Carlos Alberto Teixeira de Oliveira e Delfim Netto – Ciclo de Conferências Brasil Rumo ao Sec. XXI
“A economia é expectativa. Só cresce quem acredita que vai crescer. Qual é a realidade hoje O trabalhador tem medo de perder o emprego, não compra e fica líquido. Se o empresário acha que o trabalhador não vai comprar, ele venderá seu estoque e vai ficar líquido. O banqueiro, quando vê os dois nessa situação, aumenta os juros e fica líquido. Quando trabalhador, empresário e banqueiro estão líquidos, os três morrem afogados na liquidez.” – Antonio Delfim Netto
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira –
Editor-Geral de MercadoComum e presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais
Faleceu no dia de hoje 12.08.2024, aos noventa e seis anos de idade, o ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura Antonio Delfim Netto.
Considerado um dos mais respeitados economistas do País — entre todos os espectros políticos —, Delfim Netto ocupou várias pastas do governo brasileiro dos anos 1960 em diante, como a da Fazenda (1967–1974), a da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979–1985), além de ter sido embaixador do Brasil na França entre 1975 e 1977. Posteriormente ,já no regime democrático, exerceu um papel importante nas definições dos rumos econômicos do País, sendo consultado pela maioria dos presidentes da República.
Durante o exercício do cargo de ministro da Fazenda, no período de 1967 a 1974 – e conhecido como “Milagre Econômico Brasileiro”, a economia brasileira cresceu a um ritmo excepcional e sem precedentes na história econômica do país, a uma média anual de 9,91% e tendo acumulado uma expansão de 112,47% – ou seja, mais que dobrou o PIB – feito só comparável aos obtidos pela China, até alguns anos atrás.
O período apresentou características marcantes, como o desenvolvimento industrial expressivo, modernização da infraestrutura e aumento das exportações, impulsionando a economia brasileira. Contudo, também resultou em endividamento externo, persistente desigualdade social e impactos ambientais adversos. Diversas obras significativas foram realizadas durante esse período, incluindo a Rodovia Transamazônica, as usinas hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí, a Ferrovia do Aço e o Complexo Industrial de Suape.”
Acervo doado à FEAUSP
Em 2011, o professor emérito da FEAUSP- Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, decidiu doar todo o seu acervo particular de livros à instituição onde estudou e deu aulas por vários anos. Hoje, o acervo compõe a mais completa biblioteca de economia e temas relacionados à área econômica do Brasil: a Biblioteca Delfim Netto. Mas as obras ali reunidas vão além dessa temática, englobando temas diversos da área de ciências humanas, pela qual o economista tinha grande apreço, como história, antropologia, sociologia, filosofia, tecnologia e meio ambiente.
Após passar por uma reforma, o prédio da Biblioteca FEAUSP foi reinaugurado em 2014, junto com o acervo Delfim Netto, que duplicou o volume de títulos da biblioteca original da FEA. O acervo de Delfim reúne mais de 100 mil títulos, tendo em seu conjunto diversas obras em suas edições de referência, adquiridas pelo ex-ministro ao longo de 80 anos, em livrarias e sebos ao redor do mundo. Delfim Netto era considerado um “exímio colecionador”. E a coleção permaneceu em crescimento ao longo dos anos devido ao seu interesse pela evolução do conhecimento e também por sua generosidade em manter viva a Biblioteca da FEAUSP.
Entre as preciosidades reunidas por Delfim Netto em seu acervo particular, estão diversas edições da obra “A Riqueza das Nações”, escrita pelo “pai da economia moderna”, o escocês Adam Smith, em 1776, além da primeira edição da obra máxima do economista britânico John Maynard Keynes “A Teoria Geral do Emprego, dos juros e da moeda”, lançada em 1936.
Para comemorar os 10 anos da disponibilidade ao público da Biblioteca Delfim Netto dentro da FEAUSP, a diretoria promoveu uma exposição com parte do acervo do ex-ministro, intitulada “Uma viagem pela história do pensamento econômico – A biblioteca de Delfim Netto”.
Tive o privilégio de me encontrar e conversar pessoalmente em certas ocasiões com Delfim Netto e trazê-lo, algumas vezes, a Belo Horizonte – MG para a realização de palestras, como a que ocorreu em 15.06.1989 – durante o meu período na presidência do BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. e, também, em outras oportunidades, através de MercadoComum.
Ficam aqui registrados o nosso profundo pesar e as condolências a seus familiares.
Delfim Netto concedendo entrevista à imprensa durante palestra ocorrida no BDMG em 1989, ao lado de Carlos Alberto Teixeira de Oliveira – presidente da instituição à época
FRASES SELECIONADAS DE DELFIM NETTO*
AUMENTO DE TAXA DE JUROS
“A mulher de antigamente usava sabão de coro, agora usa Dove. Só um economista maluco acha que vai conseguir fazê-la voltar a usar sabão de coco aumentando a taxa de juros”.
BANQUEIROS
“Os banqueiros sempre voltam ao local do crime”.
BOLSO
“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso”.
CAPITAL
“O capital é como água: sempre flui por onde encontra menos obstáculos”.
CIRCUNSTÂNCIAS POLÍTICAS
“O economista que ignora circunstâncias políticas não é economista”.
CRESCIMENTO BRASILEIRO
“Se o Brasil quiser crescer, tem de entender que o mundo não vai nos ajudar”.
CRESCIMENTO DA CHINA
“A China não vai continuar crescendo 9% nos próximos 30 anos, porque não cabe no mundo”.
CRESCIMENTO DE ANÃO
“Se o governo comprar um circo o anão começa a crescer”.
CRESCER OU CRESCER
“O Brasil não tem saída: o lema é crescer ou crescer”.
DEIXAR TUDO LIVRE
“A ideia que, se deixar tudo livre, o mundo caminha para o desequilíbrio é achar que Deus era economista”.
DINOSSAURO
“O governo é grande e lerdo como um dinossauro. Se pega fogo no rabo, demora vinte meses para entender o que se passa. E quando o cérebro reage, move a cauda para o lado erado…”.
DIREITA E ESQUERDA
“A direita’ ‘são todos os que não são da ‘esquerda’, e a ‘esquerda’ ninguém sabe o que é…”.
DISTRIBUIÇÃO
“Não se pode distribuir o que não se produziu”.
DISTRIBUIR SEM PRODUZIR
“Se vem o governo querer distribuir o que não foi produzido, no próximo round o mercado acaba com ele e, em seguida, a urna”.
ECONOMIA DE MERCADO NA CHINA
“Só há dois países que acreditam que a China é uma economia de mercado. Um, que tem certeza é o Brasil. O outro, que tem dúvida, é a própria China”.
ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO
“Economia é só expectativa. Desenvolvimento é um estado de espírito”.
ECONOMISTA
“O economista só presta se ele for lubrificante do crescimento. E alguns economistas, hoje, são a areia do crescimento.”
ESPÍRITO ANIMAL
“O que alavanca o crescimento não é o juro, é acordar o espírito animal dos empresários”.
ESPORTE
“Estatisticamente não está provado que quem fazer esporte dure mais”.
ESTÍMULO AO CRESCIMENTO
“Não há país nenhum do mundo onde o Estado não tenha sido fator fundamental de estímulo ao crescimento”.
EXPECTATIVAS DO SETOR FINANCEIRO
“Não se trata de convencer e coordenar as expectativas do setor financeiro. Para ele, o que está em jogo não são as ideias, mas o bolso”.
FALTA DE PEDRA OU PETRÓLEO
“A idade da pedra não acabou por falta de pedra e a do petróleo não vai terminar por falta de petróleo”.
FHC E O PLANO REAL
“FHC surfou sobre o Plano Real e quebrou o país”.
FORMAÇÃO DE ECONOMISTA
“A sociedade investe na formação de economista para que eles ajudem a afastar as restrições ao desenvolvimento e não para que as aceitem como fatos da natureza. Para dizer que não tem jeito, não precisamos de economistas”.
GASOLINA E FÓSFORO
“Deixemos de tentar saber se há gasolina no tanque, iluminando-o com um fósforo aceso”.
IGUALDADE NO NASCIMENTO
“Como dizia Marx (o Groucho): todos nascemos iguais, exceto alguns economistas petistas e alguns políticos tucanos”.
ITAMAR FRANCO
“Entregou exatamente o que prometeu: as condições para a estabilização do valor da moeda. Não enganou ninguém. Provavelmente é por isso que continuará esquecido”.
JORNALISMO DE ECONOMIA
“Jornalismo de economia não é uma coisa nem outra”.
JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA
“É evidente que a Constituição não está funcionando e que os Poderes e seus apêndices estão conflagrados desde que a leniência e a perda de protagonismo do Executivo assistiu, pacificamente, à extravagante ‘judicialização da política’ e a sua irmã siamesa, a ‘politização da justiça’. No nível atual, elas tornaram o Brasil inadministrável.”
LEÃO E GATO
“Já vi muito leão virar gato”.
MERCADO COMO HERÓI
“O herói do capitalismo não é o empresário, mas o mercado, que significa a liberdade de iniciativa e a concorrência”.
MERCADO COMO INSTRUMENTO
“O mercado é um utilíssimo instrumento, mas é apenas um instrumento, e não uma instituição religiosa”.
MERCADO E ESTADO
“Não existe mercado sem o Estado e não existe desenvolvimento sem mercado”.
MERCADO E GOVERNO
“Se é absurdo pensar que o mercado resolve todos os problemas, é ainda mais absurdo sugerir que o governo possa fazê-lo.
NÍVEL DO MAR
“O nível do mar aumentou. O problema é que Lula pensa que foi ele quem levantou o nível do mar”.
ÓTIMA TEMPERATURA MÉDIA
“Se o sujeito está com o rabo no forno e a cabeça na geladeira, não se pode dizer que ele está com uma ótima temperatura média.”
PAÍS DA ÁFRICA
“O Brasil está a caminho de converter-se no país mais ocidental da África”.
PASSADO E FUTURO NO BRASIL
“O Brasil sempre cuidou mais do passado do que do futuro”.
PLANO REAL
“O Real foi um plano brilhante cercado de erros também brilhantes”.
POLÍTICA FISCAL
“A mãe de todas as políticas é a fiscal”.
PREVIDÊNCIA DO FUNCIONALISMO PÚBLICO
“Não há nada mais antirrepublicano que a Previdência do funcionalismo público no Brasil”.
PROBLEMA DO BRASIL
“O problema do Brasil é que ainda não se descobriu o problema do Brasil”.
PRODUTOS INDUSTRIAIS
“Nunca faltou demanda para produtos industriais. O que faltou foi demanda para produtos industriais feitos no Brasil”.
PROFISSÃO DE ECONOMISTA
“Minha profissão me escolheu tão bem que me fez feliz a vida inteira. Nunca trabalhei”.
PROMESSAS ELEITORAIS
“É difícil acreditar, mas tudo se passa como se a eleição exigisse o voto de cidadãos que, mesmerizados pelo marketing, são induzidos a comprar na véspera uma magnífica piscina azul e acordar com ela vazia no dia seguinte”.
PROTEÇÃO ESPECIAL
“Nossas empresas não necessitam de proteção especial, mas apenas de igualdade de condições competitivas”.
PUBLICIDADES DO GOVERNO
“O mais anunciante da televisão brasileira é o governo. Gasta com propaganda mais do que a Coca-Cola, Guaraná e todas as cervejas somadas. Se você liga a televisão, é um governo formidável- quase sem defeitos”.
SINAIS DE TRÂNSITO
“No Brasil de hoje, esquerda e direita são sinais de trânsito”.
SISTEMA ELEITORAL
“A história mostra que não há um sistema eleitoral perfeito, mas é obvio que o nosso é imperfeito demais”.
*Extraídas principalmente da publicação “O Homem Mais Realista do Brasil – As melhores frases de Delfim Netto” – Editora Realidade Cultural
Assista o vídeo da palestra de Delfim Netto no BDMG:
Ficam aqui registrados o nosso profundo pesar e as condolências a seus familiares.
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira – Editor-Geral de MercadoComum e presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais
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