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Ou o Brasil reduz as suas taxas de juros para níveis civilizados ou os juros liquidarão a economia brasileira

Ou o Brasil reduz as suas taxas de juros para níveis civilizados ou os juros liquidarão a economia brasileira

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

No dia 20 de março, durante seminário realizado no BNDES e em que se reuniu Geraldo Alckmin, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o presidente da Fiesp, Josué Gomes e o economista André Lara Resende – eles questionaram a manutenção da Selic em 13,75% ao ano pelo Banco Central. Enquanto Josué Gomes apontou que o patamar atual é “pornográfico”, Joseph Stiglitz disse que a taxa nas alturas é “mortal” para a economia brasileira e considerou estar otimista com governo, elogiou gestões anteriores de Lula e ressalvou que o momento econômico mundial atual é mais difícil”. Ele afirmou categoricamente que “o Brasil tem sobrevivido à pena de morte dos juros chocantes”.

Já no dia seguinte, 21 de março, também em evento ocorrido no BNDES, o economista e prêmio Nobel de Economia Jeffrey Sachs afirmou: “o Brasil é punido por juros altíssimos e o momento não é de austeridade fiscal.”

Como era esperado, em 22 de março, ocorreu a “Super Quarta”, com decisões definidas sobre juros tanto pelo Federal Reserve Bank (FED) nos Estados Unidos quanto pelo Conselho de Política Monetária do Banco Central do Brasil – COPOM

No caso dos Estados Unidos, o FED decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano. A decisão foi unânime e veio em linha com a expectativa da maioria dos participantes de mercado, mas contrariou uma parcela deles que, diante da instabilidade recente no sistema financeiro provocada pelo princípio de crise bancária, apostava na interrupção do ciclo de aperto monetário. Mesmo com esse novo aumento, a taxa de juros real praticada nos Estados Unidos, apenas agora e após vários anos, é que se encontra em níveis reais, isto é, presentemente em 0,36% ao ano. A média da taxa de juros real praticada no mundo atualmente é negativa em 1,92% – segundo cálculos do Inifinity Asset e MoneYou.

Relativamente ao Brasil, em reunião de política monetária também realizada no dia 22, o Copom manteve a sua taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. A decisão, novamente unânime, veio em linha com com a expectativa consensual dos participantes de mercados. Com isso, a taxa real de juros praticada no país fica em 6,94% – e é considerada a mais elevada do mundo.

O comunicado da decisão do COPAM sofreu ajustes importantes, mas, ao contrário do que apostava uma parcela dos participantes de mercado, não trouxe sinais consistentes de que uma flexibilização da política monetária seria iminente. 

A comentar o entorno internacional, o COPOM avaliou que o “ambiente externo se deteriorou”, manifestando preocupação com os “episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa” que “elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”.

Nas duas semanas anteriores ocorreu uma nova crise bancária internacional, com a liquidação do Silicon Valley Bank, do First National Bank e da transferência do controle do Credit Suisse para o UBS. Isso nos leva a indagar se estamos no início de um novo furacão financeiro, mas tudo leva a crer que o desfecho final pode estar ainda longe de ser conhecido. Os indícios sugerem ter sido os aumentos das taxas de juros praticados anteriormente pelo FED americano o que culminou com a quebra dessas instituições bancárias.

Há muito venho defendendo que o Brasil precisa deixar de ser o “paraíso dos rentistas e o inferno de quem produz”, como declarou o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, no início do governo Bolsonaro. De outro lado e de acordo com o renomado economista André Lara Rezende, “no Brasil o que se observa, há anos, é a retroalimentação de um círculo vicioso com duplo dano: imensa transferência de dinheiro da sociedade para o sistema financeiro; e a geração de crescente déficit orçamentário do Estado e aumento da dívida pública, cujo serviço é sustentado por títulos com juros muito altos, que, por sua vez, aumentam o rombo fiscal.

Em épocas passadas, chegou-se a afirmar que “ou o Brasil combatia as saúvas ou elas acabariam com o Brasil”. Traduzindo para os tempos atuais é como afirmar que “ou o Brasil reduz as suas taxas de juros para níveis civilizados ou os juros liquidarão com a economia brasileira”. 

Considero que a redução das taxas de juros aqui praticadas, em patamares que possam ser considerados condizentes deve até ser mesmo entendida como uma questão de segurança nacional. Não se pode esperar mais, até mesmo porque taxa de juros não é o único componente para a promoção de uma política monetária eficaz e saudável, principalmente no combate à inflação.  

Vale, ainda, relembrar a seguinte frase do presidente JK:

“Pretender solucionar a crise nacional com remédios prescritos para o único fim da estabilidade, como se fosse o Brasil uma terra esgotada e um povo exausto, necessitando de equilibrar as poucas forças que ainda lhe restassem, seria semelhante ao intento de se tratarem as crises da puberdade com medicamentos destinados a mitigar a senectude”.

 (Texto extraído do livro “A Marcha do Amanhecer” – extraído da coletânea de 3 livros intitulada JK: Profeta do Desenvolvimento, de minha autoria e publicado por MercadoComum)

* Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis, com vários cursos de pós graduação no Brasil e exterior. Ex-Executive Vice-Presidente e CEO do Safra National Bank of New York, em Nova Iorque, Estados Unidos. Ex-Presidente do BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais; Foi Secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Governo de Minas Gerais e Diretor-Geral (Reitor) da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Presidente da MinasPart Desenvolvimento Empresarial e Econômico, Ltda. Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum. Autor de vários livros, como a coletânea intitulada Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento.

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Carlos Alberto Teixeira de Oliveira

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