Córdoba, Espanha - Mergulho histórico no espírito andaluz

Autor: Paulo Queiroga

Quem, no período escolar, estudou o mínimo de história da civilização ocidental, sabe que os árabes dominaram grande parte da Península Ibérica durante quase 800 anos (711-1492).

Majestosamente localizada no Sul do país, na Andaluzia, à beira do rio Guadalquivir, a cidade chegou a ser uma das mais povoadas da Europa. Sua história se inicia no ano 206 a.C. Mas, vamos nos concentrar no período a partir da dominação islâmica e sua florescência.

Os mulçumanos fizeram de Córdoba sede do Califado. Construíram palácios, mesquitas monumentais, jardins, pátios e era um centro de pensadores, poetas e sábios.

Lá pelos anos 1.000 de nossa era, Córdoba possuía 450 mil habitantes, uma das primeiras cidades a dispor de iluminação pública e já era considerada uma das mais importantes da Europa. Durante o califado de Aláqueme II, a cidade abrigava uma biblioteca de mais de 400 mil livros.

No século XII, a capital andaluz muda para Sevilha e Córdoba fica meio esquecida. Com a reconquista cristã contra os mouros em 1492, a Coroa Católica instala na cidade o seu Tribunal da Santa Inquisição e se inicia definitivamente o período cristão na Andaluzia e em toda a Península Ibérica.

Quando os reis católicos Fernão e Isabel decidiram financiar as grandes navegações, foi no portentoso Alcázar de Los Reyes Cristianos, que serviu como residência e fortaleza, onde se dá o encontro da realeza com o genovêz Cristóvão Colombo, quando ele apresenta seu projeto de uma nova rota para as Índias, que resulta na ampliação das dimensões do mapa do mundo.

A arquitetura desta cidade milenar é impactante, a começar pela patente presença do Império Romano: A ponte romana sobre o rio Guadalquivir, que une as duas partes da cidade, as ruínas do Templo Romano, o teatro romano, o mausoléu das famílias ricas romanas, a fortaleza, o Fórum e sítios arqueológicos.

Além das igrejas católicas e sinagogas, Córdoba é predominantemente uma cidade jardim. Por todos os lados, o visitante é surpreendido por uma praça, uma fonte, um jardim florido e os famosos pátios internos.

Os pátios são áreas internas de jardins a céu aberto, impecavelmente preservados, em que os proprietários os abrem para visitação gratuita em horários estabelecidos. Os pátios são identificados com arbustos colocados ao lado das portas. O governo local realiza um festival anual, que estimula sua preservação como patrimônio arquitetônico da cidade.

A Mesquita-Catedral de Córdoba é um dos mais belos exemplos da arte muçulmana da Espanha. Uma mistura de estilos arquitetônicos sobrepostos, ocorridos ao longo dos nove séculos que duraram as construções e reformas.

O templo é um dos mais imponentes monumentos religiosos da Europa. Possui incríveis 1.300 colunas, 360 arcos, salões de oração e labirintos, num complexo arquitetônico com dimensões absolutamente monumentais.

Sua construção é uma mistura de estilos, que se moldaram durante 9 séculos. De antiga igreja visigótica de São Vicente, à mesquita, que passa por diversas alterações no tempo, é transformada em igreja católica, cada época ricamente registrada. A entrada do templo se dá por meio do Pátio das Laranjeiras, um dos mais bonitos da Espanha.

Córdoba era também posto comercial de judeus e árabes, que, acreditem, neste tempo eram unidos contra o domínio da Igreja Católica espanhola.

Eles se reuniam nos chamados zocos, do árabe “sūq”, que designam os tradicionais mercados de rua nos países árabes e norte de África. Ali comercializam artesanatos, tecidos e especiarias.

A invasão mulçumana, somada à antiga dominação romana, à presença invasora dos povos germânicos e à retomada cristã, forma um impressionante caldo de culturas em Córdoba, que sintetiza o mais autêntico espírito andaluz e, certamente, grande parte da “alma” da Espanha e da Península Ibérica.

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