Robert Hogan*
Em todas as áreas do empreendimento humano, há pessoas que ganham a vida fazendo coisas, e há quem se torne bem-sucedido criticando o que os outros fazem, como por exemplo os críticos das mais diversas áreas, como cinema, música, literatura ou negócios.
Elon Musk, indiscutivelmente, está no primeiro grupo, mas como a pessoa mais rica do mundo, ele é um alvo natural para críticas. Ultimamente, Musk tem enfrentado pesadas críticas por suas decisões de negócios; no entanto, nada em sua biografia sugere que Musk seja narcisista, malévolo ou que tenha um perfil psicótico.
Achamos que existem três chaves para explicar quem é Elon Musk, e elas se enquadram nos títulos de poder, estrutura e estilo. O poder tem a ver com a capacidade cognitiva; a estrutura tem a ver com a orientação cognitiva, e o estilo tem a ver com o impacto interpessoal.
No que diz respeito ao poder, Musk é muito inteligente; com formação em física e economia, ele sabe mais sobre números, tecnologia e finanças do que a maioria das pessoas.
Além disso, seus parceiros de negócios dizem que ele é notavelmente perspicaz na previsão de tendências de negócios e na detecção de falhas e preconceitos no raciocínio de outras pessoas. Então, Musk é muito inteligente e tem a capacidade de tomar boas decisões – nem todas as pessoas inteligentes o faz. No entanto, o mega executivo não mostra ser muito bom em planejamento; muitas vezes ele parte para ação e depois avalia suas decisões, como ele “tuitou”, em 9 de novembro, a respeito da compra do próprio Twitter:
“Por favor, o Twitter vai fazer muitas coisas estúpidas nos próximos meses. Vamos manter o que funcionar e mudar o que não funcionar”
Quanto à estrutura, Musk tem a mesma orientação da maioria dos empreendedores, um campo em que a Hogan costuma ter muitos dados para análise.
Em relação às pessoas comuns, os empreendedores são analíticos, solucionadores de problemas baseados em dados, cheios de energia e trabalhadores árduos (semanas de trabalho de 100 horas são normais), sem medo de riscos, competitivos e focados em causar impacto e fazer a diferença. Trabalho árduo, destemido, competitivo e orientado para a realização – ingredientes-chave para o sucesso, independentemente da capacidade cognitiva.
Musk se descreve como uma pessoa portadora da síndrome de Asperger, que se consolidou sob o transtorno do espectro autista (TEA) que pode afetar seu estilo interpessoal. Em nossa experiência, o TEA é comum entre engenheiros, matemáticos, jogadores de xadrez e empresários.
As pessoas que conhecem Musk o descrevem como “a alma da festa” e, uma prova adicional de sua vivacidade é sua participação como “host” do tradicional programa humorístico americano “Saturday Night Live”, da NBC. Fora do trabalho, ele costuma ser descrito como espirituoso, irreverente e travesso.
O estilo e eficácia da liderança de Musk levantam uma questão muito interessante. Liderança é construir equipes de alto desempenho, e bons líderes são pessoas que os outros querem seguir. Os empreendedores tendem a ser maus líderes; como a maioria dos gerentes de finanças e engenharia, eles estão interessados em resultados e não nos sentimentos das pessoas. Musk se descreve como um “nanogerente” exigente, impaciente e rápido em encontrar falhas. Ele é orientado para a ação e não se preocupa muito com as sensibilidades da equipe.
Musk não é o primeiro líder a ter a reputação de ser difícil aos olhos do público. Em outro lugar, falamos sobre o “paradoxo da Apple”: como alguém tão ambíguo e desagradável como Steve Jobs pôde construir um negócio tão bem-sucedido quanto a Apple?
Nossa resposta é dupla. Por um lado, a capacidade mais crítica dos CEOs é tomar boas decisões sobre produtos e mercados, sem se preocupar com os sentimentos das pessoas. Por outro lado, bons gerentes abaixo do nível CEO geralmente protegem a equipe do mau comportamento de CEOs abusivos. Sabemos que Musk é um empreendedor extremamente bem-sucedido e um líder medíocre – mas um líder medíocre comparado a quem? Mark Zuckerberg? Jeff Bezos? Bill Gates? Jack Welch?
Finalmente, há a aquisição do Twitter e como as recentes ações de Musk para reestruturar uma empresa de baixo desempenho e mal administrada o afetaram. Embora o CEO anterior tenha admitido que o Twitter estava com excesso de pessoal, parece claro que foi um erro demitir metade da força de trabalho sem primeiro avaliar sua função e desempenho. Esse tipo de corte de pessoal precipitado cria preocupação e confusão desnecessárias entre os funcionários, o que provavelmente não contribuirá para um alto desempenho.
Por outro lado, Musk e seus engenheiros começaram uma revisão detalhada e granular de todos os aspectos do negócio do Twitter e esse esforço é o primeiro passo essencial para melhorar processos e produtos. O próprio Musk disse à sua nova equipe:
“Revoluções não são feitas com cautela. Então, queremos testar coisas, de preferência coisas que não quebrem o sistema, mas, desde que sejamos ágeis e reajamos rapidamente para melhorar as coisas e corrigir erros, acho que vai ficar tudo bem”
Como reação à aquisição do Twitter e demissões de Musk, muitos indivíduos no Twitter começaram a imitar e zombar o novo proprietário. Vale ressaltar que, se o alvo não fosse o CEO do Twitter e a pessoa mais rica do mundo, algumas dessas gozações seriam declaradas “cyberbullying”. Independentemente disso, muitas das críticas parecem ser inspiradas pelos críticos das visões políticas de Musk.
Mas, como a maioria dos empreendedores, especialmente os muito bem-sucedidos, Musk não está recuando. Em vez disso, ele está respondendo com seus próprios tweets sarcásticos e mudando as regras sobre contas falsas. É difícil dizer como a aquisição do Twitter funcionará para Musk, mas se seus empreendimentos anteriores servirem de indicação, seria difícil apostar contra ele.
*Fundador e Chairman da Hogan Assessment Systems, Inc e Ryne Sherman, Science Officer da mesma empresa
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