Em tom otimista, o FMI – Fundo Monetário Internacional divulgou, no dia 6 de abril último, as suas projeções para o desempenho da economia mundial até o ano de 2026 e estima que o PIB – Produto Interno Bruto mundial deve crescer cerca de 6,0% já neste ano, superando a forte retração de 3,3% registrada no ano passado. De acordo com a instituição, no entanto, a economia brasileira deverá destoar do ritmo da internacional e apresentar expansão neste ano de apenas 3,7% – após uma colossal queda de 4,1% ocorrida em 2020, considerada uma das maiores de sua história.
Para o FMI, o ritmo de crescimento da economia estará diretamente atrelado ao ritmo da vacinação contra a covid-19 e os indicativos evidenciam que os países desenvolvidos vão se recuperar mais aceleradamente do que os emergentes evitando, assim, danos de longo prazo às suas economias devido à maior capacidade de ampliação dos seus gastos públicos.
A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, afirmou que a reação rápida dos países que injetaram US$ 16 trilhões na forma de apoio fiscal desde o ano passado, impediram que a crise tivesse um desfecho muito pior do que se esperava inicialmente. Ao final desta matéria estamos publicando as notas divulgadas pelo FMI.
De acordo com as estatísticas também divulgadas pelo FMI através do documento intitulado World Economic Outlook – April 2021, pode-se fazer o comparativo do desempenho da economia brasileira em relação à economia mundial e uma das principais constatações foi a de que o país caiu três posições no ranking das maiores economias principais constatações foi a de que o país caiu três posições no ranking das maiores economias.
A década de 2011 a 2020 ficará registrada como uma tragédia, e será retratada a pior da história econômica brasileira e 2020 como um ano que a economia brasileira também registrou o seu terceiro pior desempenho, contabilizando uma retração de 4,06%. De acordo com os dados do FMI, em dólares norte-americanos a economia brasileira sofreu, no ano passado, uma perda na produção equivalente a US$ 443,03 bilhões – o que equivale a cerca de ¼ do PIB do ano anterior.
RETRAÇÕES DA ECONOMIA BRASILEIRA
Redução Ano Presidente em exercício
Anual do PIB – %
0,48 1902 Campos Sales
3,20 1908 Afonso Pena
1,25 1914 Hermes da Fonseca
2,01 1918 Wenceslau Brás
2,10 1930 Washington Luis
3,30 1931 Getúlio Vargas
1,00 1940 Getúlio Vargas
2,70 1942 Getúlio Vargas
4,25 1981 João Figueiredo
2,93 1983 João Figueiredo
0,06 1988 José Sarney
4,35 1990 Fernando Collor
0,47 1992 Fernando Collor
0,13 2009 Lula
3,55 2015 Dilma Rousseff
3,46 2016 Dilma Rousseff/Michel Temer
4,06 2020 Jair Bolsonaro
Fonte: IpeaData/IBGE/MinasPart Desenvolvimento
Como ficou o desempenho da economia brasileira em relação ao resultado global durante estas duas décadas iniciais deste século XXI?
Evidentemente que o Brasil não fica bem na foto, comprovando que a máquina do crescimento econômico do país está enferrujada ou quebrada e que desaprendemos o que significa crescer a economia de forma vigorosa, consistente, contínua e sustentada.
Apresentamos, a seguir, o resultado do desempenho da economia brasileira comparativamente a outros países e blocos, já considerando os números divulgados pelo FMI desta 2ª década do século XXI.
1 – Considerando-se a primeira década do século XXI – de 2001 a 2010, a economia mundial experimentou uma expansão média anual de 3,93% e de 46,82% no acumulado do período. A economia brasileira obteve desempenho inferior à média mundial, tendo tido uma expansão média anual de 3,73% e, no acumulado, de 43,91% no período.
2 – Enquanto a taxa média anual de expansão do PIB mundial atingiu 2,84% nestes últimos dez anos (década de 2011/2020) – equivalendo a uma taxa acumulada de 32,07%, o PIB brasileiro contabilizou uma inexpressiva expansão média anual de apenas 0,30% e, no acumulado no período, registra uma expansão 2,02%. Já os países considerados emergentes e em desenvolvimento – categoria da qual o Brasil integra, a expansão média foi de 4,11% ao ano e atingiu, no acumulado do referido período, um crescimento de 49,31%.
A segunda década do século XXI– 2011/2020 fica registrada como a pior da história econômica brasileira, cujo desempenho pode ser considerado absolutamente deplorável para um país que deveria adotar como meta principal o desenvolvimento e o crescimento econômico vigoroso, consistente, contínuo e sustentável. Em todos esses anos, o PIB – Produto Interno Bruto contabilizou níveis inferiores de expansão inferiores e alcançou apenas 10% da expansão média verificada mundialmente durante o referido período.
3 – Somando-se o resultado das duas décadas iniciais do século XXI, a economia mundial apresenta uma expansão média anual de 3,39%; a brasileira 2,02% e os países emergentes 5,17%. No acumulado desse período, a economia mundial contabilizará uma expansão de 93,91%. No mesmo período a economia brasileira registra um crescimento acumulado de apenas 43,91% – enquanto os países emergentes e em desenvolvimento apresentaram um aumento no PIB de 172,85% – cabendo destacar que a China cresceu 426,69% e a Índia 237,82% durante o mesmo período
Nos 20 anos iniciais deste século XXI, em apenas cinco deles – 2002, 2004, 2007, 2008 e 2010 a economia brasileira registrou desempenho superior à média mundial e nesta década de 2011/2020, em todos os anos a expansão verificada do PIB – Produto Interno Bruto brasileiro foi inferior à média mundial. E, pelas projeções do FMI – até 2026 – último ano em que apresenta análises, o Brasil continuará colhendo desempenho muito aquém da média mundial.
PROJEÇÕES DO FMI DE CRESCIMENTO
ANUAL DO PIB – 2021/2026 – Em %
Ano Brasil Mundo
2021 3,655 6,026
2022 2,565 4,415
2023 2,141 3,513
2024 2,015 3,374
2025 2,015 3,335
2026 2,015 3,296
Fonte: FMI/World Economic Outlook April/2021-
MinasPart Desenvolvimento
Saliente-se que, no início do ano passado, o governo brasileiro trabalhava com uma expectativa de crescimento do PIB de 2,5% e encerramos o ano de 2020 com um declínio de 4,1% – o que significa um tombo de 6,6% nas previsões iniciais. É importante ainda destacar que o governo brasileiro gastou cerca de 8% do PIB em 2020 em medidas emergenciais de combate à pandemia do Coronavírus – o que indica que a retração da economia nacional poderia ter atingido então 15% do PIB.
A década dos anos 2010 também ficará marcada por ter se constituído na mais longa crise econômica da história do país – o que redundará ainda na maior queda da renda per capita dos brasileiros já ocorrida no período e que deverá alcançar 8,62%. Há de se destacar, ademais, que a atual crise econômica – praticamente iniciada a partir de 2014 quando se registrou uma queda do PIB per capita anual de 0,36% diferencia-se significativamente de todas as demais, por não ter sido provocada por questões exógenas, como a depressão de 1929, a crise do petróleo e a financeira de 2008, além de problemas cambiais e decorrentes da dívida externa do país.
O crescimento econômico vigoroso deve deixar de ser apenas uma casualidade, uma questão episódica, uma efemeridade, um acontecimento meramente fortuito para se transformar, efetivamente, na grande meta econômica nacional, permeando a convolação do País em uma economia madura e desenvolvida. Nesta direção já tivemos, antes, vários exemplos de sucesso e que poderiam nos servir de inspiração, como foi o caso do Plano de Metas, implementado durante o Governo JK.
País que não cresce é país condenado à pobreza e ao subdesenvolvimento e, por isso, torna-se imprescindível o estabelecimento de uma “Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Nacional” – em que a transformação do Brasil em país desenvolvido seja o grande objetivo.
Ao longo destas últimas décadas a busca obsessiva pela estabilidade econômica tem nos ofuscado todas as possibilidades de colocar o desenvolvimento como a nossa grande, prioritária e fundamental meta nacional.
O País precisa se reconciliar com o desenvolvimento e retomar o crescimento econômico vigoroso. Temos de buscar nos transformar em país desenvolvido. Esta é a saída, esta a solução!
Os piores inimigos da democracia são a fome, a miséria, o desemprego e a desesperança e país que não cresce é país condenado ao subdesenvolvimento e às desigualdades sociais. É, sem dúvida, país sem futuro!
Como o Papa Francisco tem pregado, devemos ser revolucionários. Entre as revoluções que tanto necessitamos, deve-se considerar imprescindíveis a política, a educacional, a jurídica, a urbana, a infraestrutural, a tributária, a trabalhista, a de combate ao desperdício e à corrupção, a de desburocratização e de simplificação dos processos e procedimentos, com o resgate do planejamento estratégico de longo prazo – além da implantação de um Plano de Metas Nacional, a exemplo do ocorrido durante o governo JK. Requer-se ousadia nas propostas, que devem ser criativas, inovativas e exequíveis.
Também, não podemos compartilhar da onda de pessimismo sobre a economia nacional, como se ela estivesse hoje destruída e, a nossa terra, arrasada.
Os seus problemas e entraves atuais – mesmo considerados graves e explosivos – devem ser encarados como passageiros, não duradouros. Uma das mais destacadas características do Brasil tem sido a sua enorme capacidade de superar dificuldades e de contornar crises, de maneira ágil e rápida.
O desenvolvimento tem de voltar a ser a trilha natural do Brasil rumo ao futuro, como já afirmava Juscelino Kubitschek há mais de 70 anos.
A busca de um futuro melhor para o Brasil passa, inexoravelmente, pela urgente decisão de deixarmos de ser emergentes para nos convolar em país desenvolvido. Esta precisa ser a nossa causa e missão maiores, imprescindíveis e inadiáveis por mais tempo de uma segura determinação nesse sentido.
O crescimento econômico vigoroso deve deixar de ser apenas uma casualidade, uma questão episódica, uma efemeridade, um acontecimento meramente fortuito para se transformar, efetivamente, na grande meta econômica nacional, permeando a convolação do País em uma economia madura e desenvolvida.
Nesta direção já tivemos, antes, vários exemplos bem sucedidos e que poderiam nos servir de inspiração, como foi o caso do Plano de Metas, durante o Governo JK.
Há de se considerar, de outro lado, que o grande objetivo política brasileira não pode estar mais focado na discussão de temas meramente à esquerda, à direita ou para trás. Exige-se avançar, ir em frente, assumir posturas pragmáticas, modernas e factíveis.
Requer-se despolitizar e desideologizar o debate econômico e voltar a trazer em seu bojo as discussões essenciais de uma política nacional de desenvolvimento de longo prazo que nos indiquem os caminhos de onde ir, como e quando chegar a um futuro mais justo e progressista. É preciso recuperar a esperança e resgatar o otimismo.
Neste momento em que estamos cabisbaixos e apreensivos por esta crise econômica que também é política, moral e ética, que ainda desconhecemos o seu desfecho e por isso também nos impossibilita de vislumbrar o futuro que temos em mãos para ser construído – deve partir um brado de fé e de esperança por medidas novas, ousadas, corajosas e criativas para a realização de efetivas mudanças rumo a Brasil melhor.
O maior objetivo brasileiro tem de ser o de nos transformar em Nação Desenvolvida e, para isso, não é necessário reinventar a roda. Basta aqui aplicar os exemplos e conceitos daquilo que dá certo e funciona nos desenvolvidos. Isso se chama “benchmarking”. Urge e torna-se necessária a convocação de uma Constituinte Revisional Exclusiva para se redefinir direitos e obrigações, entre os quais os direitos e abusos adquiridos, além das inúmeras chancelas existentes que atrapalham o desempenho econômico e a nossa produtividade, nos empurrando à desordem e ao atraso.
Sem uma nova Constituição será basicamente impossível romper com as inúmeras barreiras que tanto obstaculizam a atividade econômica e entravam o equilíbrio social, como já afirmava há 28 anos, com a sua grande lucidez, o ex-ministro Mário Henrique Simonsen:
*Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais. Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico e Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum.
Como administrar recuperações divergentes
A pandemia de Covid-19 já completou um ano e a comunidade internacional ainda enfrenta pressões socioeconômicas extremas, com um número crescente de vidas perdidas e milhões de pessoas ainda desempregadas. Contudo, apesar da elevada incerteza sobre a trajetória da pandemia, é possível vislumbrar sinais cada vez mais claros de uma saída desta crise sanitária e econômica. Graças à engenhosidade da comunidade científica, centenas de milhões de pessoas estão sendo vacinadas, o que deve impulsionar a recuperação de muitos países ainda este ano. As economias continuam também a se adaptar a novas maneiras de trabalhar apesar da mobilidade reduzida, o que significa uma retomada mais robusta do que o previsto em várias regiões. As perspectivas mais positivas decorrem também do apoio fiscal adicional aplicado nas grandes economias, principalmente nos Estados Unidos.
Projetamos agora uma recuperação mais robusta da economia mundial em relação a nossas previsões de janeiro, com crescimento de 6% em 2021 (uma melhoria de 0,5 ponto percentual) e 4,4% em 2022 (uma melhoria de 0,2 ponto percentual), após uma contração histórica estimada em -3,3% em 2020.
No entanto, o futuro ainda reserva desafios colossais. A pandemia ainda não foi vencida e o número de infecções está aumentando rapidamente em muitos países. Verifica-se também uma perigosa divergência na recuperação entre e dentro dos países: o desempenho tem sido pior naqueles onde a distribuição de vacinas é mais lenta, a margem para a aplicação de políticas é mais reduzida e a economia é mais dependente do turismo.
A revisão em alta das previsões de crescimento mundial em 2021 e 2022 resulta principalmente da melhoria das perspectivas nas economias avançadas, em especial os Estados Unidos (alta de 1,3 pontos percentuais). O país deve crescer 6,4% este ano e estima-se que será a única grande economia que em 2022 registrará um crescimento do PIB superior às previsões do cenário sem pandemia. Outras economias avançadas, como a área do euro, também devem se recuperar este ano, mas a um ritmo mais lento. Entre as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, projeta-se que a China cresça 8,4% este ano. A economia chinesa já havia retornado aos níveis do PIB pré-pandêmico em 2020, mas espera-se que muitos outros países só o façam em 2023.
Desafios colossais à frente
Essas trajetórias divergentes de recuperação provavelmente aumentarão a disparidade nos padrões de vida dos diferentes países em comparação com as expectativas pré-pandemia. Projeta-se que a perda média anual do PIB per capita no período 2020–24, em relação às previsões anteriores à pandemia, seja de 5,7% nos países de baixa renda e 4,7% nas economias de mercados emergentes; nas economias avançadas, a perda deve ser menor, de 2,3%. Essas perdas estão levando a uma reversão dos ganhos em termos de redução da pobreza: calcula-se hoje que 95 milhões de pessoas tenham engrossado o contingente de extrema pobreza em 2020 em comparação com as previsões pré-pandemia.
Nossas projeções incorporam um grau elevado de incerteza. Progressos mais céleres na vacinação poderiam resultar em previsões mais positivas, enquanto uma pandemia mais prolongada, com variantes do vírus mais resistentes às vacinas, poderia levar a fortes revisões em baixa. Uma recuperação em várias velocidades também traria riscos financeiros caso as taxas de juros nos Estados Unidos subissem mais de forma imprevista. Isso poderia causar uma reversão desordenada das avaliações inflacionadas dos preços dos ativos, um aperto drástico das condições financeiras e a deterioração das perspectivas de recuperação, sobretudo em algumas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento altamente alavancadas.
Unir esforços para dar a todos uma oportunidade justa
As autoridades terão que continuar a apoiar suas economias, mesmo dispondo de uma margem de manobra menor para a aplicação de políticas e enfrentando níveis de dívida mais elevados do que antes da pandemia. Isto requer medidas mais bem direcionadas para deixar espaço para o apoio prolongado que for necessário. Uma recuperação em várias velocidades exige uma abordagem adaptada, com políticas bem calibradas conforme a fase da pandemia, a solidez da recuperação econômica e as características estruturais de cada país.
A ênfase neste momento deve a saída da crise sanitária, dando prioridade aos gastos com cuidados de saúde – vacinas, tratamentos e infraestrutura do sistema de saúde. O apoio fiscal deve ser dirigido às famílias e empresas mais atingidas. A política monetária deve continuar acomodatícia (onde a inflação estiver sob controle), mas deve utilizar de forma proativa as ferramentas macroprudenciais para enfrentar os riscos para a estabilidade financeira.
À medida que a pandemia for sendo vencida e as condições nos mercados de trabalho voltem ao normal, deve-se reduzir gradualmente as medidas como o incentivo à retenção de trabalhadores. A partir daí, deve-se passar a enfatizar a realocação de trabalhadores, seja por meio de subsídios específicos à contratação ou da requalificação de trabalhadores. Conforme forem retiradas as medidas excepcionais, como as moratórias de pagamento de empréstimos, é possível que aumentem subitamente os casos de insolvência de empresas, colocando em risco um em cada dez empregos em muitos países. Para limitar os danos a longo prazo, os países poderiam considerar a opção de converter o apoio anteriormente concedido à liquidez (na forma de empréstimos) em apoio às empresas viáveis na forma de capital, desenvolvendo, em simultâneo, quadros de reestruturação extrajudicial para agilizar as possíveis falências. Deve-se também dedicar recursos ao ensino para ajudar as crianças a recuperar o tempo de instrução perdido durante a pandemia.
Uma vez superada a crise sanitária, as políticas públicas podem se concentrar em construir economias mais resilientes, mais inclusivas e mais verdes, para impulsionar a recuperação e também elevar o produto potencial. As prioridades devem incluir investimentos em infraestruturas verdes para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, o investimento em infraestruturas digitais para estimular a capacidade produtiva e o fortalecimento da assistência social para conter o aumento da desigualdade.
As economias com espaço fiscal limitado terão mais dificuldades em financiar essas iniciativas. Nesses casos, será essencial melhorar a capacidade tributária, aumentar a progressividade dos impostos (sobre a renda, a propriedade e as heranças), instituir a precificação do carbono e eliminar o desperdício de gastos. Todos os países devem ancorar suas políticas em quadros de médio prazo credíveis e aderir aos mais altos padrões de transparência da dívida para ajudar a conter os custos de endividamento e, por fim, reduzir a dívida e reconstituir as margens de reserva para o futuro.
No plano internacional, os países precisam, antes de mais nada, trabalhar juntos para garantir a vacinação universal. Alguns países já terão assegurado a imunização generalizada em meados deste ano, enquanto a maioria, sobretudo os países pobres, provavelmente terá que esperar até o final de 2022. Acelerar a vacinação exigirá medidas para agilizar a produção e distribuição de vacinas, evitar a aplicação de controles de exportação, financiar integralmente a iniciativa COVAX da qual muitos países de baixa renda dependem para obter acesso aos imunizantes e assegurar uma transferência equitativa das doses excedentárias entre os países.
As autoridades devem também continuar a assegurar o acesso adequado à liquidez internacional. Os principais bancos centrais devem fornecer orientação clara sobre suas ações futuras, com ampla antecedência, para evitar eventos inesperados como o temper tantrum de 2013. Os países de baixa renda serão beneficiados com o prolongamento da pausa no pagamento da dívida no âmbito da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida e a operacionalização do Quadro Comum do G-20 para a reestruturação ordenada da dívida. Uma nova alocação de direitos especiais de saque do FMI assegurará a proteção de liquidez necessária em tempos altamente incertos.
Mesmo com todas as atenções voltadas para a pandemia, é essencial avançar na resolução das tensões comerciais e tecnológicas. Os países devem também cooperar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, na modernização da tributação internacional das empresas e nas medidas para limitar a transferência de lucros e a evasão e elisão fiscais entre fronteiras.
Ao longo do ano que passou, testemunhamos inovações significativas na política econômica e a intensificação maciça do apoio no plano nacional, especialmente entre as economias avançadas que dispunham de recursos para bancar essas iniciativas. Um esforço não menos ambicioso é agora necessário na esfera multilateral para garantir a recuperação e construir um futuro melhor. Sem esforços adicionais para dar a todos uma oportunidade justa, a disparidade nos padrões de vida entre os países poderia aumentar consideravelmente, revertendo os progressos feitos nas últimas décadas para reduzir a pobreza mundial.
*Conselheira Econômica e Diretora do Departamento de Estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI). É professora da cátedra John Zwaanstra de Estudos Internacionais e Economia do Departamento de Economia da Universidade de Harvard, de onde está licenciada.