Luiz Barretto
Presidente do Sebrae
Presidente Luiz Barretto afirma que ampliação do Supersimples estimulará formalizações e que empresas devem investir em inovação
Há 39 anos atuando no apoio aos empreendimentos brasileiros, o Sebrae tem como principal missão levar inovação
para dentro das micro e pequenas empresas (MPE). Segundo o presidente da instituição, Luiz Barretto, o objetivo da instituição é mostrar aos empreendedores que eles devem adotar uma nova atitude empresarial e incorporar a cultura da capacitação permanente no dia-a-dia da empresa.
“Não é só o funcionário, o trabalhador, que precisa
se atualizar; a gestão empresarial, principalmente na MPE,
também precisa de atualização constante”, afirma.
Em entrevista, o presidente destaca que a inovação é um fator importante para elevar o valor agregado dos produtos e serviços comercializados pelas MPE, o que pode ajudar a aumentar a contribuição dos pequenos negócios à geração de riquezas no País. Responsáveis por mais de 70% dos empregos gerados em 2011, elas contribuem com cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O Sebrae vai investir mais de R$ 780 milhões em três programas que têm como foco a inovação – Sebraetec, Agente Local de Inovação e Sebrae Mais. A expectativa é aumentar a participação das MPE no PIB, à medida que crescer a
produtividade nos pequenos negócios.
O presidente comentou ainda a ampliação dos benefícios do Simples Nacional, regime tributário diferenciado para empreendedores individuais, micro e pequenas empresas. Com os novos tetos de faturamento do Supersimples, a expectativa do Sebrae é de estímulo ao crescimento dos pequenos negócios e de aumento das formalizações, principalmente dos Empreendedores Individuais (EI).
Desde a criação do programa EI, foram legalizados mais de 1,6 milhão de trabalhadores por conta própria. Segundo Barretto,
em 2012, devem ser formalizados mais 700 mil trabalhadores, e, até 2014, o número pode chegar a 4 milhões.
Quais os principais avanços para as micro e pequenas empresas na modificação do Simples Nacional, aprovada pelo Senado?
Completamos quatro anos do regime do Supersimples. Temos o que comemorar. Tínhamos 1,3 milhão de empresas no antigo Simples e passamos a ter 5,5 milhões no Supersimples. Isso já é a expressão forte de como ele foi positivo.
Aquele temor dos estados e municípios de perda de arrecadação não se confirmou. Os principais impostos cresceram
acima de 300% nesses quatro anos. Agora, conseguimos atualizar em 50% as faixas da microempresa e da pequena
empresa e elevamos o teto do EI. Esse percentual corrige a inflação no período em torno de 25% e já projeta até 2014
a inflação. Isso significa um estímulo ao crescimento. Mas ainda temos questões na área tributária a serem trabalhadas.
Precisamos enfrentar a batalha com os estados que, para fazer a substituição tributária, estão tirando os benefícios do
Supersimples. A gente tem que fazer esse debate. Não fizemos agora porque queríamos primeiro corrigir o teto, que
já era um consenso. Mas há temas que precisamos discutir para continuar melhorando o ambiente. Há ainda uma agenda
importante a ser trabalhada no Congresso.
Temos hoje mais de 1,6 milhão de empreendedores individuais formalizados em menos de dois anos e meio de programa. O que explica o sucesso do programa Empreendedor Individual e qual a meta de formalização do Sebrae para os próximos anos?
O EI é o maior programa de formalização do País. Agora estendemos a faixa do EI – o teto de enquadramento passou de
R$ 36 mil para R$ 60 mil – o que vai aumentar a formalização. A meta é de 700 mil formalizações para o ano que vem. A
gente calcula que possa chegar em 2014 com um volume de 3,5 a 4 milhões de empreendedores individuais formalizados.
Você tem um primeiro momento em que há um estoque maior, mas, agora, a gente não quer pensar só no esforço
de aumentar o número de formalizados, mas dar sustentabilidade aos negócios dos 1,6 milhão que já se formalizaram.
Queremos que estejam preparados para enfrentar o mercado e sobreviver. Para isso, vamos testar se o SEI – Sebrae Empreendedor Individua l (programa que oferece soluções específicas para esse público) é de fato uma boa solução para
ajudar o empreendedor a ser mais competitivo no mercado e crescer. O EI quer ser microempresa e, quem sabe, uma
pequena empresa no futuro.
As micro e pequenas empresas são responsáveis por mais de 70% dos novos empregos criados em 2011. No entanto, respondem por apenas 20% do PIB brasileiro. Como elevar essa baixa contribuição à produção de riquezas?
Historicamente esse setor sempre foi gerador de emprego e renda. O exemplo mais claro disso foi durante a crise de 2008
e 2009. Fundamentalmente, foi por causa desse setor que o Brasil superou a crise melhor que outros países. Em relação
a aumentar o valor agregado e a participação no PIB, há uma luta permanente nossa. O Brasil está abrindo oportunidades
com a Copa, as Olimpíadas e com as grandes intervenções na área de infraestrutura. São esses eventos que vão possibilitar
esse crescimento. Mas aposto que, se atualizarmos esse dado – levantado pelo Sebrae em 1991, com referência a 1985 – certamente vamos superar esses 20%. O aumento dessa participação está ligado à intensificação do trabalho do Sebrae em relação à sua clientela, com o tema da inovação. Precisamos ter uma ação coordenada para que esse setor continue crescendo, gerando emprego e renda, mas que possa ter participação no PIB mais significativa.
Qual a importância da inovação para os micro e pequenos negócios e como desmistificar a ideia de que o conceito de inovação está restrito a grandes ações e que demanda investimentos muito elevados?
A gente tem que trabalhar fortemente para não ficar só no feijão com arroz. As micro e pequenas empresas precisam criar
valor, e o tema da inovação é importante. Não se trata só de inovação tecnológica, mas de gestão, de busca de mercados,
de ampliar o valor agregado de seus produtos. Isso vale para toda a cadeia. De um lado há que se trabalhar uma questão da cultura. Não servem mais aqueles paradigmas que serviam para a MPE, de que “meu pai fazia assim, meu avô fazia assim, eu sei fazer na prática”. Isso é importante como atitude empresarial, mas, hoje o mundo está cada vez mais competitivo e com velocidade tecnológica. O empreendedor tem que incorporar uma cultura do conhecimento, do treinamento permanente, da capacitação permanente. Não é só o funcionário que precisa se atualizar, a gestão empresarial, principalmente na MPE, também precisa. O Sebrae vai investir R$ 780 milhões nos próximos três anos com o Sebraetec, o ALI e o Sebrae Mais. Os três programas juntos são mecanismos de distribuição desse tema da inovação.
Qual a importância dos cursos disponibilizados pelo Sebrae e como os empreendedores podem acessá-los?
Estamos segmentando todo nosso trabalho de atendimento. O Sebrae agora tem claro que tem cinco grandes públicos
(EI, microempresas, pequenas empresas, pequenas propriedades rurais e candidatos a empresários) e que precisa segmentar
as soluções para cada um deles. Todos são importantes, mas têm características diferenciadas. O Empreendedor Individual tem um perfil que exige um tipo de atendimento e de soluções. Desenvolvemos soluções para dar uma atenção especial a ele. E temos um segmento hoje que representa de 7% a 10% do total, que é a pequena empresa, e que às vezes não reconhece mais o Sebrae como um grande parceiro e estamos fazendo um trabalho de reaproximação. São aqueles segmentos que já criaram suas empresas há mais de dois anos e necessitam enfrentar dilemas de competição, acessar novos mercados. Mas estamos oferecendo o que o Sebrae faz de melhor. Há hoje uma carteira de programas e soluções disponíveis, até mesmo no site da instituição, que é customizado, sinaliza em que categoria o empreendedor está. Para cada tipologia do estágio empresarial há um conjunto de soluções. A maioria dos cursos tem um grande subsídio e uma quantidade enorme deles é gratuita.
O Sebrae identificou 930 oportunidades de negócios para as micro e pequenas empresas em função da Copa do Mundo FIFA 2014. Como a instituição vai atuar daqui em diante para ajudar os empreendedores a realmente aproveitarem essas possibilidades de negócios?
Agora temos um trabalho regional, depois que fizemos um grande mapeamento nacional. Elencamos nove segmentos
que são os mais propícios a ter um desenvolvimento com as oportunidades que devem ser geradas por esse evento
esportivo. Há três em especial: o turismo e a produção associada ao turismo, a construção civil, e a tecnologia da
informação e comunicação. Agora, cabe regionalmente ver como esses nove segmentos se desenvolvem em cada uma
dessas 12 cidades-sede. Vamos ver o que pode será feito em torno da obra de um aeroporto, por exemplo, ou na relação
com os estádios, que setores podem ser desenvolvidos. Como a gente pode ajudar a desenvolver negócios nesses territórios? Vamos fazer rodadas de negócios com micro e pequenas empresas e com as grandes empresas. O Sebrae será o elo entre elas. No fundo, o que a gente quer é aumentar os mercados das micro e pequenas empresas.
Por que o crédito é tão importante para as micro e pequenas empresas? Como o Sebrae pode ajudá-las a obter o recurso e saber utilizá-lo da melhor maneira?
O Sebrae não é banco, não substitui o papel do banco. O Sebrae socializa as informações. Temos alguns mecanismos
tradicionais, como o fundo de aval, que auxilia na política de crédito. O fundo ajuda a dar as garantias para que possam
ser concedidos empréstimos às micro e pequenas empresas. Quem procurar o Sebrae vai conhecer todas as linhas
disponíveis dos bancos públicos e privados. A gente tem auxiliado os bancos a desenvolver políticas de inovação. O trabalho do Sebrae também é no pós-crédito, fazer com que a empresa utilize o crédito da melhor maneira possível. E, de
outro lado, vamos informar sobre os mecanismos disponíveis no mercado para crédito. Nos últimos dez anos aumentou
muito a oferta de crédito e o que precisamos é fazer o crédito chegar ao nosso cliente.
Como o Sebrae pode contribuir para a redução da miséria, principal bandeira do governo da presidente Dilma Rousseff?
A responsabilidade de diminuir a miséria no país é uma responsabilidade não só do governo federal, mas de todos os
governos estaduais e municipais e do conjunto da sociedade. O Sebrae tem se envolvido nisso. Acabamos de assinar
um convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social, que coordena esse grande programa do Brasil Sem Miséria.
O nosso tema é o da inclusão produtiva, do desenvolvimento, do empreendedorismo. Nossa ideia é dar uma porta de saída e hoje temos mais de 100 mil bolsistas que já são Empreendedores Individuais. Vamos visitá-los para adaptar o Negócio a Negócio, um programa voltado para a microempresa, a esses empreendedores individuais. Vamos fazer oficinas, procurar as comunidades para gerar emprego e renda. E nos Territórios da Cidadania, aqueles territórios que têm baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), baixo desenvolvimento e grande nível de pobreza, vamos trabalhar fortemente nos próximos três anos, principalmente no Norte e Nordeste do País.
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