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Embora, alimentada pelo carry trade resultante do excesso de dinheiro em circulação, as bolsas de valores, inclusive a Bovespa, continuam pipocando mundo afora como se a crise europeia tivesse sido superada, a desastrada história continua sem um desenlace favorável. Pior, na verdade, do que supõe a agência de classificação de risco Moody’s, que, conforme comunicado do dia 21 de agosto, afirmou que, na melhor das hipóteses, a tarefa de rebalanceamento da economia européia estaria a meio do caminho. É por isso que, para ser otimista, é necessário dizer que a Europa se encontra diante de um prolongado e doloroso período de crise.

Aliás, a similitude da crise da América Latina, que eclodiu no dia 20 de agosto de 1982 com a moratória do México, e conduziu a região, inclusive o Brasil, para a chamada “década perdida”, com a turbulência atual da Zona do Euro, foi apontada no dia 19 de agosto pelo prestigioso jornal britânico The Guardian. Conforme salientado pelo editor econômico, Larry Elliott, exceto pelo fato da crise latino americana ter sido provocada pela acumulação de déficits em conta corrente, enquanto a europeia resultou dos desequilíbrios fiscais causados pela crise do subprime, que emergiu com o pânico de outubro de 2008, os dois eventos são muito semelhantes. Em ambos os casos, os interesses dos banqueiros e investidores foi colocado em primeiro lugar, sacrificando-se, com isso, o crescimento econômico e o estado de bem estar social, que vinha sendo laboriosamente construído. Também em ambas as situações as medidas implementadas para superar a crise levaram ao seu aprofundamento, amplificando-se a recessão, e, com isso, os desequilíbrios fiscais. A grande diferença, contudo, é que, em razão da crise latino americana ter se originado dos desequilíbrios do balanço de pagamentos, sua correção através da desvalorização das moedas nacionais em relação ao dólar produziu forte aceleração inflacionária, enquanto que, no caso do Euro, o ritmo de elevação do nível de preços não saiu do controle.

É claro que, com o aparente avanço representado pelo novo rearranjo institucional que permitiu que os fundos europeus socorram diretamente os bancos, sem agravar o balanço financeiro do setor público do país beneficiário, e, de mais a mais, sem competir com os investidores, por abrir mão do princípio da prioridade do interesse público sobre o privado, muitos esperavam que a crise européia estava próxima do seu final. Contudo, uma vez ultrapassado curtíssimo período de tempo, a mesma continuou a se desdobrar, como se nada tivesse acontecido.

Nem mesmo o corte de 0,25% a 0,75% das taxas de redesconto do BCE, efetivada no dia 5 de junho, quando, aliás, também os bancos centrais da Grã Bretanha e da China reduziram as taxas básica de juro, foi capaz de reanimar o mercado, que fechou o mês impondo novamente yields punitivos aos papéis da Espanha e da Itália, que, assim, voltaram à estaca zero. É claro que parte da explicação reside na própria inércia da crise, a se traduzir no aprofundamento da contração econômica dos países em processo de ajuste, no mergulho na recessão dos demais países europeus, como a França e o Reino Unido, na desaceleração das maiores economias do mundo, principalmente dos EUA e da própria China, para não falar no conjunto da economia mundial. Em particular, a expressiva queda do PIB dos PIGS, ao reduzir a arrecadação tributária, conturbava ainda mais o processo, dificultando o cumprimento das draconianas metas estabelecidas pela troika, ainda dominada pela nova Chanceler de Ferro, Angela Merkel. Isso sem falar no contágio de outros países, como Chipre, que informou no dia 25 de junho que solicitaria o resgate pela União Europeia, e a Eslovênia, que fez o mesmo em 6 de julho.

Mas a razão fundamental do fracasso do novo mecanismo em interromper a trajetória destrutiva da crise europeia, ou pelo menos em amenizá-la de forma significativa, residiu no fato dele se ter revelado, na prática, no oposto do acordado.

Com efeito, a União Europeia se aproveitou do dispositivo que determinava a necessidade de uma carta de entendimentos para se viabilizar o resgate do sistema bancário através dos fundos europeus para impor à Espanha, através do seu intermédio, medidas tão draconianas quanto aquelas requeridas pela troika para os programas de ajuste em curso.

Essa surpreendente novidade foi tornada pública pelo primeiro ministro Mariano Rajoy, quando do anúncio, no dia 11 de julho, do quarto “pacote” de medidas de austeridade imposto pelo governo espanhol em apenas sete meses. Embora a UE tenha concordado em conceder um ano adicional para que o país pudesse atingir as suas metas de redução do déficit, exigiu, em contrapartida, a implementação do novo programa de ajustamento. A ironia é que, se, conforme estimado pela auditoria externa realizada nos bancos espanhóis, o montante a ser liberado pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira seria de € 62 bilhões (sujeito a juros de 3% a 4% ao ano), € 3 milhões a menos, portanto, do que o novo “pacote”, de € 65 bilhões. Assim, a emenda ficou pior do que o soneto, pois, além de ser obrigada a implementar duro programa de ajuste adicional e se sujeitar, a Espanha viu aumentar tanto as suas despesas financeiras quanto a sua dívida.

Todavia, a vingança da chanceler germânica terá custos elevados, pois, para começar, certamente conduzirá ao agravamento da crise da Espanha, com impactos negativos sobre o resto da comunidade europeia, inclusive sobre a própria Alemanha, que, aliás, se veria ameaçada de perder seu status de AAA, conforme informou a Moody’s no dia 24 de julho.

Embora o ministro espanhol do Orçamento, Cristobal Montoro, tivesse previsto, no dia 20 do mesmo mês, que o PIB do país cairia somente 1,5% em 2012, as projeções tanto do FMI quanto da própria comunidade europeia, realizadas antes da aprovação do programa de ajuste € 65 bilhões, indicavam uma contração de 1,8%. Aliás, nesse mesmo dia, Peter Doyle, economista do FMI, em carta de demissão, denunciou o FMI por estar suprimindo, deliberadamente, informações relativas ao aprofundamento da crise da dívida soberana da Europa. E com a implementação do último “pacote” e com a desaceleração das economias europeia e mundial, assinalada nos últimos meses, é de se esperar uma um mergulho

ainda maior da economia espanhola na recessão, a inviabilizar as próprias metas fiscais impostas ao país.

Além disso, conforme relatório da Ernst & Young, uma das quatro maiores firmas de contabilidade do mundo, divulgado no dia 1º de julho, o balanço dos bancos europeus iria encolher cerca de € 1,6 trilhão em 2012, provocando uma contração de 4,8% dos empréstimos corporativos e de 6,6% do crédito ao consumo. O pior é que, conforme disse o documento, se, “enquanto os efeitos de (…) uma combinação de uma economia em deterioração a crises recorrentes de confiança (…) sobre os balanços dos bancos em 2012 eram preocupantes, o seu impacto real não seria sentido até 2013”, quando se farão sentir a plena força dos defaults. Há, portanto, uma “bomba relógio” planejada para explodir em 2013.

Não por outra razão, pode-se esperar, a menos na hipótese improvável que a liderança europeia mude radicalmente sua estratégia de enfrentamento da crise, que a Eurolândia venha a continuar vivendo em meio ao que promete ser uma sombria década perdida. Tornar-se-á, assim, verdadeiro, pelo menos para o continente europeu, o sombrio vaticínio de Lagarde, diretora gerente do FMI, quando afirmou que o mundo poderia enfrentar uma situação similar aos anos 1930.

A liderança européia, particularmente a chanceler germânica, Angela Merkel, está realmente de parabéns!

 

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A Europa diante de uma década perdida

 

Embora, alimentada pelo carry trade resultante do excesso de dinheiro em circulação, as bolsas de valores, inclusive a Bovespa, continuam pipocando mundo afora como se a crise europeia tivesse sido superada, a desastrada história continua sem um desenlace favorável. Pior, na verdade, do que supõe a agência de classificação de risco Moody’s, que, conforme comunicado do dia 21 de agosto, afirmou que, na melhor das hipóteses, a tarefa de rebalanceamento da economia européia estaria a meio do caminho. É por isso que, para ser otimista, é necessário dizer que a Europa se encontra diante de um prolongado e doloroso período de crise.

Aliás, a similitude da crise da América Latina, que eclodiu no dia 20 de agosto de 1982 com a moratória do México, e conduziu a região, inclusive o Brasil, para a chamada “década perdida”, com a turbulência atual da Zona do Euro, foi apontada no dia 19 de agosto pelo prestigioso jornal britânico The Guardian. Conforme salientado pelo editor econômico, Larry Elliott, exceto pelo fato da crise latino americana ter sido provocada pela acumulação de déficits em conta corrente, enquanto a europeia resultou dos desequilíbrios fiscais causados pela crise do subprime, que emergiu com o pânico de outubro de 2008, os dois eventos são muito semelhantes. Em ambos os casos, os interesses dos banqueiros e investidores foi colocado em primeiro lugar, sacrificando-se, com isso, o crescimento econômico e o estado de bem estar social, que vinha sendo laboriosamente construído. Também em ambas as situações as medidas implementadas para superar a crise levaram ao seu aprofundamento, amplificando-se a recessão, e, com isso, os desequilíbrios fiscais. A grande diferença, contudo, é que, em razão da crise latino americana ter se originado dos desequilíbrios do balanço de pagamentos, sua correção através da desvalorização das moedas nacionais em relação ao dólar produziu forte aceleração inflacionária, enquanto que, no caso do Euro, o ritmo de elevação do nível de preços não saiu do controle.

É claro que, com o aparente avanço representado pelo novo rearranjo institucional que permitiu que os fundos europeus socorram diretamente os bancos, sem agravar o balanço financeiro do setor público do país beneficiário, e, de mais a mais, sem competir com os investidores, por abrir mão do princípio da prioridade do interesse público sobre o privado, muitos esperavam que a crise européia estava próxima do seu final. Contudo, uma vez ultrapassado curtíssimo período de tempo, a mesma continuou a se desdobrar, como se nada tivesse acontecido.

Nem mesmo o corte de 0,25% a 0,75% das taxas de redesconto do BCE, efetivada no dia 5 de junho, quando, aliás, também os bancos centrais da Grã Bretanha e da China reduziram as taxas básica de juro, foi capaz de reanimar o mercado, que fechou o mês impondo novamente yields punitivos aos papéis da Espanha e da Itália, que, assim, voltaram à estaca zero. É claro que parte da explicação reside na própria inércia da crise, a se traduzir no aprofundamento da contração econômica dos países em processo de ajuste, no mergulho na recessão dos demais países europeus, como a França e o Reino Unido, na desaceleração das maiores economias do mundo, principalmente dos EUA e da própria China, para não falar no conjunto da economia mundial. Em particular, a expressiva queda do PIB dos PIGS, ao reduzir a arrecadação tributária, conturbava ainda mais o processo, dificultando o cumprimento das draconianas metas estabelecidas pela troika, ainda dominada pela nova Chanceler de Ferro, Angela Merkel. Isso sem falar no contágio de outros países, como Chipre, que informou no dia 25 de junho que solicitaria o resgate pela União Europeia, e a Eslovênia, que fez o mesmo em 6 de julho.

Mas a razão fundamental do fracasso do novo mecanismo em interromper a trajetória destrutiva da crise europeia, ou pelo menos em amenizá-la de forma significativa, residiu no fato dele se ter revelado, na prática, no oposto do acordado.

Com efeito, a União Europeia se aproveitou do dispositivo que determinava a necessidade de uma carta de entendimentos para se viabilizar o resgate do sistema bancário através dos fundos europeus para impor à Espanha, através do seu intermédio, medidas tão draconianas quanto aquelas requeridas pela troika para os programas de ajuste em curso.

Essa surpreendente novidade foi tornada pública pelo primeiro ministro Mariano Rajoy, quando do anúncio, no dia 11 de julho, do quarto “pacote” de medidas de austeridade imposto pelo governo espanhol em apenas sete meses. Embora a UE tenha concordado em conceder um ano adicional para que o país pudesse atingir as suas metas de redução do déficit, exigiu, em contrapartida, a implementação do novo programa de ajustamento. A ironia é que, se, conforme estimado pela auditoria externa realizada nos bancos espanhóis, o montante a ser liberado pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira seria de € 62 bilhões (sujeito a juros de 3% a 4% ao ano), € 3 milhões a menos, portanto, do que o novo “pacote”, de € 65 bilhões. Assim, a emenda ficou pior do que o soneto, pois, além de ser obrigada a implementar duro programa de ajuste adicional e se sujeitar, a Espanha viu aumentar tanto as suas despesas financeiras quanto a sua dívida.

Todavia, a vingança da chanceler germânica terá custos elevados, pois, para começar, certamente conduzirá ao agravamento da crise da Espanha, com impactos negativos sobre o resto da comunidade europeia, inclusive sobre a própria Alemanha, que, aliás, se veria ameaçada de perder seu status de AAA, conforme informou a Moody’s no dia 24 de julho.

Embora o ministro espanhol do Orçamento, Cristobal Montoro, tivesse previsto, no dia 20 do mesmo mês, que o PIB do país cairia somente 1,5% em 2012, as projeções tanto do FMI quanto da própria comunidade europeia, realizadas antes da aprovação do programa de ajuste € 65 bilhões, indicavam uma contração de 1,8%. Aliás, nesse mesmo dia, Peter Doyle, economista do FMI, em carta de demissão, denunciou o FMI por estar suprimindo, deliberadamente, informações relativas ao aprofundamento da crise da dívida soberana da Europa. E com a implementação do último “pacote” e com a desaceleração das economias europeia e mundial, assinalada nos últimos meses, é de se esperar uma um mergulho ainda maior da economia espanhola na recessão, a inviabilizar as próprias metas fiscais impostas ao país.

Além disso, conforme relatório da Ernst & Young, uma das quatro maiores firmas de contabilidade do mundo, divulgado no dia 1º de julho, o balanço dos bancos europeus iria encolher cerca de € 1,6 trilhão em 2012, provocando uma contração de 4,8% dos empréstimos corporativos e de 6,6% do crédito ao consumo. O pior é que, conforme disse o documento, se, “enquanto os efeitos de (…) uma combinação de uma economia em deterioração a crises recorrentes de confiança (…) sobre os balanços dos bancos em 2012 eram preocupantes, o seu impacto real não seria sentido até 2013”, quando se farão sentir a plena força dos defaults. Há, portanto, uma “bomba relógio” planejada para explodir em 2013.

Não por outra razão, pode-se esperar, a menos na hipótese improvável que a liderança europeia mude radicalmente sua estratégia de enfrentamento da crise, que a Eurolândia venha a continuar vivendo em meio ao que promete ser uma sombria década perdida. Tornar-se-á, assim, verdadeiro, pelo menos para o continente europeu, o sombrio vaticínio de Lagarde, diretora gerente do FMI, quando afirmou que o mundo poderia enfrentar uma situação similar aos anos 1930.

A liderança européia, particularmente a chanceler germânica, Angela Merkel, está realmente de parabéns!

 

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