Minas e o Brasil em primeiro lugar para o bem de todos

Minas e o Brasil em primeiro lugar para o bem de todos
Mercado Comum Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios

Stefan Bogdan Barenboim Salej*

Dizem as leis não escritas em Minas que, sendo mineiro, primeiro Minas. E assim se julgam as pessoas, principalmente aquelas que ocupam cargos públicos de qualquer natureza em Minas. Às vezes perdoam-se deslizes neste amor à terra, mas não se esquecem jamais ou perdoam se alguém colocar interesses pessoais ou de terceiros, acima deste amor infinito com as terras de Minas.

Minas foi pioneira na industrialização do Brasil, tendo o Estado sediado a primeira usina siderúrgica, a primeira usina hidroelétrica e, assim por diante, foi se formando um parque industrial não o maior do Brasil, mas sem dúvida, um dos mais competitivos em qualidade e competitividade. Não apenas constituído por grandes complexos industriais mas, também, por produtos artesanais como a cachaça e o queijo, que viraram marca registrada de Minas. E, dentro deste contexto, a entidade empresarial da indústria, a FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi, inclusive, pioneira na implementação dos clusters no Brasil ou APL (dos quais se destaca o Vale de Eletrônica) assumindo um papel fundamental no contexto econômico social do Estado.

A FIEMG é uma entidade pública no sentido de responsabilidade política e social, além da manter uma função econômica. Aliás, a entidade teve destacada atuação na vida política – tanto estadual quanto nacional, desde sua fundação há 85 anos – sempre de forma ativa e participativa. Portanto, deve-se considerar que os atos lá praticados, não podem ser considerados independentes de sua natureza legal ou que sejam apenas fatos de natureza interna. São sim, na verdade, fatos que afetam o Estado como um todo e cada cidadão mineiro, seja ele da indústria ou não.  Pelos menos foi assim que pensavam e agiram dois dos ex-presidentes da entidade, Nansen Araújo e o seu sucessor, José Alencar Gomes da Silva que, inclusive, elegeu-se senador e vice-presidente da República.

Alguns eventos ocorridos nas últimas semanas podem sugerir que os dois atuais ocupantes dos cargos máximos das entidades industriais – nacional e na provincial, tenham trocado pesadas farpas e acusações de parte a parte tendo, ademais, tendo até deixado as salas de reuniões tornando públicas as suas desavenças e divergências pessoais. É lamentável que dois mineiros, ocupantes de importantes cargos de liderança industrial, venham se estranhando num assunto nem tão fundamental para a vida da nossa indústria: permanecer ou não mais tempo na presidência da entidade nacional.

O atual presidente Robson Andrade da CNI – Confederação Nacional da Indústria tem tido atuação direta durante há cerca de 40 anos em entidades empresariais – dos quais oito na presidência da FIEMG – estando atualmente completando doze anos à frente da CNI. Ele deseja agora, por voto de maioria dos seus 27 pares, prorrogar o seu mandato por mais um ano. Cabe mencionar, no entanto, que o estatuto da entidade nacional já havia sido alterado anteriormente, para que ele pudesse ficar adicionalmente, outros quatro anos no cargo. Atualmente, e apesar de não ser mais representante de Minas na CNI, Andrade pretende prorrogar por mais um ano o seu mandato, sob diversas alegações.

Segundo comentários, as justificativas para esta pretensão são variadas, muitas e vão, desde a necessidade de terminar todos os seus projetos (que em doze anos seguidos pode parecer que não foram suficientes), até a justificativa de se evitar a coincidência de uma eleição na entidade em um ano eleitoral brasileiro –  para evitar que ela também não seja contaminada por políticos, como se isso fosse possível de ocorrer no Brasil dos tempos atuais.  Mas, o que se comenta mesmo, é que se trata de um jogo, uma artimanha política do atual presidente para esperar que, eventualmente, um candidato de sua preferência pessoal venha a concorrer na eleição no seu estado e se não ganhar, juntaria os votos das federações do Nordeste e, assim, se reelegeria de novo.

Contra esta proposta de mais uma vez se prorrogar o atual mandato, sob a liderança de Flávio Roscoe – presidente da FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais posicionaram-se as Federações das Indústria de São Paulo e do Rio Janeiro, que representam cerca de 75% do PIB – Produto Interno Bruto industrial brasileiro –  o que não significa muita coisa, porque aqueles outros que não têm peso no bolo industrial possuem a maioria dos votos que valem nas eleições da entidade. Assim funciona um sistema que movimenta bilhões de reais por ano e que sequer, tem a obrigação – seja em Brasília ou em Minas, de se publicar um balanço patrimonial e econômico de suas atividades. Mas isso não é significativo e pode transparecer não ser importante porque, na verdade, as pessoas lutam por estes cargos pelos benefícios que desfrutam e o prestígio político que oferecem é claro, além dos benefícios a seus negócios não o sendo, muito menos, pelo proveito que seria gerado em prol da própria indústria.

Nesta briga fratricida e lamentável de mineiros, a pergunta que deveria estar permeando – nestas grandes discussões do momento -, não seria estabelecer qual a contribuição, de cada um dos dois combatentes, para que a indústria pudesse se desenvolver e crescer, evitando-se que ela siga rumo ladeira abaixo e continue atingindo um dos menores níveis de participação do PIB brasileiro de sua história? Ou, então, o que os dois contribuíram e fizeram, quando eram amigos, para a melhoria de competitividade, produtividade e da qualidade da indústria mineira e brasileira?

É vergonhoso constatar que, enquanto a indústria encontra-se minguando e deplora-se com uma pandemia que já nos ceifou  a vida de mais de 500 mil brasileiros e, também, quando já se nos avizinha uma crise de energia com direito a apagão e redução drástica do já cambaleante ritmo da produção industrial tenhamos, ainda,  de conviver com as divergências de dois líderes empresariais mineiros que, simplesmente, resolveram destacar as suas desavenças pessoais publicamente – ao invés de se unirem e fazerem algo de bem para a construção e o desenvolvimento de Minas e do País. A política mineira jamais ofereceu um exemplo desta natureza e mostra a história que, uma das características mais salutares da vida mineira é, exatamente, a compreensão, a busca pelo consenso e pela união.

O motivo desta briga sobre a questão de prorrogação dos mandatos, também realça a tremenda distorção que vivemos no mundo de entidades de classe. De um lado, há um mundo real, de dificuldades para sobreviver, de outro persiste a briga pelo poder. Apesar de uma previsão de crescimento do PIB industrial mineiro, neste ano de 7%, a pergunta que ainda merece ser feita é se esse resultado seria decorrente da conjuntura internacional ou, meramente, de ações provenientes de decisões exclusivas daquelas respectivas entidades da classe?

Na política, sempre soube e aprendi, que bons mineiros sempre evitam ficar de mal e, se brigam, só para Minas ficar bem. E isso por uma certeza: é que, com Minas bem, pode-se fazer um Brasil bem melhor!

*Empresário, ex-Presidente da FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais. – Escreve mensalmente na Seção Opinião, de “MercadoComum – Há 28 Anos Formando Opinião!”

(Os artigos e comentários não representam, necessariamente, a opinião desta publicação; a responsabilidade é do autor do texto)

Mercado Comum Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios
Anúncio
Share
Published by
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira
Tags: 1º de Maio25% dos votos e Lula 22%6 contas bancárias8%A atuação do presidente Jair Bolsonaro é péssima para 42% dos mineiros e se as eleições fossem hoje ele teriaA bandeira de nossas bandeiras e? a Esperanc?aA Economia com Todas as Letras e NúmerosA Receita Federal está de olho no seu PIXA revoluc?a?o no sentido de se produzir maisA verdadeira história do Palácio das MangabeirasAbrafarmaAdolfo SachsidaAdvogado tributarista alertaAgendaAgenda EconômicaAgricultura brasileiraAgricultura brasileira será foco global de financiamentos verdesagronegócioAinda estamos em 2021Alberto RamosAmerican AirlinesAnálise EconômicaAndre LoesAnuário do Cooperativismo MineiroAnúncioAnúnciosAPIMEC-MGAplicativos financeiros seguem em disparada no Brasil e no mundoAppsFlyerAquisiçõesarrepender ou dispensar o corretor de imóvelArtigoAssembleia de AcionistasAumento no custo da construção segue forteAutos e NegóciosBanco SafraBanco Safra em New York localizadaBarômetro COVID-19Betim chega a índice superior a 80% de iluminação pública de ledBrasilBRASIL – IMPOSTOS NAS ALTURASBrasil apresenta boas oportunidades para fusões e aquisiçõesBrasil terá um ano de concessões e privatizaçõesBrasileiros já pagaram R$ 1 trilhão em impostosBrasileiros mantêm em média 3Calcanhar de Aquiles dos debatesCamilo PennaCampanha apresenta proposta para aumentar tributação do setor financeiroCapaCaraça foi reinaugurado há 31 anosCarga Tributária brasileiraCarlos Alberto Teixeira de OliveiraCarlos Mauri?cio de C. FerreiraCarreirasCarreiras Profissões e TrabalhoCarta do LeitorCEMIGCharlie HebdoChega de pagar imposto sobre impostoChinaChristianne CanaveroClaudio Moura CastroCOITADO DE TIRADENTESColégio do CaraçaColégio do Caraça foi reinauguradoColégio do Caraça foi reinaugurado há 31 anosCollecção de Leis da Assembléia Legislativa da Província de Minas Gerais de 1848Com uma das maiores cargas tributa?rias do mundoComo ter mentalidade equityComposic?a?o da Carga Tributa?riacorretor de imóvelCrédito e saúde financeiracurva de LafferDEBATE ECONO?MICODesafios e oportunidades do agro brasileiroDesempenho da Economia de Minas GeraisDesenvolvimentoDia do Trabalhodiretora-executiva para rating soberano da S&P Global RatingsDiscurso de Joe BidenDO MEIO AMBIENTE E AMBIENTE ALGUME que é ESG?e Sueli BonaparteEconomiaEconomia brasileiraEconomista chefe do J.P. Morgan no Brasileconomista-chefe do Goldman Sachs para América Latina; Cassiana FernandezEconomista-Chefe do Morgan Stanley para a América LatinaEduardo BartolomeoEleição de conselheirosElizabeth Machado de Oliveiraem MinasEmanuel CarneirEmanuel CarneiroEmpresarialempresário Rubens MeninEspecialista critica proposta de criação de Imposto sobre Grandes FortunasEstamos próximos ao fim do horário comercial?Eugênio MattarEx-presidente lulaExcelênciaFAEMGFAEMG/SENAR/INAESFelipe BonifattifiemgFiespFiesp acredita que o crescimentoFinançasFlávio Roscoe – presidente da FIEMGFrança multa Google por concorrência desleal no mercado de publicidadegestão ambiental efetivaGrupo KatzGrupo Katz conquista o Prêmio Obra do Ano 2021Grupo PatrimarGrupo Patrimar anuncia criação de mais um projeto sustentávelGrupo Patrimar implanta minimercados à “base da honestidade” em seus empreendimentosHuaweiHuawei inaugura seu maior centro global de transparência em segurança cibernéticaImpostômetroImpostômetro da Associação Comercial de São PauloIMPOSTOS NAS ALTURASINAESIndústriaInformações PrivilegiadasInvestimentosItamar FrancoJKJoão Camilo PennaJoão KeplerJoaquim José da Silva XavierJosé A. FreigJosé SafraJoseph Yacoub SafraJuscelino KubischekJuscelino KubitschekKantarKatzKênio de Souza PereiraLeis da Assembléia Legislativa da Província de Minas Gerais de 1848Lisa Schinellerlivro O Poder do EquityLocalizaLocaliza e Grupo CorpoLucroLucro da LocalizaLucro da Localiza tem aumento de 108Lucro da ValeLucro da Vale aumenta mais de 20 vezes em um anoLufthansa GroupMAM São PauloMarcas de SucessoMelhor perder os anéis hoje que os dedos amanhãMeninMercado ComumMercadoComumMicrosoftMinas e o Brasil em primeiro lugar para o bem de todosMinas e o Brasil perdem João Camilo PennaMinas GeraisMineiros estão pessimistas: 43% acreditam que nos próximos 6 meses a capacidade financeira para fazer compras vai piorarMineraçãoModesto Araujo assume presidência da AbrafarmaModesto Carvalho Araujo NetoMRVMUNDO EMPRESARIALMuseu de Arte Moderna de São PauloNem tudo é culpa da CovidNio?bioNubankNubank anuncia Christianne Canavero como diretora global de ESG-ImpactoO Brasil convive com uma das mais elevadas cargas tributa?rias do mundoO Brasil esta? dando certo?O Futuro da IndústriaO MINEIRO QUE DEU ESTABILIDADE POLÍTICA E ECONÔMICA AO PAÍSO Poder do EquityPalácio das MangabeirasPara onde caminham a economia mundialPara onde caminham a economia mundial e a brasileiraParceria inédita para o desenvolvimento de tecnologias avançadas para a indústria automotivaPatrimarPIBPIB de 2020PIB de Minas GeraisPIB de Minas Gerais em 2020 foi menos pior do que o brasileiroPosse da Diretoria do SICEPOT-MGPrêmio Top of Mindpresidente da Drogaria AraujPresidente Jair BolsonaroPresidente JKPresidente Juscelino KubitschekPrimeiro trimestre de 2021 registra recorde em fusões e aquisições dos últimos 20 anosProdução AgropecuáriaProduto Interno BrutoRa?dio Itatiaia de Minas GeraisRádio ItatiaiaReceita FederalRent a CarRoberto Luciano Fortes FagundesRoberto SimõesRobson Braga de Andrade Presidente da CNIRodrigo Kede LimaRodrigo Kede Lima é o novo Presidente da Microsoft América LatinaRomeu Zema e? bem avaliado pela maior parte dos mineirosRubens MeninSecretaria do Tesouro Nacional do Ministério da FazendSecretarias Estaduais de Fazendaseguro de crédito no mercadoSENARseo munizSérgio Mena BarretoSetor de seguros avança na retomada de crescimentoSICEPOT MGSistema FAEMG na corrida para o zeroSistema OcemgsmsSMS: por que ele ainda se destaca nas estratégias de marketing?Sr. José SafraStefan Bogdan Barenboim SalejStefan Bogdan SalejTanto Imposto e nada de retornoTaxar exageradamente a produc?a?o e? um dos grandes equi?vocos da legislac?a?o tributa?ria brasileiraTerror virtual pós Charlie HebdoThais CorderoTiradentesTop of MindTop of Mind 2021Top of Mind 2021 Marcas de Sucesso Minas GeraisTrabalhoTributação maior sobre produtos industriaisTroféu na Categoria Excelência e Top do Top of MindValeValor da Produção Agropecuária de 2021 deve registrar aumento real de 11VinhoVinícolaVinícola Douro Estates de Rubens MeninWEBINAR Mercado Comum

Recent Posts

Crescimento do PIB brasileiro 2011/2024: devagar, quase parando ou andando para trás

Mesmo podendo conquistar a 8ª posição no ranking das maiores economias neste ano, o PIB…

1 semana ago

Viva o Morro Azul!

Sergio Augusto Carvalho O Mundial do Queijo do Brasil realizado mês passado em São Paulo…

1 semana ago

Sicoob Sistema Crediminas registra crescimento de 29% em 2023

Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Central Crediminas, João Batista Bartoli de Noronha Instituição teve…

1 semana ago

Vila Galé anuncia experimento de plantação de vinhas e oliveiras em Ouro Preto, em Minas Gerais

Enóloga Marta Maia apresentou as vinícolas de Portugal Novidade foi divulgada durante eventos em Belo…

1 semana ago

Hipolabor investe em ampliação da área de produção de medicamentos em Minas Gerais e prevê crescer 10% neste ano

Maior fabricante de genéricos injetáveis do Brasil completa 40 anos de atividades neste mês e…

1 semana ago