Dizem as leis não escritas em Minas que, sendo mineiro, primeiro Minas. E assim se julgam as pessoas, principalmente aquelas que ocupam cargos públicos de qualquer natureza em Minas. Às vezes perdoam-se deslizes neste amor à terra, mas não se esquecem jamais ou perdoam se alguém colocar interesses pessoais ou de terceiros, acima deste amor infinito com as terras de Minas.
Minas foi pioneira na industrialização do Brasil, tendo o Estado sediado a primeira usina siderúrgica, a primeira usina hidroelétrica e, assim por diante, foi se formando um parque industrial não o maior do Brasil, mas sem dúvida, um dos mais competitivos em qualidade e competitividade. Não apenas constituído por grandes complexos industriais mas, também, por produtos artesanais como a cachaça e o queijo, que viraram marca registrada de Minas. E, dentro deste contexto, a entidade empresarial da indústria, a FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi, inclusive, pioneira na implementação dos clusters no Brasil ou APL (dos quais se destaca o Vale de Eletrônica) assumindo um papel fundamental no contexto econômico social do Estado.
A FIEMG é uma entidade pública no sentido de responsabilidade política e social, além da manter uma função econômica. Aliás, a entidade teve destacada atuação na vida política – tanto estadual quanto nacional, desde sua fundação há 85 anos – sempre de forma ativa e participativa. Portanto, deve-se considerar que os atos lá praticados, não podem ser considerados independentes de sua natureza legal ou que sejam apenas fatos de natureza interna. São sim, na verdade, fatos que afetam o Estado como um todo e cada cidadão mineiro, seja ele da indústria ou não. Pelos menos foi assim que pensavam e agiram dois dos ex-presidentes da entidade, Nansen Araújo e o seu sucessor, José Alencar Gomes da Silva que, inclusive, elegeu-se senador e vice-presidente da República.
Alguns eventos ocorridos nas últimas semanas podem sugerir que os dois atuais ocupantes dos cargos máximos das entidades industriais – nacional e na provincial, tenham trocado pesadas farpas e acusações de parte a parte tendo, ademais, tendo até deixado as salas de reuniões tornando públicas as suas desavenças e divergências pessoais. É lamentável que dois mineiros, ocupantes de importantes cargos de liderança industrial, venham se estranhando num assunto nem tão fundamental para a vida da nossa indústria: permanecer ou não mais tempo na presidência da entidade nacional.
O atual presidente Robson Andrade da CNI – Confederação Nacional da Indústria tem tido atuação direta durante há cerca de 40 anos em entidades empresariais – dos quais oito na presidência da FIEMG – estando atualmente completando doze anos à frente da CNI. Ele deseja agora, por voto de maioria dos seus 27 pares, prorrogar o seu mandato por mais um ano. Cabe mencionar, no entanto, que o estatuto da entidade nacional já havia sido alterado anteriormente, para que ele pudesse ficar adicionalmente, outros quatro anos no cargo. Atualmente, e apesar de não ser mais representante de Minas na CNI, Andrade pretende prorrogar por mais um ano o seu mandato, sob diversas alegações.
Segundo comentários, as justificativas para esta pretensão são variadas, muitas e vão, desde a necessidade de terminar todos os seus projetos (que em doze anos seguidos pode parecer que não foram suficientes), até a justificativa de se evitar a coincidência de uma eleição na entidade em um ano eleitoral brasileiro – e para que ela também não seja contaminada por políticos, como se isso fosse possível de ocorrer no Brasil dos tempos atuais. Mas, o que se comenta mesmo, é que se trata de um jogo, uma artimanha política do atual presidente para esperar que, eventualmente, um candidato de sua preferência pessoal venha a concorrer na eleição no seu estado e se não ganhar, juntaria os votos das federações do Nordeste e, assim, se reelegeria de novo.
Contra esta proposta de mais uma vez se prorrogar o atual mandato, sob a liderança de Flávio Roscoe – presidente da FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais posicionaram-se as Federações das Indústria de São Paulo e do Rio Janeiro, que representam cerca de 75% do PIB – Produto Interno Bruto industrial brasileiro – o que não significa muita coisa, porque aqueles outros que não têm peso no bolo industrial possuem a maioria dos votos que valem nas eleições da entidade. Assim funciona um sistema que movimenta bilhões de reais por ano e que sequer, tem a obrigação – seja em Brasília ou em Minas, de se publicar um balanço patrimonial e econômico de suas atividades. Mas isso não é significativo e pode transparecer não ser importante porque, na verdade, as pessoas lutam por estes cargos pelos benefícios que desfrutam e o prestígio político que oferecem é claro, além dos benefícios a seus negócios não o sendo, muito menos, pelo proveito que seria gerado em prol da própria indústria.
Nesta briga fratricida e lamentável de mineiros, a pergunta que deveria estar permeando – nestas grandes discussões do momento -, não seria estabelecer qual a contribuição, de cada um dos dois combatentes, para que a indústria pudesse se desenvolver e crescer, evitando-se que ela siga rumo ladeira abaixo e continue atingindo um dos menores níveis de participação do PIB brasileiro de sua história? Ou, então, o que os dois contribuíram e fizeram, quando eram amigos, para a melhoria de competitividade, produtividade e da qualidade da indústria mineira e brasileira?
É vergonhoso constatar que, enquanto a indústria encontra-se minguando e deplora-se com uma pandemia que já nos ceifou a vida de mais de 500 mil brasileiros e, também, quando já se nos avizinha uma crise de energia com direito a apagão e redução drástica do já cambaleante ritmo da produção industrial tenhamos, ainda, de conviver com as divergências de dois líderes empresariais mineiros que, simplesmente, resolveram destacar as suas desavenças pessoais publicamente – ao invés de se unirem e fazerem algo de bem para a construção e o desenvolvimento de Minas e do País. A política mineira jamais ofereceu um exemplo desta natureza e mostra a história que, uma das características mais salutares da vida mineira é, exatamente, a compreensão, a busca pelo consenso e pela união.
O motivo desta briga sobre a questão de prorrogação dos mandatos, também realça a tremenda distorção que vivemos no mundo de entidades de classe. De um lado, há um mundo real, de dificuldades para sobreviver, de outro persiste a briga pelo poder. Apesar de uma previsão de crescimento do PIB industrial mineiro, neste ano de 7%, a pergunta que ainda merece ser feita é se esse resultado seria decorrente da conjuntura internacional ou, meramente, de ações provenientes de decisões exclusivas daquelas respectivas entidades da classe?
Na política, sempre soube e aprendi, que bons mineiros sempre evitam ficar de mal e, se brigam, só para Minas ficar bem. E isso por uma certeza: é que, com Minas bem, pode-se fazer um Brasil bem melhor!
*Empresário, ex-Presidente da FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais.
Matéria transcrita do site e da edição 291 – julho/2021, de MercadoComum – Há 28 Formando Opiniões!
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