Por: Fernando Soares Rodrigues
No segundo mês de 2014, ficaram mais consolidadas algumas tendências importantes do desempenho anual da economia, com implicações nas análises sobre investimentos no mercado financeiro. Previsões sobre inflação, em patamar bem acima da meta de 4,5%, juros altos, mas sem exagero, crescimento modesto do Produto Interno Bruto (PIB) e real desvalorização requerem análises cuidadosas e conservadores para quem investe o dinheiro. Essa postura abrange desde os que aplicam na renda fixa – da tradicional caderneta de poupança aos fundos de investimentos financeiros, títulos públicos do Tesouro Direto e CDBs – Certificados de Depósitos Bancários – às ações, ouro, dólar em espécie e imóveis, ativos considerados como reserva de valor.
Os participantes do mercado não estão mais tão confiantes no recurso a contínuas altas da taxa Selic, os juros básicos da economia, pelo Banco Central (BC) para conter a disparada da inflação, que apresentou sinais de declínio em janeiro passado. O reajuste mais expressivo da taxa Selic não faria tanto efeito na contenção da alta generalizada dos preços diante da falta de condições do governo em implantar uma política fiscal contracionista em ano eleitoral.
Além disso, o juro real anual de 4,7% (taxa Selic menos inflação projetada para os próximos doze meses) atingiu o percentual considerado ideal pelos analistas para conter a inflação sem penalizar o crescimento econômico fraco previsto para este ano – 1,90%. O boletim Focus do último dia sete de fevereiro projetava crescimento igualmente modesto para o próximo ano, na faixa de 2,20%.
Cenário
Caso se confirme a tendência de a inflação anualizada ficar mais próxima dos 5,5%, o boletim distribuído pelo BC com as projeções das principais instituições financeiras do mercado terá que reajustar para baixo as projeções anuais da inflação (de 5,8%) e da taxa Selic em 11,25%. Algumas instituições chegaram a projetar a Selic em 12% ao final deste ano. Os preços menores no mercado internacional das principais commodities exportadas pelo Brasil, consumo em expansão mais limitado no mercado interno e também limites no crescimento do crédito para as compras da classe média emergente, e o real, com tendência a desvalorização perante o dólar, são alguns dos fatores macro que influenciam a economia.
A partir do meio do ano, a Copa Mundial de Futebol, com as possíveis “manifestações populares absolutamente pacíficas, legítimas e democráticas”, que terminam com as depredações de patrimônio por vândalos, acabarão esfriando a economia durante um mês ou mais. Como dosar bem a atuação da polícia durante da Copa do Mundo será o grande desafio do governo com reflexos nas eleições. Neste início de ano, mesmo com as restrições que os participantes do mercado opõem a muitas medidas econômicas e à falta delas (controle dos gastos públicos, atrasos em obras públicas e demora nas concessões), a presidente Dilma Roussef lidera as apostas do mercado financeiro.
Em seguida, os debates que precedem as eleições e as apurações não estimulam a retomada da produção. Após a Copa e as eleições, uma série de obras públicas chegará ao término, o que esfria o mercado de trabalho e os negócios em geral.
No cenário externo, a previsão de crescimento um pouco menor na China, acima de 7%, e a redução progressiva da injeção de recursos na economia dos EUA através das compras de títulos públicos valoriza o dólar perante as moedas dos principais emergentes. O superávit da balança comercial brasileira ameaça terminar 2014 na faixa modesta de US$ 8 bilhões. A crise argentina reduz as exportações brasileiras para o país portenho e terá impacto negativo no crescimento do PIB brasileiro.
Vencer inflação
Com a taxa Selic em patamar mais elevado, a remuneração de cerca de 0,6% líquida ao mês das cadernetas de poupança fica menos atraente. Os fundos DI, os que acompanham a alta dos juros, podem oferecer maior rentabilidade, desde que seus gestores cobrem taxa de administração inferior a 1% ao ano.
Papéis privados e títulos públicos pós-fixados podem igualmente vencer a inflação. Nos títulos públicos do Tesouro Direto é preciso ficar atento, pois a rentabilidade elevada só é paga a quem ficar com o dinheiro aplicado até o vencimento. Quem resgata antes pode perder rentabilidade como ocorreu no ano passado. Devido a saques elevados de investidores estrangeiros, os valores desses títulos perderam valor em determinados períodos, na chamada marcação a mercado.
O dólar no patamar de R$ 2,40 em fevereiro não oferece boas perspectivas de rentabilidade, pois a maioria dos analistas (boletim Focus) acredita que a moeda norte-americana termine o ano frente ao real próximo de R$ 2,47. Existem os analistas que projetam o dólar a R$ 2,60 ao final de 2014. A compra da moeda norte-americana, em espécie ou em cartões, só é aconselhável para quem tem viagens programadas.
Aplicar em ouro negociado como ativo financeiro na BM&F/Bovespa é uma opção de risco. O dólar em alta ajuda a elevar a rentabilidade do dólar, mas no mercado internacional não há consenso sobre a reação de seu valor que já se aproximou do piso de US$ 1.200,00 a onça-troy (31,1 gramas). Há cerca de dois anos, chegou-se a cogitar que a onça-troy de ouro poderia romper a barreira dos US$ 2.000,00 diante das incertezas sobre o crescimento dos EUA e Europa. Após ameaçar chegar perto do teto de US$ 1.700,00 a onça-troy, o valor do metal recuou.
No mercado acionário existe o consenso de que a maioria das ações está muito barata. Muitos aconselham a compra de ações de companhias imunes à previsão de baixo crescimento econômico e com bom potencial de resultados. O excesso de conservadorismo na compra de ações não faz mal a ninguém. Para as ações, deve ser direcionado apenas entre 10% e 20% do total do capital disponível para aplicações no mercado financeiro, e sempre com o aconselhamento de analistas competentes e confiáveis. Quem quiser se arriscar em ações no curtíssimo e curto prazo pode alcançar bons resultados e também grandes perdas.
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