeito nas mudanças observado nos preços dos bens e serviços que compõem o PIB estadual, são obtidas as estimativas dos valores nominais (calculadas a preços correntes de cada período) para os agregados macroeconômicos (gráfico 2).

Nessa perspectiva, estimou-se o PIB nominal de Minas Gerais em R$275,3 bilhões no primeiro trimestre de 2025 contra R$242,9 bilhões no primeiro trimestre de 2024. A variação nominal, de 13,3%, pode ser decomposta na soma da variação real (1,4%) com a variação do deflator implícito do PIB12 (11,8%).

O Valor Adicionado Bruto (VAB) das atividades agropecuárias foi estimado em R$27,1 bilhões no primeiro trimestre de 2025, enquanto, nas indústrias, totalizou R$62,4 bilhões e, nos serviços, R$150,7 bilhões.13

Contraposto ao valor nominal do PIB do Brasil, estimado pelo IBGE em R$3.019,6 bilhões no primeiro trimestre de 2025, conclui-se que a participação do PIB de Minas Gerais no total nacional foi de 9,1% no período (gráfico 3), acima da participação estimada para o primeiro trimestre de 2024 (8,8%).

OBSERVAÇÕES –

1 Alojamento e alimentação, informação e comunicação, finanças e seguros, aluguel e atividades imobiliárias, atividades profissionais, científicas, técnicas e administrativas, educação e saúde mercantis, artes, cultura, lazer e outros serviços e, por último, serviços domésticos.

2 Ajuste sazonal é um procedimento estatístico que anula o efeito da sazonalidade (fatores que se repetem à mesma época do ano e que obscurecem comparações entre períodos no mesmo ano) nos dados de séries temporais.

3 Compostos, principalmente, pelas atividades de geração e distribuição de eletricidade e água.

4 Primeiro trimestre de 2025 contra o primeiro trimestre de 2024.

5 Soja, milho, banana e tomate, além das primeiras safras de feijão e de batata-inglesa no primeiro trimestre; café, soja e milho no segundo trimestre; café, cana-de-açúcar e milho no terceiro trimestre; e somente cana-de-açúcar no quarto trimestre.

6 Vale também notar que a grande valorização do café em 2024 se repercutiu em aumento da participação dessa lavoura no valor da produção agrícola estadual, diminuindo o peso conferido à soja e ao milho na composição do valor adicionado na atividade.

7 Nas indústrias extrativas, há predomínio da produção de minério de ferro; nas indústrias de transformação, se destacam a fabricação de alimentos e a metalurgia.

8 Na comparação interanual, houve aumento da produção de minério de ferro na Anglo American, na CSN Mineração e na Mineração Usiminas.

9 Ajuste sazonal sobre informações originais da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério de Minas e Energia (MME).

10 Na comparação anual, somente não houve expansão do volume de vendas no segmento de combustíveis.

11 Na classificação de atividades adotada para a divulgação do PIB trimestral de Minas Gerais.

12 O deflator do PIB corresponde a um índice geral dos preços da economia com ponderação dada pela participação dos bens e serviços na estrutura produtiva do território considerado. Similarmente, os deflatores dos valores adicionados setoriais correspondem a um índice geral dos preços praticados nas atividades econômicas consideradas em cada grupo (agropecuária, indústrias e serviços).

13 O valor adicionado é calculado a preços básicos, que não incluem os impostos indiretos líquidos de subsídios sobre os produtos.

Fonte: FJP, Coordenação de Contas Regionais (CCR).

Nota: Os resultados trimestrais de 2023 a 2025 permanecem como preliminares até a divulgação das pesquisas estruturais do IBGE e sua incorporação pelo Sistema de Contas Regionais (SCR-MG).

*Carlos Alberto Teixeira de Oliveira é Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis, com vários cursos de pós graduação no Brasil e exterior. Ex-Executive Vice-Presidente e CEO do Safra National Bank of New York, em Nova Iorque, Estados Unidos. Ex-Presidente do BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais; Foi Secretário de Planejamento e Coordenação Geral e de Comércio, Indústria e Mineração; e de Minas e Energia do Governo de Minas Gerais; Também foi Diretor-Geral (Reitor) do Centro Universitário Estácio de Sá de Belo Horizonte; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Atualmente é Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais. Presidente da MinasPart Desenvolvimento Empresarial e Econômico, Ltda. Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum. Autor de vários livros, como a coletânea intitulada “Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento”.

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