Crescimento do PIB brasileiro 2011/2024: devagar, quase parando ou andando para trás

Mesmo podendo conquistar a 8ª posição no ranking das maiores economias neste ano, o PIB brasileiro ainda será menor do que de 2011

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

O FMI – Fundo Monetário Internacional divulgou, no dia 16 de abril, o estudo intitulado World Economic Outlook, trazendo as atualizações do desempenho anterior e as projeções sobre a economia mundial até o ano de 2029.

Nesse sentido, indica o FMI que o PIB-Produto Interno Bruto global deverá alcançar o valor de US$ 109,53 trilhões ao final de 2024.  Desse total, US$ 63,81 trilhões (58,3%) serão oriundos dos países desenvolvidos e US$ 45,7 trilhões (41,7%) provenientes dos países considerados emergentes e em desenvolvimento, categoria esta da qual o Brasil faz parte.

Tomando-se por base o PIB de 2011 em valores correntes, as projeções para 2024 indicam que a economia global deverá registrar uma expansão acumulada de 48,3% no período.  Já as economias emergentes e em desenvolvimento deverão contabilizar um crescimento de 68,5%.  Em contraste, o desempenho da economia brasileira poderá apurar uma retração de 10,8% durante o mesmo período em referência.

A participação relativa da economia brasileira na global despenca no período, saltando de 3,54% no total em 2011, para 2,14% em 2024.

No período em análise – de 2011 a 2024, em todos os anos e de forma contínua, o PIB brasileiro registra crescimento anual inferior à média global – ou seja, nestes 14 anos seguidos em nenhum deles o desempenho da economia brasileira conseguiu superar a média global verificada.

Relativamente à Renda Per Capita brasileira há uma nítida deterioração e perda quando comparada à média global em valores correntes, retraindo a mesma de US$ 13.238 em 2011 para US$ 10.063 em 2023 – constatando-se uma queda de 24,0% – em completo contraste a uma expansão de 24,9% verificada em relação à média global.

De acordo com o estudo do FMI, em 2024 o Brasil deverá conquistar uma posição a mais no ranking das maiores economias, passando a ocupar a 8ª colocação – apenas um pouco à frente da Itália e detendo 2,13% de participação relativa no PIB global. Os Estados Unidos, com um PIB US$ 28,78 trilhões superior a ¼ do total mundial, continua liderando – sendo seguido pela China – US$ 18,5 trilhões e 16,9% de participação relativa do total mundial.

As projeções do FMI constantes do estudo World Economic Outlook, divulgado em abril último, são pouco animadoras em relação ao desempenho da economia brasileira, que deverá continuará apresentando resultados inferiores à média de expansão do PIB global até 2029 – último ano previsto naquele documento.

A instituição revisou a perspectiva para o crescimento do Brasil em 2024 – de 1,7% para 2,2%. Esta elevação permitirá, caso venha a se verificar, que o Brasil suba uma posição no ranking das economias globais, passando para o 8º lugar. Segundo o estudo elaborado pelo FMI, o desempenho do PIB brasileiro reflete “a consolidação da política fiscal e os efeitos da política monetária restritiva”.

Cabe salientar que as referidas projeções se encontram alinhadas com as pesquisas apuradas junto ao mercado brasileiro pelo Banco Central, através do Relatório Focus que, também, é apresentado a seguir – juntamente com a análise feita pelo FMI durante a apresentação do estudo e em que a instituição afirma que “contrariando as expectativas pessimistas, a economia global segue mostrando uma notável resiliência, com um crescimento firme, embora desigual, e com a inflação desacelerando rapidamente.

O FMI também melhorou sua projeção para a economia norte-americana para este ano, aumentando de 2,1% para 2,7%, o que eleva a melhora no crescimento global, que sobe de 3,1% para 3,2%. Mas alertou que boa parte dessa expansão deriva de um elevado nível de endividamento do país.

A necessidade de dinamizarmos o País, de insuflarmos na alma brasileira a ambição da grandeza.

Concluo esta matéria com trecho de um discurso do presidente Juscelino Kubitschek que considero absolutamente atual e bastante adequado para a situação econômica com que passa o Brasil atual.  Foi extraído do livro intitulado “JK: Doutor em Desenvolvimento – Um Mineiro à Frente de seu Tempo” de minha autoria e publicado por MercadoComum no final do ano passado.

“Falo como um homem que tomou contato com esta imensa Nação, que a percorreu em todas as suas direções, que auscultou a opinião pública das capitais e dos lugares mais humildes, esquecidos e modestos; que palmilhou sítios ínvios e recolheu um anseio profundo, por vezes rudemente manifestado, quase direi informulado, em favor de um Brasil livre dos obstáculos que impedem a sua marcha para o futuro. Se não me tenho recusado a propagar a ideia do desenvolvimento e a emprestar-lhe toda a autoridade do meu cargo, é porque me sinto intérprete autorizado dessa aspiração permanente, é porque toquei nessa poderosa matéria-prima que é o Brasil, não o Brasil das grandes cidades, já configurado, mas o Brasil ainda irredento, ainda preso a um injusto cativeiro de pobreza.

Reputo mais importante do que qualquer outra medida de caráter prático esta, a de elucidar a opinião pública sobre a necessidade de dinamizarmos o país, de insuflarmos na alma brasileira a ambição da grandeza.

Para que logremos continuar com êxito a batalha do desenvolvimento, torna-se imprescindível desejar a colaboração estrangeira e incrementar o intercâmbio com o exterior. Nosso primeiro dever, no entanto, consiste em nos pormos, nós próprios, a lutar pelos nossos interesses, confiando a nós mesmos as tarefas que reputamos essenciais e redentoras de nossa economia. O destino do país depende — sem falarmos dos desígnios da Providência — da soma de dedicação e trabalho dos habitantes desta terra imensa e rica em possibilidades.

Se quisermos ver reduzida a distância, infelizmente excessiva, que nos separa dos países desenvolvidos não só teremos de madrugar no trabalho, mas ainda de empregar, com justo e compensador rendimento, as energias, tanta vez dispersas e esbanjadas a esmo.

Contamos com reservas de inteligência e capacidade de trabalho para uma empreitada como esta de acelerar o ritmo do nosso crescimento; manda, porém, a justiça reconhecermos as dificuldades do homem brasileiro do interior para que o seu trabalho tenha o rendimento requerido. Não seria demais evocar a solidão em que viveram, até hoje, milhões de patrícios nossos, sem vias de comunicação, sem recursos técnicos, sem saúde, sem instrução e até sem alimentação suficiente. Se alinhássemos os índices de mortalidade precoce, se vos apresentássemos o balanço de tanta pobreza acumulada, só vos restaria admirar o valor, o patriotismo, a coragem com que, enfrentando condições contrárias, se afirmou a civilização brasileira”.

A economia global permanece resiliente apesar do crescimento desigual e dos desafios futuros 

Os governantes devem dar prioridade a medidas no sentido de uma maior resiliência econômica, tais como o fortalecimento das finanças públicas e a revitalização das perspectivas de crescimento económico

Pierre-Olivier Gourinchas

Economista-Chefe do FMI – Fundo Monetário Internacional – 16.04.24

Apesar das previsões sombrias, a economia global permanece notavelmente resiliente, com um crescimento constante e uma inflação a abrandar quase tão rapidamente como subiu. A jornada tem sido agitada, começando com perturbações na cadeia de abastecimento no rescaldo da pandemia, uma crise energética e alimentar desencadeada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, um aumento considerável da inflação, seguido por um aperto da política monetária globalmente sincronizado.

O crescimento global atingiu o seu ponto mais baixo no final de 2022, em 2,3 por cento, pouco depois de a inflação global mediana ter atingido o pico de 9,4 por cento. De acordo com as nossas últimas projeções do World Economic Outlook , o crescimento neste ano e no próximo manter-se-á estável em 3,2%, com a inflação global mediana a diminuir de 2,8% no final de 2024 para 2,4% no final de 2025. A maioria dos indicadores continua a apontar para uma pouso suave.

Prevemos também menos cicatrizes económicas decorrentes das crises dos últimos quatro anos, embora as estimativas variem entre países. A economia dos EUA já ultrapassou a tendência pré-pandémica. Mas estimamos agora que haverá mais cicatrizes para os países em desenvolvimento de baixo rendimento, muitos dos quais ainda lutam para virar a página da pandemia e da crise do custo de vida.

 

O crescimento resiliente e a rápida desinflação apontam para uma evolução favorável da oferta, incluindo a atenuação dos choques nos preços da energia e uma recuperação impressionante da oferta de trabalho, apoiada pela forte imigração em muitas economias avançadas. As medidas de política monetária ajudaram a ancorar as expectativas de inflação, mesmo que a sua transmissão tenha sido mais moderada , à medida que as hipotecas de taxa fixa se tornaram mais predominantes.

Apesar destes desenvolvimentos bem-vindos, subsistem numerosos desafios e são necessárias ações decisivas.

Os riscos de inflação permanecem

Trazer a inflação de volta à meta deve continuar a ser a prioridade. Embora as tendências da inflação sejam encorajadoras, ainda não chegámos lá. De forma algo preocupante, o progresso em direção às metas de inflação estagnou um pouco desde o início do ano. Este poderá ser um revés temporário, mas há razões para permanecer vigilante. A maior parte das boas notícias sobre a inflação veio da descida dos preços da energia e da inflação dos bens. Este último foi ajudado pela diminuição das fricções na cadeia de abastecimento, bem como pela descida dos preços de exportação chineses. Mas os preços do petróleo têm subido recentemente, em parte devido a tensões geopolíticas e a inflação nos serviços permanece teimosamente elevada. Outras restrições comerciais às exportações chinesas também poderão aumentar a inflação dos bens.

As divergências econômicas aumentam

A resiliente economia global também mascara divergências acentuadas entre os países.

 

O forte desempenho recente dos Estados Unidos reflete um crescimento robusto da produtividade e do emprego, mas também uma forte procura numa economia que continua sobreaquecida. Isto exige uma abordagem cautelosa e gradual à flexibilização por parte da Reserva Federal. A orientação orçamental, desalinhada com a sustentabilidade orçamental a longo prazo, é particularmente preocupante. Levanta riscos de curto prazo para o processo de desinflação, bem como riscos de estabilidade fiscal e financeira de longo prazo para a economia global. Algo terá que dar.

O crescimento na área do euro irá recuperar, mas a partir de níveis muito baixos, à medida que os choques passados ​​e a política monetária restritiva pesarem sobre a atividade. A continuação do elevado crescimento salarial e a persistente inflação nos serviços poderão atrasar o regresso da inflação ao objetivo. No entanto, ao contrário dos Estados Unidos, há poucos indícios de sobreaquecimento e o Banco Central Europeu terá de calibrar cuidadosamente o pivô no sentido da flexibilização monetária para evitar uma inflação abaixo do esperado. Embora os mercados de trabalho pareçam fortes, essa força poderia revelar-se ilusória se as empresas europeias estivessem a acumular mão-de-obra em antecipação a uma recuperação da atividade que não se materializa. 

A economia da China continua afetada pela recessão no seu setor imobiliário. Os booms e as quedas do crédito nunca se resolvem rapidamente, e este não é exceção. A procura interna permanecerá fraca, a menos que medidas fortes abordem a causa profunda. Com a procura interna reprimida, os excedentes externos poderão muito bem aumentar. O risco é que isto exacerbe ainda mais as tensões comerciais num ambiente geopolítico já tenso.

Muitas outras grandes economias de mercados emergentes apresentam um forte desempenho, beneficiando por vezes de uma reconfiguração das cadeias de abastecimento globais e do aumento das tensões comerciais entre a China e os EUA. A pegada destes países na economia global está a aumentar.

Caminhos da política

No futuro, os governantes devem dar prioridade a medidas que ajudem a preservar ou mesmo a aumentar a resiliência da economia global.

A primeira dessas prioridades é reconstruir as reservas orçamentais. Mesmo com a diminuição da inflação, as taxas de juro reais permanecem elevadas e a dinâmica da dívida soberana tornou-se menos favorável . Consolidações fiscais credíveis podem ajudar a reduzir os custos de financiamento, melhorar a margem fiscal e a estabilidade financeira . Infelizmente, os planos fiscais até agora são insuficientes e podem ser ainda mais prejudicados, dado o número recorde de eleições este ano.

As consolidações fiscais nunca são fáceis  , mas é melhor não esperar até que os mercados ditem as suas condições. A abordagem correta é começar agora, de forma gradual e credível. Assim que a inflação estiver sob controlo, consolidações plurianuais credíveis ajudarão a preparar o caminho para uma maior flexibilização da política monetária. O bem-sucedido episódio de consolidação fiscal e acomodação monetária dos EUA em 1993 vem à mente como um exemplo a ser seguido.

A segunda prioridade consiste em inverter o declínio das perspectivas de crescimento a médio prazo. Parte desse declínio advém do aumento da má alocação de capital e trabalho  dentro de sectores e países. Facilitar uma alocação de recursos mais rápida e eficiente impulsionará o crescimento. Para os países de baixo rendimento, as reformas estruturais para promover o investimento direto interno e estrangeiro e para reforçar a mobilização de recursos internos ajudarão a reduzir os custos de financiamento e a reduzir as necessidades de financiamento. Estes países também devem melhorar o capital humano das suas grandes populações jovens, especialmente porque o resto do mundo está a envelhecer rapidamente.

A inteligência artificial também dá esperança de aumentar a produtividade. Poderá fazê-lo, mas o potencial para perturbações graves nos mercados laborais e financeiros é elevado. Aproveitar o potencial da IA  ​​para todos exigirá que os países melhorem as suas infraestruturas digitais, invistam no capital humano e coordenem as regras de trânsito globais.

As perspectivas de crescimento a médio prazo também são prejudicadas pela crescente fragmentação geoeconômica e pelo aumento de medidas restritivas ao comércio e de política industrial. Como resultado, as ligações comerciais já estão a mudar, com potenciais perdas de eficiência. O efeito líquido poderá muito bem ser tornar a economia global menos, e não mais, resiliente. Mas o dano mais amplo é para a cooperação global. Ainda é tempo de reverter o curso.

Terceiro, uma grande conquista dos últimos anos foi o fortalecimento dos quadros de política monetária, fiscal e financeira, especialmente para as economias de mercado emergentes. Isto ajudou a tornar o sistema financeiro global  mais resiliente e a evitar um ressurgimento permanente da inflação. No futuro, é essencial preservar essas melhorias. Isso inclui proteger a independência arduamente conquistada dos bancos centrais.

 

Por último, a transição ecológica exige grandes investimentos. A redução das emissões é compatível com o crescimento e a atividade tornou-se muito menos intensiva em emissões nas últimas décadas. Mas as emissões continuam a aumentar. Muito mais precisa ser feito e feito rapidamente. O investimento verde expandiu-se a um ritmo saudável nas economias avançadas e na China. O maior esforço deve agora ser feito por outros mercados emergentes e economias em desenvolvimento, que devem aumentar enormemente o crescimento do seu investimento verde e reduzir o seu investimento em combustíveis fósseis. Isto exigirá a transferência de tecnologia por parte de outras economias avançadas e da China, bem como um financiamento público e privado substancial.

Nestas questões, bem como em muitas outras, os quadros multilaterais e a cooperação continuam a ser essenciais para o progresso.

 

*Carlos Alberto Teixeira de Oliveira é Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis, com vários cursos de pós graduação no Brasil e exterior. Ex-Executive Vice-Presidente e CEO do Safra National Bank of New York, em Nova Iorque, Estados Unidos. Ex-Presidente do BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais; Foi Secretário de Planejamento e Coordenação Geral e  de Comércio, Indústria e Mineração; e de Minas e Energia do Governo de Minas Gerais; Também foi Diretor-Geral (Reitor) do Centro Universitário Estácio de Sá de Belo Horizonte; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Atualmente é Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Presidente da MinasPart Desenvolvimento Empresarial e Econômico, Ltda. Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum. Autor de vários livros, como a coletânea intitulada “Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento – Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI”.

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