Investidores, corretores e gerentes de bancos precisam se convencer
de que o novo cenário de juros baixos veio para ficar, especialmente
para quem aplica o dinheiro. Esse posicionamento é indispensável
para que o mercado financeiro brasileiro possa operar menos destravado.
Investidores continuam buscando juros nominais altos no curto prazo.
Gerentes oferecem ativos de curto prazo com taxas de administração
elevadíssimas incompatíveis com o novo cenário de juros baixos. E as
grandes oscilações da Bolsa paulista e demais bolsas mundiais afastam
os pequenos e médios investidores do mercado acionário. Das
captações totais da indústria de fundos, somente 14% é proveniente
dos fundos de ações e demais fundos que possuem renda variável
em suas carteiras.
O governo precisa também deixar de estimular ostensivamente o oferecimento
de crédito através dos bancos públicos, no momento em
que o endividamento das famílias cresce proporcionalmente aos percentuais
da inadimplência (atrasos superiores a 90 dias na quitação
dos empréstimos). Somente assim é possível estimular a formação de
poupança pelas pessoas físicas.
Os estímulos ao consumo e ao endividamento das famílias não favorecem
mais o crescimento econômico do País que encerrou 2012
abaixo de 1% e começa 2013 em queda. O PIB (Produto Interno Bruto)
deste ano antes previsto para 4% já recuou para 3,2% segundo as
projeções do mercado.
Estímulos à poupança e ao menor consumo podem ajudar ao governo
a combater a inflação que inicia 2013 com projeção de quase
5,5% segundo o primeiro boletim Focus do ano, que foi divulgado
pelo Banco Central dia quatro de janeiro. A continuidade do registro
de IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acima da
meta de 4,5% neste ano associado à expectativa de que o BC mantenha
a taxa Selic (juros básicos da economia) no mesmo percentual
de 7,25% ao ano do final de dezembro passado derruba o juro real
brasileiro para 1,82%.
Dólar & ouro
Apesar de ser ainda o quarto maior do mundo, o juro real
brasileiro não estimula mais tanto a entrada do capital especulativo.
E o governo ao “administrar” o câmbio e adotar políticas
“erráticas” em relação aos ingressos do capital externo
não facilita o alcance de superávit no balanço de pagamentos
(todo o movimento com o exterior). O superávit na balança
comercial que terminou 2012 em R$ 19,2 bi, apesar do estímulos
à desvalorização do real frente ao dólar, deve recuar
para US$ 15 bilhões ao final de dezembro, segundo as projeções
do boletim Focus.
O dólar fechou o ano passado com valorização ligeiramente
abaixo de 10% frente ao real, graças a mudanças de rumo na
política de administração do câmbio pelo governo. Temendo
os efeitos da inflação elevada e diante da constatação de que
o câmbio valorizado não estimulou tanto a indústria, a equipe
econômica optou por deixar o dólar abaixo dos R$ 2,10. Para
as pessoas físicas que viajam ao exterior e fazem compras o
estrago foi maior. O dólar turismo ficou próximo dos R$ 2,20
desde o final de novembro/2012 até o início de 2013.
Diante das constantes mudanças de rumo no câmbio, apostar
na valorização do dólar e investir em fundos cambiais
torna-se opção de risco. O máximo que a pessoa deve fazer
é antecipar compras de dólar ou comprar aos poucos para
fazer um preço médio em caso de viagem ao exterior.
O grama do ouro negociado como ativo financeiro acumulou
valorização próxima dos 15% na BM&F/BOVESPA em 2012,
e pelos dois motivos clássicos: alta do metal em Nova York
e valorização do dólar frente ao real. As aplicações de metal
possuem componente de risco. Mesmo que o ouro continue
em alta no exterior, as oscilações do câmbio são difíceis de
serem previstas.
Renda fixa pequena
Diante da possibilidade da manutenção da taxa Selic em
7,25% nos próximos meses ou durante o ano todo, a remuneração
dos CDBs(Certificados de Depósitos Bancários)
e demais ativos de renda fixa está balizada. Esses ativos
devem oferecer rentabilidade anual próxima dos 7,25% dos
CDIs(Certificados de Depósitos Bancários).Esses papéis negociados
entre bancos acompanham de perto a taxa Selic.
Torna-se então difícil ganhar da inflação nessas aplicações, já
que é preciso descontar de sua rentabilidade bruta a pesada
tributação do Imposto de Renda – 22,5% nos seis meses e
20% em 12 meses.
Os detentores de recursos na poupança antiga têm garantidos
os 0,5% ao mês, e aplicadores na poupança segundo
sua rentabilidade vinculada à Selic, um pouco menos.
Só com risco
No mercado financeiro, duas premissas se consolidam. Para
se obter rentabilidade real (acima da inflação) maior é preciso
alongar o prazo das aplicações e o grau de risco.
Nos prazos acima de 24 meses, é possível obter taxas maiores
na renda fixa e com taxação menor do Imposto de Renda.
Quem busca formação de um capital para aposentadoria tem
que ficar cada vez mais atento às taxas de administração e
percentuais pagos em cada depósito nos PGBL e VGBL. É
preciso analisar com grande cuidado as políticas dos gestores
desses fundos e comparar o que cada um deles oferece
nos diversos bancos. A busca de um consultor independente
não deve ser descartada antes de escolher o fundo de pensão
aberto nos bancos.
O índice das 69 ações mais negociada na Bolsa paulista, o
Ibovespa, terminou 2012 com alta acumulada de 7,40%, depois
de muitas oscilações durante o ano. A crise europeia,
o baixo crescimento nos EUA, crescimento menor da China
foram alguns dos balizadores externos. Ações de alguns setores
de baixa capitalização (small caps) e negociadas fora do
Ibovespa bateram recordes de alta. O destaque foram ações
do setor educacional. Kroton ON (holding do Pitágoras) acumulou
alta de 151,5%; e Estácio ON, 134,2%. Os financiamentos
das bolsas de estudo pelo governo asseguraram a
rentabilidade elevada desses estabelecimentos de ensino. O
cenário favorável a esse setor continua neste ano.
A ação PNA da Vale acumulou alta de 14,52% em 2012,
apesar das oscilações dos preços do minério de ferro e dos
problemas fiscais da mineradora. Para este ano, a recuperação
do preço do minério favorece a ação da Vale. No mercado
à vista chinês, a tonelada do minério de ferro atingiu
US$149,80 no final do ano passado, correspondente a alta
de 72% desde setembro. Os tropeços da gestão da Petrobras,
anteriores à atual direção, derrubaram a ação da estatal.
Petrobras PN acumulou perda de 6,9% no ano passado.
A principal ação do maior banco privado, o Itaú Unibanco
também foi penalizada no ano passado, pois subiu apenas
1,69%. Já a do Bradesco acumulou valorização de 17,9%.
Neste início de ano, corretoras formam suas carteiras. Ações
dos setores de consumo Ambev, Pão de Açucar, Natura, Lojas
Renner que apresentaram bom desempenho em 2012
continuam listadas entre as preferidas dos analistas. A corretora
Solidus, de Porto Alegre, lista entre suas preferidas
ações de outros setores como Eternit, Eztec, Fertilizantes
Heringer, Marcopolo, Randon, e também da Vale. Antes de
qualquer aplicação em ações é bom comparar as opiniões
dos analistas e recorrer a consultorias especializadas.
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