O governador Romeu Zema tem poderes, claro, para tentar mudar a Constituição mineira, por meio de uma PEC, mas parece um contrassenso querer tirar da população o direito de se manifestar com relação à venda de ativos do Estado, como a Cemig, a Codemig e a Copasa. Primeiro, ele terá que enviar a PEC à Assembleia e ter lá votos suficientes para aprová-la. Não parece que tem, mas deputado, com exceções, é deputado – um agrado aqui, uma nomeação ali, veja aí o caso do MDB nomeando o presidente da Copasa – e o que o governador quiser, passa – a menos que o deputado Claudinho não deixe… de forma que de início não basta o governador confabular com o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, para que sua vontade prevaleça. A Assembleia, por mais que Agostinho tenha uma boa compreensão da casa, tem também seus compromissos institucionais e um deles é o de zelar pelos bens do Estado, aquilo que foi construído com os impostos dos mineiros ou alguém acha que a Cemig, criada por JK, caiu do céu?
Isso posto, o esforço de Zema para entrar no regime de recuperação fiscal não será fácil. O que a União pede em troca dessa recuperação é algo que dificilmente passará na Assembleia, menos ainda essa PEC que tira do povo mineiro o direito de se manifestar com relação à venda da Cemig – um legado do ex-governador Itamar Franco aos mineiros, diante da ameaça de Fernando Henrique de privatizar o sistema elétrico do país, a começar por Furnas… os mineiros se lembram.
A União, no entanto, pede mais: pede o sacrifício do servidor que ficará sem concurso público e sem promoção por vários anos, além de ter que aumentar a sua contribuição ao IPSEMG, de forma que dificilmente coisas desse tipo passarão pelos deputados estaduais – olha o Claudinho novamente em campo… – de maneira que, na verdade, o que Zema deveria ter feito desde o primeiro minuto de seu governo era se articular com o governador Anastasia, por exemplo, para regulamentar de alguma forma a decisão do Supremo que deu a Minas ganho de causa na disputa pela Lei Kandir – um rombo de 136 bilhões de reais nas contas públicas do Estado com aquela lorota de isentar do ICMS os estados exportadores, logo Minas que praticamente só exporta minério e soja, além de alguns carros da Fiat.
Já que apoiou Bolsonaro na campanha, praticamente rompendo com o seu partido, o Novo, que até pensou em expulsá-lo, Romeu Zema deveria assumir a postura de alguns ex-governadores de Minas e se impor como figura de destaque da nova/velha política nacional. Poderia ter, por exemplo, a postura moral de um Milton Campos, de um Tancredo, quem sabe de Itamar, para não falar de Raul Soares, Artur Bernardes ou o velho Olegário ou quem sabe João Pinheiro e Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, de maneira que não deixe Minas humilhada diante da imposição do governo federal, quando se sabe que existe uma pendência político/jurídica que envolve a malfadada Lei Kandir. Ora, por que entregar os ativos mineiros quando há uma batalha à frente? E por que fugir dessa batalha? Não basta refugiar-se junto ao presidente da Assembleia para negociar, como na velha política, a troca de votos. Aliás, a alienação do Palácio das Mangabeiras é desconhecer a história daquela casa que faz parte do coração político de Minas, cuspir na sua história, coisa só possível quando se monta um secretariado recrutado nas conveniências da mídia e que, por mais que tenha morado em Minas, não perdeu o sotaque de sua origem.
Não, Zema. Puxa um pouco pela história de sua Araxá, do papel de dona Beja, e assume seu papel de condutor da política mineira em sua inteireza. Não faz mal que continue a usar suas camisas bem recortadas, os óculos modernos, e poucos ternos que, de fato, isso conta pouco. O que vale, nestas montanhas, é o valor intrínseco do que é ser mineiro. Dê uma lida, se ainda não o fez, no livro A Voz de Minas, de Alceu de Amoroso Lima. Ali está o mineiro, na sua formação sociológica e política. É por que se diz que Minas olha por cima. E por cima se impõe, mesmo a despeito de alguns desvios históricos, como em 1964, movida pelo desejo de poder do então governador Magalhães Pinto.
Em tempo: vejo num jornal local de hoje a informação do secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa, que sem o déficit previdenciário, que é histórico, Minas Gerais teria tido um resultado fiscal superavitário de R$ 6,1 bilhões em 2018. E fiquei sem entender: mas o Estado não está quebrado?
Jornalista da Band Minas, Metro-BH, Rádio Itatiaia, Revista Exclusive, autor do livro Quase História – Bastidores da Política Mineira, presidente do Centro de Cronistas Políticos de Minas Gerais. Carlos Lindenberg foi do Estado de Minas, VEJA, O Globo, Rede Globo, Hoje em Dia e além de Quase História, participou da coletânea que traçou o perfil do governador Hélio Garcia.
- Brasil pagou R$ 746,9 bilhões de juros sobre a dívida pública consolidada nos últimos…
Mesmo podendo conquistar a 8ª posição no ranking das maiores economias neste ano, o PIB…
Sergio Augusto Carvalho O Mundial do Queijo do Brasil realizado mês passado em São Paulo…
Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Central Crediminas, João Batista Bartoli de Noronha Instituição teve…
Enóloga Marta Maia apresentou as vinícolas de Portugal Novidade foi divulgada durante eventos em Belo…
Maior fabricante de genéricos injetáveis do Brasil completa 40 anos de atividades neste mês e…