Prioridade para a renda fixa
A maior instabilidade institucional, vigente no País desde o início de julho, dificulta a reação da B3, a bolsa de valores de São Paulo, e estimula a maior procura pelos ativos de renda fixa.
O cenario ainda favorece a valorização do dólar frente ao real, fator que colabora para manter elevada a inflação próxima de 12% nos doze meses anteriores a junho.
Somente após a oficialização do resultado das urnas no final do ano, e a divulgação das metas economicas do próximo Presidente da República e de sua equipe de governo, certamente a bolsa de valores tera melhores condições de operar segundo as influências típicas do mercado.
Na primeira quinzena de julho, a B3 recuou e o dólar operou em alta frente ao real devido a uma série de fatores internos e externos. Os embates constantes e asperos do presidente Bolsonaro com o poder judiciario, e representantes da mídia com maior audiência no País, não ajudaram a compor de maneira favoravel o cenario economico interno.
Inflação e juros em alta nos EUA e na maior parte dos países, os problemas da Europa e de todo o mundo com a guerra na Ucrânia atuaram como forças auxiliares na derrocada a bolsa e da desvalorização do real.
Ambiente desfavoravel
O mundo dos negócios passou a operar atonito nas últimas semanas diante do possível agravamento da crise institucional no País.
Fica mais difícil optar-se por investimentos diretos e no mercado de capitais em um País, onde o presidente da República contesta sem provas a Justiça Eleitoral, e onde o mesmo é chamado categoricamente de mentiroso diuturnamente pela mídia com maior audiência, sem que nada aconteça com as partes envolvidas. Recordando o que ocorreu com o Trump nos EUA, essa mesma mídia taxa de perdedor o comportamento do Bolsonaro.
A histeria eleitoral fica mais evidente quando o candidato da oposição é chamado a todo instante de comunista. E o mesmo ocorre com qualquer pessoa que não apoia o candidato Bolsonaro. Os boçais, que taxam de comunistas indiscriminadamente os representantes da imprensa, sequer sabem o que é comunismo.
Situação fiscal
No mundo dos negócios, o que mais preocupa é o agravamento da situação fiscal, o que dificultara ao próximo governo o combate à inflação.
Ao invés de estimular a criação de empregos e o aumento da renda para combater a pobreza, o atual governo adota medidas populistas de curto prazo.
O boletim Focus referente à primeira quinzena de julho apontou para o fim de 2022, taxa Selic de 13,75% ao ano, compatível com inflação (IPCA) abaixo de 8%. Pela mesma pesquisa do Banco Central junto às principais instituições do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) termina o ano na faixa de 1,5% e o dólar comercial na faixa de 5,13%.
Economistas de bancos estimam que o PIB pode alcançar os 2%. Este é o lado positivo do desempenho da economia. No início deste ano, economistas previram crescimento pouco acima de zero ou até abaixo.
A liberação de recursos pelo governo para a população carente, caminhoneiros autonomos e taxistas, inclusive através da oferta de crédito facil, deve manter a economia aquecida neste segundo semestre.
Não a ponto de estimular muito o consumo. Os 600 reais do Auxílio Brasil são importantes para combater a pobreza extrema, mas não são suficientes para a compra da cesta basica oficial, a que serve de base para o calculo de sua variação de preços.
Ganhar da Selic
Na faixa de 13,25% ao ano desde 15 de junho passado, a Selic elevada e com tendência de alta é o principal desafio para se obter ganho no mercado financeiro.
As aplicações em CDBs, fundos de investimentos financeiros e títulos do Tesouro Direto devem oferecer rentabilidade líquida superior ao percentual dos CDis que acompanham de perto a taxa Selic. Um CDB tem que oferecer, por exemplo, rentabilidade nominal superior a 100% da taxa dos CDIs para ficar atrativo, ja que a tributação é pesada nos ativos de renda fixa de curto prazo. Os títulos públicos com rentabilidade atrelada à inflação são temporariamente mais atraentes quando chegam a oferecer a variação do IPCA mais juros de 6% ao ano.
As cadernetas de poupança, que oferecem pouco mais de 6% líquidos ao ano, perdem feio para a inflação e a taxa Selic.
No mercado acionario, o investidor tem que obter também rentabilidade muita acima dos 13,25% ao ano, líquidos, da taxa Selic, para compensar o risco. Deve fazer conta que leve em consideração a valorização dos preços das ações na bolsa e os dividendos pagos pelas companhias.
Ações da Vale, Petrobras, bancos e de companhias exportadoras continuam com bom potencial de alta. Ações de companhias do varejo registram baixas nos últimos 18 meses. Diversas ações da chamada “segunda linha nobre” apresentam também potencial de alta, sempre dependendo de diversos fatores economicos.
Mas, continua valida a recomendação: antes da compra de qualquer ação é recomendavel acompanhar seu desempenho em bolsa no dia a dia e no longo prazo, e buscar aconselhamento técnico.
Deve-se aplicar em bolsa somente um valor da ordem de 20% do total disponível para investimento. Além disso, ações são investimento de risco, e todo conselho técnico sobre a compra é sempre uma projeção a se avaliar com cautela.
*Jornalista especializado em economia e finanças
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