JK: O PECADO MAIS FEIO, O QUE MAIS AMESQUINHA, É O DA INGRATIDÃO
JK: O PECADO MAIS FEIO, O QUE MAIS AMESQUINHA, É O DA INGRATIDÃO
JK: O PECADO MAIS FEIO, O QUE MAIS AMESQUINHA, É O DA INGRATIDÃO

Alegria maior não me poderia ser dada do que esta de me encontrar aqui no dia de hoje, nesta reunião de amigos, em torno desta mesa mineira, a festejar os sessenta anos de nossa bem-amada capital.

O que torna, a meu ver, mais do que outro sentimento qualquer, identificável a dignidade da pessoa humana é a constatação da existência nas criaturas de um sentimento inspirado no reconhecimento de favores, de atos de benemerência ou de amor de que fomos objeto. Não temer, não se diminuir, mas rejubilar- se e enaltecer-se com a lembrança de mercês recebidas, eis a indicação de nobreza de uma alma. O pecado mais feio, o que mais amesquinha, é o da ingratidão. Este — não o tenho na consciência.

Que me seja, pois, permitido dizer a esta cidade — no dia dos seus verdes sessenta anos — o quanto lhe sou obrigado.

Não me teria sido possível falar-vos esta noite, na qualidade e com as responsabilidades de chefe da nação, se não se tivessem aberto, em dia longínquo, as portas e os corações desta nossa jovem capital para um certo e pobre menino que, nas fronteiras da adolescência, aqui aportou, vindo de Diamantina, para a ambiciosa conquista de um lugar ao sol.

Em Belo Horizonte, desarmado e só, enfrentei a pobreza e a inexperiência; aqui me empenhei nas primeiras lutas pela subsistência; aqui tomou forma a minha vida e se possibilitou a minha carreira; aqui estabeleci as raízes de alguns dos meus afetos mais sólidos; aqui aprendi muitas coisas, e a primeira de todas elas, que é a crença no Brasil. Devo a Belo Horizonte, em grande parte, a minha convicção inabalável, a minha certeza no futuro do Brasil, na possibilidade de se fazer deste nosso país um dos maiores e mais vigorosos países do mundo.

O viajante pouco mais que menino, deslumbrado e curioso, que aqui chegou sem amparo há quase quarenta anos e que é o mesmo homem maduro que vos fala neste instante, e a quem os desígnios da Providência elevaram à presidência da República, este, além do muito mais, que não tem conta, deve à nossa bela e próspera capital a lição, a graça admirável e histórica de ter assistido ao processo do acelerado crescimento de uma cidade.

Quem visita, pela primeira vez, Belo Horizonte se surpreendente com o milagre de seu desenvolvimento em prazo tão pouco dilatado. Ainda estão vivos alguns dos que assistiram à instalação do primeiro governo do nosso Estado, na cidade nova em folha, e eis que já tudo se agigantou e se avolumou, e, nestas largas avenidas e ruas, se movem seres que aqui mesmo abriram os olhos pela primeira vez à luz deste céu incomparável, e outros numerosos que vieram de todas as regiões do Brasil e do estrangeiro para colaborar conosco neste processo constante, de que não só os mineiros, mas todos os brasileiros, por tantos títulos, se orgulham.

Aos que duvidam de nossa pátria, aos que põem reticências à sua expansão, não há melhor resposta do que esta: de um sítio deserto e inóspito, em seis décadas, fez-se a metrópole moderna e estuante de vida, que agora vemos — grande empório dos sertões, com a sua pujante indústria a criar novas fontes de riqueza, seu diligente comércio a estender tentáculos por todas as direções, sua vida universitária, tão rica, a semear e a colher, em todos os campos da cultura — cidade admirável, para cujo florescimento se diria que o homem de estudos, o artista, o chefe de empresa, o trabalhador, em nobre emulação, se empenham desveladamente, cada qual porfiando em lhe dar o melhor do que têm, para fazê-la mais sua.

Em meio aos árduos trabalhos e penas por que tenho passado na vida pública, alivia-me, como um lenitivo, o pensamento de que, ombro a ombro convosco, pude esforçar-me, pude fazer algo por esta jovem metrópole. Procurando, como prefeito, continuar a obra dos meus ilustres antecessores, alguns dos quais tenho a satisfação de ver aqui presentes, não me poupei esforços para torná-la mais bela, a fim de que mais vos pudésseis orgulhar do seu nome, e mais confortável, a fim de que assegurasse aos seus operosos habitantes as comodidades que são a justa remuneração do esforço humano. Vi, com júbilo, que, mercê desse admirável espírito de continuidade, que é apanágio dos homens de Minas, os que me sucederam também não cessaram de engrandecê-la, não cessaram de acumulá-la de novos atrativos e de novos benefícios.

Como governador, diligenciei por que se multiplicassem as suas indústrias, suscitando novos e arrojados empreendimentos, como a Mannessmann (atual Vallourec Tubos), e pondo à disposição dos homens de empresa centenas de milhares de quilowatts de que necessitavam para as suas iniciativas. Ligações rodoviárias essenciais se abriram para permitir a expansão do grande centro fabril, do grande núcleo comercial que se criava no coração mesmo de Minas.

Finalmente, alçado à suprema magistratura da nação, não me dei por quite, não me senti desobrigado para com Belo Horizonte. Faltava completar a sua integração no poderoso triângulo industrial, do Centro-Sul do País, eixo em torno do qual gira o melhor da produção brasileira. Acelerei a construção da nova rodovia que nos dá acesso ao Rio, pude inaugurá-la, ao término do meu primeiro ano de governo, e mandei atacar celeremente o grande caminho de São Paulo — a rodovia Fernão Dias — sem me descuidar de outra estrada de capital importância — a que vos liga a Vitória. Esses esforços, no setor rodoviário, terão como remate a ligação desta cidade com Brasília, e sabeis o que significa, para Belo Horizonte, estar a meio caminho de Brasília ao Rio, a meio caminho de Brasília a São Paulo, a meio caminho de Brasília a Vitória, a meio caminho de Brasília a Salvador.

Fo?rum do Desenvolvimento Econo?mico
Fo?rum do Desenvolvimento Econo?mico

Mas, como sabeis, não tenho cuidado só de estradas. Outros aspectos da economia mineira ocupam, por igual, a minha atenção e o meu esforço. Dentro em pouco, graças à cooperação do Governo Federal com a administração mineira, o potencial de Três Marias será trazido às vossas portas; 520.000 quilowatts estarão a serviço do Centro e do Norte de Minas, a estimular novas indústrias. Quero anunciar-vos, a esse propósito, que Minas Gerais não ficará à margem da indústria automobilística. Dependendo apenas de entendimentos complementares, com relação a exigências legais e financeiras, o projeto dá Simca poderá ser posto em execução dentro em breve. E fabricareis também automóveis, participareis também dessa indústria de tamanha repercussão em nossa economia.

Com essas realizações, com o apoio que o meu governo vem dando à execução do programa elétrico regional a cargo da Cemig; com a criação da Usiminas, em colaboração com o governo do Estado; com as obras do reforço ao abastecimento d’água de Belo Horizonte, que estarão prontas dentro de dois anos e suprirão as necessidades de sua população até quando atinja dois milhões de habitantes; com a solicitude com que vem o meu governo cooperando com o honrado e esclarecido governo Bias Fortes – incansável na defesa dos interesses de Minas — creio que posso dizer, nesta assembleia, de família, que continuo fiel a Belo Horizonte, que continuo a dar-lhe o melhor da minha energia, o melhor da minha simpatia, o melhor da minha devoção.

Convosco estarei sempre a pelejar para que esta cidade, já grande, já poderosa, conheça dias ainda de maior esplendor e riqueza.

Na vossa ambição de progresso, na vossa lição de pioneirismo, na desmedida audácia daqueles que criavam esta cidade, o Brasil está-se inspirando para edificar Brasília.

Se nós mineiros fizemos, construímos em tempo mínimo Belo Horizonte — por que do esforço, da tenacidade do Brasil inteiro não poderá nascer Brasília?

Ufano-me de que tenha cabido a um homem desta região a oportunidade de concretizar esta velha aspiração pioneira, da mudança da capital para o seu lugar exato, que significa uma acertada medida de defesa do Brasil, de posse integral do Brasil, de conquista efetiva de uma das zonas mais admiráveis e fecundas de nosso imenso território.

A ideia de Belo Horizonte teve os seus inimigos, os seus detratores, os seus velhos do Restelo a protestar contra a ousadia, que tão temerária lhes parecia. Que é feito deles, que é feito dos argumentos especiosos, das observações maliciosas tendentes a desencorajar a fundação de nossa cidade? Amanhã, todos os que se erguem contra a nova capital da República também serão confundidos, emudecerão em face da pujante realidade. Não há obra fecunda que não conheça o combate, a negação, o repúdio dos que preferem assistir aos fracassos do esforço alheio a assumir o dever de trabalhar, de lutar pelo bem comum.

Prometo neste dia de hoje — e mais uma vez o faço — não esmorecer, não me deixar envolver pela onda de desânimos com que uns poucos procuram em vão destruir-me o ânimo. Prometo pelo Brasil, pelas gerações de amanhã, prometo pelo amor jamais desmentido que vos tenho, Belo Horizonte, que nada me fará diminuir o ritmo deste trabalho que estamos executando e que trará consequências benéficas imensas a nós todos, à nossa pátria. O meu programa realista de metas será cumprido até o fim e já está avançando a sua realização, para melancolia dos céticos, mas para o júbilo dos homens de boa vontade e de boa-fé.

Já sofri e já trabalhei demais para desistir dos meus propósitos de proporcionar ao nosso país a sua recuperação e ativar o surto, infelizmente retardado, de seu progresso. Vereis que, com o tempo, muitas coisas serão aclaradas e serão melhor compreendidas. Trabalhar pelo Brasil recompensa. Sou um homem de fé e homem de fé o serei até à morte, aconteça o que acontecer, por mais que conjurem e se congreguem as forças negativas, que estamos acuando e perseguindo com destemor e simplicidade, movidos pelo amor à nossa terra.

Aqui vejo os cidadãos mais conspícuos de Minas Gerais, a começar pelo meu leal amigo o Governador Bias Fortes; aqui estão os dignitários da nossa Igreja, o Prefeito Celso Melo Azevedo, os representantes dos diversos partidos, da Justiça e de todas as classes; mas não contemplo apenas os que estão fisicamente presentes, pois para mim presentes estão também, em espírito, todos os que criaram Belo Horizonte — os homens de Estado que puseram em prática a ideia, os que fizeram o seu moderno traçado, modelando a fisionomia urbana, e os humildes que colaboraram com o seu trabalho anônimo para erguer tudo que aí está.

As grandes cidades são obras de Deus. O esforço benemérito do homem que constrói é presidido pela vontade divina. Não há grande cidade que não obedeça a uma inspiração que vem do Alto. Nosso desenvolvimento é uma bênção divina. Disto não nos devemos esquecer. Como as árvores, as culturas nos campos, as cidades crescem vivificadas e aquecidas pelo sol do Eterno. Que Deus proteja e vele por esta minha cidade — bem minha, permiti-me que vos diga — porque me acolheu e me amparou sempre, bem minha pelo amor que lhe dedico.

*(Discurso proferido no dia 12 de dezembro de 1957, durante as comemorações do sexagésimo aniversário de fundação de Belo Horizonte – Texto extraído da Coletânea de 3 livros intitulada “Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento – Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI”, de autoria de Carlos Alberto Teixeira de Oliveira e lançada em junho de 2019 por MercadoComum – Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios – Há 29 Anos Formando Opiniões.)

 

JUSCELINO KUBITSCHEK – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO: Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI

JUSCELINO KUBITSCHEK – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO - Exemplos e Lic?o?es ao Brasil do Se?culo XXI
JUSCELINO KUBITSCHEK – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO – Exemplos e Lic?o?es ao Brasil do Se?culo XXI

A Coletânea contém, no conjunto, 2.336 páginas e compõe-se de três edições impressas distintas:

 

-Volume I – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO

 

-Volume II – O DESENVOLVIMENTO EM 1º LUGAR

A Construção de uma Nação Próspera e Justa

 

-Volume III – MENSAGEIRO DA ESPERANÇA

Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI

– Coletânea de 250 discursos proferidos no exercício do mandato

da Presidência da República – 1956 a 1960

 

Maiores informações: MercadoComum – 31 3281-6474 / [email protected]

Acesse: mercadocomum.com

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