Por: Fernando Soares Rodrigues
Obter rentabilidade acima da inflação no mercado financeiro continua muito difícil no segundo semestre, a exemplo do que ocorreu nos seis primeiros meses do ano. Até a rentabilidade dos títulos públicos foi colocada em xeque.
As projeções de inflação anual próxima de 6%, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) abaixo de 2,5%, taxa básica de juros (Selic) acima de 9% ao ano, superávit comercial (exportações menos importações) cada vez menor, de US$ 6,5 bilhões, que obriga o ingresso de mais recursos externos para o fechamento do balanço de pagamentos (todo o movimento com o exterior) e mais as possíveis mudanças na condução da economia após as manifestações populares são alguns dos fatores internos que pesam nas decisões ao se aplicar o dinheiro.
A limitada coerção pela polícia dos atos de vandalismos durante as manifestações populares representa um sinal no mínimo amarelo para a entrada do capital estrangeiro no País.
As grandes oscilações do mercado financeiro e as constantes mudanças econômicas obrigam a revisões diárias de posições. Ao contrário do posicionamento que alguns consideram válido, é mais fácil investir no curto prazo em ações e outros ativos do que no médio prazo.
Batalha do câmbio
O cenário econômico ainda está sujeito a muitas surpresas. Em maio passado, por exemplo, os especialistas não foram capazes de prever as grandes oscilações que ocorreram no mercado de câmbio nas semanas seguintes. Chegaram a prever que o dólar se manteria em patamar pouco acima de R$ 2,05 (boletim Focus do Banco Central (BC) de 15/05/2013) até o final do ano.
A “batalha” do governo contra o mercado para derrubar a cotação do dólar quando sua cotação ameaça ficar acima de R$ 2,20 são alguns dos destaques internos que mais preocupam. Não é possível apostar na alta da moeda americana já que o governo realiza todos os esforços – queima dereservas – para conter sua escalada, o que poderia elevar o custo dos produtos importados e pressionar mais a inflação. Mesmo assim, o último boletim Focus do BC em junho (24/06/2013) previa o dólar a R$ 2,13 ao final de dezembro deste ano, e a R$ 2,20 ao final de 2014.
A retirada do IOF (Imposto sobre Obrigações Financeiras) de 6% ao ano sobre os investimentos estrangeiros no mercado de capitais e derivativos financeiros de câmbio iniciou o rol de medidas adotadas para “administrar” o preço do dólar.
Mesmo com a valorização expressiva da moeda americana frente ao real, o preço do ouro negociado como ativo financeiro não reage no mercado interno. O valor do metal é influenciado pela cotação em Nova York, onde a onça-troy de ouro chegou a se desvalorizar 27% no acumulado do ano ao final de junho passado. O enxugamento monetário na maior economia do mundo e o seu fortalecimento desestimulam a aplicação no ouro como reserva de valor.
Decisão do Fed
As bolsas de valores e os fluxos de capitais nos mercados emergentes como o brasileiro são afetados pela decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de enxugar a partir dos próximos meses cerca de US$ 85 bilhões por ano dos US$ 50 trilhões que colocou no mercado mundial desde 2007/2008 para ajudar na recuperação da economia dos EUA. Os capitais saem dos emergentes e vão para os EUA, o porto que fica mais seguro. E a BM&F/Bovespa chegou a acumular queda de 23% no acumulado do ano até 25/06/2013 ao testar os 45 mil pontos, considerado um piso por analistas.
Fatores internos ajudam a derrubar o Ibovespa. O valor de mercado das empresas X do empresário Eike Batista recuaram entre 80% e 90%, a Petrobras sofre com a alta do dólar, e ações da exportadora Vale não aproveitam integralmente a onda diante da expectativa de novos recuos do PIB chinês e da queda no preço do minério. Diversas ações de empresas de baixa capitalização e de companhias consideradas de segunda linha oferecem bons ganhos em determinados períodos. As consultas a analistas e corretores de confiança são o caminho para se tentar ganhar dinheiro na bolsa no curto prazo.
Os investidores que acumulam perdas no mercado de ações assistem outros recursos aplicados nas cadernetas de poupança e na renda fixa perderem para a inflação ou obterem ganhos baixos. Os CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários) que ofereceram ganho acima da inflação (real) pouco acima dos 0,20% no primeiro semestre são a referência para a formação das taxas dos principais ativos de renda fixa.
Hora da verdade
Os títulos públicos que podem ser comprados diretamente através do Tesouro Direto e os que servem de lastro para as carteiras dos fundos de investimentos financeiros e previdência privada aberta deram prejuízos aos investidores ao final do primeiro semestre. Até a primeira quinzena de junho os prejuízos com títulos prefixados e os pós-fixados foram estimados em R$ 120 bilhões. A carteira desses títulos que totalizava R$ 1,3 trilhão era a preferida dos investidores estrangeiros. Com a saída deles do Brasil em direção à expectativa de juros mais atraentes nos EUA, os preços dos títulos brasileiros caem. As perdas imediatas dos investidores ocorrem quando os administradores das carteiras são obrigados a atualizar seus valores de acordo com as cotações menores vigentes. É a chamada atualização dos títulos a valor de mercado que alguns analistas e jornalistas de economia não alertam ao aconselharem a sua compra porque eles podem render mais que a cadernetas de poupança.
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