Nápolis – Não conhecer é pouco entender a Itália

Paulo Queiroga

O Golfo de Nápoles, que abriga cidade de mesmo nome, acumula culturas diversas em sua história. Pela posição estratégica, foi conquistado por gregos, romanos, espanhóis, foi reino autônomo e se unificou com a Itália no século XIX.

A cidade de Nápoles, até hoje, um caldo efervescente de experiência humana, é Patrimônio da Humanidade e uma das mais autênticas expressões da cultura italiana. 

Terceira cidade do país, depois de Roma e Milão, Nápolis fica na região da Campânia, costa do Mar Tirreno, uma espécie de coração pulsante da Itália há pelo menos 2.500 anos. 

Com um núcleo urbano de mais de 1 milhão de habitantes, ela fica próxima ao famoso vulcão Vesúvio, que, no ano 79 A.C, exterminou, de forma impressionante, as cidades vizinhas de Pompeia e Herculano.

Além de berço da famosa pizza, que conquistou o mundo inteiro, a Bella Napoli fervilha de história, arqueologia, obras de arte, museus, castelos, palácios e um centro urbano inquieto, muito próprio dos costumes de seu povo.

Ali também se concentram poderes políticos e religiosos históricos. Em Nápoles nasceram nada menos que cinco papas da Igreja Católica: Bonifácio V, Urbano VI, Bonifácio IX, Paulo IV, Inocêncio XII.

Além da história e arquitetura, a cidade é como um cartão postal vibrante de pessoas, aromas e sensações. 

Se resumirmos a alma mais densa e profunda de Nápoles, ela estaria no bairro de Sccapanapoli – nome da estrada antiga que corta a cidade em duas metades – e onde, a partir do século IV a.C, os romanos instalaram seu domínio em cima das antigas construções gregas. 

Ali se concentram os principais monumentos históricos, igrejas, palácios, castelos, restaurantes tradicionais e a riqueza cultural deste povo absolutamente singular. 

Cada porta nas ruelas dessa muvuca urbana é um lugar onde se vê e se vende de tudo: souvenirs, os melhores doces, o melhor café, lojas de grife internacional e, claro, a melhor pizza napolitana. 

Em alguns locais de Nápoles as visitas são imprescindíveis. Seja pela singularidade, seja, especialmente, pela excelência da arte. É o caso, por exemplo, da Capela de San Severo, praticamente escondida num dos becos de Nápoles. 

Neste pequeno lugar de fé, entre mais de 300 igrejas e capelas da cidade, está exposta umas das obras mais impressionantes de escultura em mármore feitas até hoje, o Cristo Velado, fruto do talento do escultor napolitano Giuseppe Sanmartino (1720 – 1793).

Seu trabalho artístico é considerado obra-prima da escultura europeia do século XVIII e uma das maiores obras de todos os tempos. A Escultura representa Cristo morto, deitado sobre um colchão, coberto por um fino sudário e disposto de forma tão rente ao corpo que não parece ser feito na pedra. O efeito visual é como se existisse uma transparência entre o véu e o corpo, esculpido em um único bloco de mármore. Algo quase transcendental.

Outras singularidades da cultura napolitana são a mística, a superstição e a veneração dos santos. O santo mais importante é San Genaro, padroeiro de Nápoles, mártir cristão, decapitado pelo Imperador Diocleciano, por volta do ano 300.

A tradição católica celebra que, pouco após a morte de San Genaro, seu sangue foi coletado por uma mulher chamada Eusébia, que o teria deixado próximo ao corpo. Segundo a lenda, após séculos, o sangue do mártir petrificado ainda se faz liquefeito em dias especiais como sinal de benção aos napolitanos. 

Este milagre é celebrado até hoje no Duomo de Nápoles, em culto católico, onde se conservam o busto do santo e as ampolas que contém o sangue. A crença popular diz que duas vezes por ano (maio e setembro) o milagre da liquefação do sangue deve se repetir para trazer bons presságios.

A gente sai de Nápolis com a sensação de ainda ser cedo ou com certeza de que que voltaremos ao lugar que representa o coração da Itália. História, arqueologia, arte, arquitetura e uma vida palpitante plasmam o coração desta metrópole milenar e de seu povo. 

Se você não conhecer Nápoles, certamente, não conhecerá a Itália.

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