Boa parte das empresas no mundo todo estão no modo sobrevivência. O foco está em maximizar os lucros e minimizar os impactos econômicos causados pela pandemia. Nesse cenário, as fusões e aquisições estão em alta, tanto no mercado nacional quanto internacional. E a tendência é de crescimento até 2022.
Só no primeiro trimestre deste ano, os acordos de fusão e aquisição atingiram US$ 1,1 trilhão, um recorde para início de ano desde 1998, segundo dados da Bloomberg. Boa parte desses resultados é consequência direta da pandemia, que obrigou as empresas a repensarem suas estratégias.
Diante de um contexto tão desafiador, a busca por parceiros foi intensificada. Tem sido possível observar tanto as fusões entre antigos concorrentes, como forma de unir forças, quanto a compra de empresas brasileiras por companhias estrangeiras, se aproveitando da desvalorização cambial da moeda nacional perante as moedas estrangeiras.
Em âmbito nacional, essas parcerias são fundamentais para garantir a continuidade dos negócios. É o caso de empresas que dividem parques tecnológicos e até operações logísticas, por exemplo. Outra estratégia em alta é a busca por produtos nacionais, buscando a redução da importação diante de uma variação de câmbio tão elevado. Em muitos casos, recorrer a operação de fusões, incorporações e compra e venda é mais estratégico ao invés de obter empréstimos no mercado que contribui para endividamento das empresas, podendo, no futuro, reduzir a rentabilidade esperada na operação.
Do ponto de vista internacional, existe uma movimentação de crescimento em operações de aquisição de empresas nacionais por estrangeiras, já que a valorização de moedas como o Dólar e Euro frente ao Real, contribui para esse cenário. O país nunca foi tão atrativo, principalmente porque o avanço da vacinação sinaliza positivamente para a retomada econômica ainda mais significativamente a partir de 2022.
Dentre os setores mais promissores para operações de fusões e aquisições, está o de tecnologia. Impulsionadas pelo isolamento social, fechamento de lojas físicas e a necessidade de ficarmos em casa, as plataformas digitais se tornaram fundamentais para a gestão dos negócios e muito rentáveis. O que vimos foi um crescimento exponencial de uma tendência que já estava sendo sinalizada globalmente, mas que com a pandemia, foi amplamente acelerada pela necessidade de digitalização dos processos.
Entre as empresas mais atrativas estão aquelas ligadas à logística e redução de burocracias, como é o caso de muitas startups de entregas e até assinatura online ou de digitalização de documentos – dada a impossibilidade de fazer compras e reuniões presenciais. Aplicativos de videoconferência também viram seus números dispararem, aumentando a necessidade de investimentos para suportar o crescimento.
Outro setor em alta é o agronegócio – um dos segmentos mais fortes e importantes para a economia nacional. Somente em 2019, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão, valor correspondente a 21,4% do PIB brasileiro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/USP) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Além de sua alta rentabilidade, o setor é um dos mais seguros para se investir, dada a forte solidez de seus produtos. Em conjunto com a crescente demanda pela automação e digitalização como forma de aumentar sua produtividade, o setor é um dos que atrai maior interesse, principalmente por investidores estrangeiros que tendem a trazer tecnologias inovadoras para melhorar a eficiência da produção por aqui.
O varejo, diante do questionando sobre a necessidade de ter lojas físicas, restou evidente a necessidade minimizar custos fixos, trazendo a tecnologia desde a gestão de estoques até os self-checkouts, onde os caixas humanos são substituídos por totens de autoatendimento.
O e-commerce, que se tornou a única opção de compra diante do fechamento das lojas, parece ter se tornando um hábito que veio para ficar. As pessoas demonstram menos receio de efetuar comprar online do que antes da pandemia. Pesquisas indicam que o consumidor pós-Covid deve ir cada vez menos ao comércio físico. E o mesmo deve acontecer com os supermercados, que devem se tornar mini shopping centers cedendo seções, como padarias e açougues, por exemplo, para a administração de indústrias desses segmentos.
Apesar das inúmeras oportunidades, cabe destacar que toda fusão e aquisição precisa cumprir uma série de regras. O CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) tem a função de preservar a livre concorrência do mercado e impedir a formação de pequenos cartéis, que podem monopolizar determinados setores. Na prática, o órgão regulariza esse processo de forma que não haja violação contra o livre comércio, instruindo e estimulando medidas favoráveis ao mercado.
Em suma, a perspectiva é bastante positiva para processos de fusão e aquisição. O Brasil é um país extremamente promissor, com alta demanda de consumo. A pandemia não irá durar para sempre e é preciso vislumbrar boas oportunidades a médio e longo prazo. Temos um povo resiliente e que, mesmo diante de vários desafios, continua lutando e se reinventando diante das adversidades, sendo a resiliência uma das características marcantes do povo brasileiro.
*Advogada e Líder da área societária do escritório Marcos Martins Advogados.
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