Carlos Lindenberg*
Enfim, o que se temia, aconteceu. Tropas russas invadiram a Ucrânia pelo mar, pela terra e pelo ar. Foram mais de 160 misseis disparados no maior ataque de um país a outro, num mesmo continente, desde a segunda guerra mundial. A ordem partiu diretamente do presidente Vladimir Putin, depois de ouvida a sua assembleia geral, que não apenas convalidou com aplaudiu a decisão. O presidente russo ainda ameaçou dizendo que “ninguém deveria se intrometer no conflito”, não obstante o presidente Joe Biden, tido como omisso na hora “H”, ou reagido na “meia boca”, ameaçado os russos com medidas duras, um dia após a decisão de Vladimir Putin.
Mas por que Putin invadiu a Ucrânia? O problema básico, a despeito de outras questões, está relacionado ao fato de a Ucrânia estar solicitando a sua entrada, com o empenho dos Estados Unidos, no Tratado do Atlântico Norte – OTAN – o que colocaria os misseis ucranianos a menos de meia hora de Moscou. É por essa razão que Putin resolveu invadir a Ucrânia, por um gesto, digamos, de autodefesa. Ou seja, atacar o inimigo antes que ele se fortaleça, o que será inevitável se de fato a Ucrânia ingressar na OTAN, que por sinal, colocou todas as suas máquinas de guerra em estado de sobreaviso – um passo antes da prontidão.
Essa questão russa remete o leitor à visita que há coisa de uma semana o presidente Jair Bolsonaro fez ao Kremlin, sendo recebido por Putin depois de se submeter a cinco testes para que sua comitiva, o presidente brasileiro inclusive, pudesse testar negativo para Covid-19, testes recusados por Emanuel Macron, que tentou dissuadir Putin a invadir a Ucrânia. Chamou a atenção do mundo ocidental a afirmação de Bolsonaro de que o Brasil estava solidário com a Rússia -e aí não se sabe que solidariedade teria sido essa, se nem mesmo Putin a pediu, o que, aliás, fez com que o presidente Bolsonaro recriminasse nesta quinta-feira o seu vice, Hamilton Mourão, por ter repreendido Putin pela invasão. Para Bolsonaro o seu vice ultrapassou os limites da constituição porque “quem fala sobre esse assunto é o presidente da República e não o vice “– em mais uma trombada que o presidente dá em Mourão e de maneira pública, o que sinaliza que a guerra intestina em busca de um vice para Bolsonaro já não está apenas nos bastidores – e os nomes citados até agora são de dois outros generais, o Heleno, da Segurança Institucional e o Braga Neto, da Defesa. Bolsonaro, no entanto, não condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, limitando a dizer que a posição brasileira está contida nos pronunciamentos que o embaixador brasileiro vem fazendo na ONU.
No primeiro dia do conflito pelo menos 137 ucranianos foram mortos pelos russos e nada menos de 316 pessoas ficaram feridas. A Ucrânia convocou milhares de reservistas, mas para cada ucraniano há pelo menos cinco soldados russos, que detém a segunda máquina de guerra do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos, que, no entanto, já decidiu que não enviará soldados para defender a Ucrânia. Mas garantiu nesta quinta-feira que retaliará a Rússia financeiramente, o mesmo acontecendo com o Japão, com o Reino Unido e outras nações no que poderá ser o maior boicote econômico a um país que invadiu um outro, com o agravante de que a Rússia, a despeito de suas supostas alegações de autodefesa, não faz muito tempo anexou a Criméia a seu território e vem de reconhecer outras duas regiões com a liberdade de ir e vir, áreas essas tidas como “separatistas” e de população majoritariamente russa. Enfim, o que se temia acabou acontecendo. Agora é saber até onde as tropas de Vladimir Putin irão parar. Em suma, o conflito, até agora, está restrito às desavenças entre a Rússia e a Ucrânia.
*Escritor e jornalista político
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