“Acedi com prazer ao convite do benemérito Rotary Clube para falar-vos nesta ocasião e agradeço a oportunidade ao seu ilustre presidente, doutor José Ermírio de Morais Filho, que, além de realizar uma obra industrial de valor, sabe encontrar tempo para intensa atividade voltada para o bem público.
É-me particularmente grata a presença do eminente chefe do governo paulista, doutor Carvalho Pinto, cidadão de altos méritos e homem de Estado cuja administração se revela capaz, fecunda e proba. A ação do seu governo se está desenvolvendo num planejamento de larga envergadura, cuidadosamente elaborado e cuja execução permitirá a esta dinâmica unidade da Federação alcançar a sua meta de transpor definitivamente a barreira do subdesenvolvimento na década a abrir-se no ano próximo. O Governo Federal continuará a prestar, na esfera de suas atribuições, toda colaboração que estiver a seu alcance para o progresso de São Paulo num Brasil cada vez mais próspero e mais unido.
Aproveitando o ensejo de falar, nesta admirável cidade de São Paulo, a tantos elementos da sociedade paulista, homens de empresa e das classes liberais, todos empenhados, como eu, na luta pelo desenvolvimento nacional, quero retomar a afirmação que reiteradamente venho fazendo, desde quando candidato à Presidência da República: não podemos, não devemos e não queremos continuar nação de importância secundária, vivendo na dependência da exportação de produtos primários.
Tornando o tema do desenvolvimento o principal de todos os meus pronunciamentos, creio interpretar, com exatidão, um estado de ânimo do povo brasileiro, ansioso por encontrar o justo caminho de seu destino. Não me recuso a falar por essa causa. Não alimento mais nenhuma ambição pessoal, nem tenho votos a angariar, pois a providência me conduziu a um posto que jamais ousei ambicionar, tão alto me parecia.
Num exame superficial, meus seguidos pronunciamentos poderiam ser considerados dispensáveis, e o tempo que a eles dedico melhor empregado se gasto em tarefas positivas e concretas. Entretanto, meus senhores, preparar a batalha do desenvolvimento, criar uma atmosfera psicológica que torne impossível o retrocesso do movimento que vamos levando adiante, constitui, a meu ver, obra tão importante quanto as metas, que, mercê de Deus, estarão atingidas, ou próximas de atingir-se quando se extinguir o meu quinquênio presidencial. É preciso que o povo brasileiro esteja espiritualmente unificado, conscientemente preparado para prosseguir na campanha da sua expansão e do aumento do seu poderio.
As tarefas positivas e concretas têm merecido atenção ininterrupta, continuada, incessante do meu governo. Quando Brasília estiver concluída e as novas rodovias que já cruzam o país devidamente completadas; quando o rio São Francisco estiver sendo navegado o ano inteiro; quando as grandes barragens e usinas geradoras estiverem em plena produção; quando as obras de enriquecimento do Nordeste estiverem em rendimento total, se considerarmos o que se fez dentro da exiguidade do tempo de que dispunha o governo, então há de avultar o trabalho realizado. Contudo, em relação ao Brasil, às suas possibilidades, à sua grandeza territorial, forçoso é concluir que as metas do meu governo não passam de um começo, de um marco apenas, de uma arrancada básica. Não falo como um visionário — embora não me repugne ser considerado um visionário — mas como brasileiro e realista, como alguém que sabe o que afirma.
Falo como um homem que tomou contato com esta imensa nação, que a percorreu em todas as suas direções, que auscultou a opinião pública das capitais e dos lugares mais humildes, esquecidos e modestos; que palmilhou sítios ínvios e recolheu um anseio profundo, por vezes rudemente manifestado, quase direi informulado, em favor de um Brasil livre dos obstáculos que impedem a sua marcha para o futuro. Se não me tenho recusado a propagar a ideia do desenvolvimento e a emprestar-lhe toda a autoridade do meu cargo, é porque me sinto intérprete autorizado dessa aspiração permanente, é porque toquei nessa poderosa matéria-prima que é o Brasil, não o Brasil das grandes cidades, já configurado, mas o Brasil ainda irredento, ainda preso a um injusto cativeiro de pobreza.
Reputo mais importante do que qualquer outra medida de caráter prático esta, a de elucidar a opinião pública sobre a necessidade de dinamizarmos o país, de insuflarmos na alma brasileira a ambição da grandeza.
Vós, paulistas, estais em condições muito especiais de me compreender. Construístes algo de forte e de sólido. Sois um Estado em que a agricultura e a indústria, atividades intimamente ligadas e interdependentes, marcharam solidárias, e num exemplo digno de ser seguido por todo o Brasil. Vossa posição é de singular importância e todo o Brasil o reconhece e proclama — e o proclama e reconhece com legítimo orgulho, sem ressentimento nem inveja. Todo o país, até nas regiões mais afetadas pela pobreza, se regozija com a prosperidade desta unidade da Federação. Eu mesmo o proclamei várias vezes quando candidato à Presidência da República, depois de ter ouvido por toda a parte confidências em que o nome de São Paulo era citado como exemplo do que poderão vir a ser um dia os outros Estados brasileiros.
A maneira por que São Paulo é encarado pelas demais unidades da Federação decorre também da índole deste Estado, que a todos recebe em sua generosa hospitalidade. À proporção que ia crescendo, mais vivo, mais enraizado e mais permanente se tornava o seu sentimento de brasilidade.
Aqui trabalharam e continuam trabalhando elementos oriundos das procedências mais diversas. Europeus, asiáticos, habitantes de vários países deste Continente, brasileiros de todos os rincões, todos se irmanam no mesmo esforço para o engrandecimento crescente do Estado. Estais assim, paulistas, em condições de compreender que a evolução vigorosa e harmônica que aqui se vem processando deve ser repetida em todo o país. Insisto em que não temos o direito de ceder ao ócio; que é uma verdadeira inconsciência perdermos um tempo precioso em lutas sem sentido, quando se encontram em situação de atraso e de miséria zonas extensas do nosso território.
Para que logremos continuar com êxito a batalha do desenvolvimento, torna-se imprescindível desejar a colaboração estrangeira e incrementar o intercâmbio com o exterior. Nosso primeiro dever, no entanto, consiste em nos pormos, nós próprios, a lutar pelos nossos interesses, confiando a nós mesmos as tarefas que reputamos essenciais e redentoras de nossa economia. O destino do país depende — sem falarmos dos desígnios da Providência — da soma de dedicação e trabalho dos habitantes desta terra imensa e rica em possibilidades.
Se quisermos ver reduzida a distância, infelizmente excessiva, que nos separa dos países desenvolvidos, não só teremos de madrugar no trabalho, mas ainda de empregar, com justo e compensador rendimento, as energias, tanta vez dispersas e esbanjadas a esmo.
Contamos com reservas de inteligência e capacidade de trabalho para uma empreitada como esta de acelerar o ritmo do nosso crescimento; manda, porém, a justiça reconhecermos as dificuldades do homem brasileiro do interior para que o seu trabalho tenha o rendimento requerido. Não seria demais evocar a solidão em que viveram, até hoje, milhões de patrícios nossos, sem vias de comunicação, sem recursos técnicos, sem saúde, sem instrução e até sem alimentação suficiente. Se alinhássemos os índices de mortalidade precoce, se vos apresentássemos o balanço de tanta pobreza acumulada, só vos restaria admirar o valor, o patriotismo, a coragem com que, enfrentando condições contrárias, se afirmou a civilização brasileira.
A edificação do nosso parque industrial exige que ainda compremos equipamentos novos. Somos obrigados a importar certas matérias-primas para fábricas e parte dos combustíveis líquidos para consumo interno. Embora nos limitemos a importações essenciais, não é pequeno o montante de divisas que nos vemos forçados a despender. A receita de nossas exportações, proporcionada pelo café e alguns outros produtos, não atende aos reclamos da expansão do Brasil. Temos que vender mais, há que ampliar as correntes tradicionais de exportação e procurar mercados novos para nossos produtos. Apreciei as oportunas palavras do ministro das Relações Exteriores, senhor Horácio Lafer, que, ao assumir a pasta, manifestou o seu propósito de fazer sentida a presença do Itamarati onde quer que se apresentem novos clientes para nossos produtos. A tal propósito, julgo adequado assinalar que o problema das exportações brasileiras não depende somente da nossa atividade no exterior, mas envolve problemas estruturais.
Para vender, precisamos de produzir o que seja vendável, e nas melhores condições. Importa, para consolidar nossa base econômica, diversificar nossa produção, encontrar a via de acesso a um regime de mais ampla produtividade. Essa tarefa, urgente, requer leal, profundo e efetivo entendimento entre o governo e as classes econômicas. Bem sabeis, vós todos, homens responsáveis que sois, vitoriosos na iniciativa privada, patriotas e idealistas, fautores do progresso nacional, bem sabeis que vivemos uma hora decisiva e que os caminhos do desenvolvimento se confundem com as estradas da segurança e da sobrevivência do país. Se mantivermos apenas o presente ritmo de desenvolvimento, pouca esperança haverá de nos igualarmos um dia aos países altamente industrializados; e se nem esse ritmo insuficiente pudermos manter, nossa situação se tornará verdadeiramente inquietadora. Eis por que governo e iniciativa privada devem convergir para o objetivo supremo do desenvolvimento, sob o prisma da segurança da nação brasileira. O governo tem muito a aprender dos que deram a São Paulo sua pujança industrial e aos que fundaram a sua riqueza agrícola. Temos de dar juntos um grande impulso, e é para isso que aceitei vosso convite e aqui me encontro entre vós.
Não ignorais que a obra interna de desenvolvimento encontra correspondência no campo das relações internacionais. É inegável que o Brasil começa a colocar-se, no que toca a sua política exterior, em termos de maior realismo, adequando sua ação à presente conjuntura mundial, com os seus problemas tão numerosos e complexos.
Com a Operação Pan-Americana, demos uma prova de que deixávamos de viver num mundo de puras fórmulas e passávamos a participar da grande aventura destes tempos novos. Finda a última conflagração mundial, com a derrota dos preconceitos pseudocientíficos de superioridade racial e de missões de povos conduzidos por chefes iluminados, houve curta pausa em que as nações líderes do mundo se ocuparam da dura tarefa da reconstrução.
Inicia-se agora um movimento universal, marcado pela ânsia de erradicar o subdesenvolvimento. Os nacionalismos começaram a impregnar-se desse desejo de criar riqueza e conquistar a emancipação econômica para os povos submetidos à ignorância, ao flagelo das endemias e à falta de um mínimo de obras de infraestrutura que lhes permitissem entrar numa era de construção. Na América Latina, o anseio de desenvolvimento esperava a sua formulação e tradução em termos de política continental.
Essa doutrina — não o afirmo eu, mas a voz dos estadistas do continente inteiro — está contida na Operação Pan-Americana. Somos pelo desenvolvimento do Brasil; somos igualmente partidários do desenvolvimento harmônico do continente. Nossa política interna e nossa política externa — em seu campo natural de atuação, que é o Hemisfério — ordenam-se e unificam-se em torno deste pensamento central: a luta contra a pobreza, geradora de males e revoltas para a humanidade, contra a miséria que ofende a Deus e a nossa consciência cristã. A ideia da Operação Pan-Americana vai-se impondo aos poucos, vencendo dificuldades naturais, não tantas e tamanhas quanto supúnhamos.
Aos poucos, o nosso conceito de solidariedade continental granjeia partidários, não só nos países que mais diretamente receberão seus benefícios, mas ainda naqueles que se beneficiarão indiretamente, ou a prazo mais longo. Testemunhos eloquentes nos convencem da justeza e oportunidade do movimento iniciado há pouco mais de um ano. Considero digna do maior relevo a coincidência agora verificada entre a tese que a Delegação brasileira levou à Conferência dos Vinte e Um em Washington e o pronunciamento recente de um dos homens mais diretamente responsáveis pela política exterior dos Estados Unidos e que chefiou a delegação norte-americana àquela reunião. Retoma ele com brilho a nossa análise e não deixa de assinalar que, se os países subdesenvolvidos chegarem à conclusão de que não poderão atingir o progresso dentro da liberdade, ficarão expostos às seduções de alternativas contrárias à índole dos povos democráticos. E sobretudo reconhece a necessidade imperiosa de um grande esforço de desenvolvimento econômico por parte do mundo livre, para que não venha a ser um dia superado pelo das economias planificadas. É exatamente esse esforço conjugado que a Operação Pan-Americana propõe ao continente.
Meus Senhores: em nossas mãos está o destino deste grande país. Se tivermos confiança e resolutamente nos dispusermos a não poupar sacrifícios para que sejam lançadas as bases econômicas e espirituais do nosso desenvolvimento, o futuro confirmará o nosso entusiasmo, e nossos filhos hão de orgulhar-se de pertencer a uma nação não somente livre e cheia de possibilidades, mas economicamente sadia e plenamente realizada.”
*Discurso proferido em São Paulo – SP, em 14 de agosto de 1959, sobre a política de desenvolvimento de seu governo, durante conferência no Rotary Clube da Cidade.
JUSCELINO KUBITSCHEK – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO: Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI
O textos citado anteriormente consta da Coletânea de 3 livros intitulada “Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento – Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI”, de autoria de Carlos Alberto Teixeira de Oliveira e lançada em junho de 2019 por MercadoComum – Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios – Há 29 Formando Opiniões.
A Coletânea contém, no conjunto, 2.336 páginas e compõe-se de três edições impressas distintas:
-Volume I – PROFETA DO DESENVOLVIMENTO
-Volume II – O DESENVOLVIMENTO EM 1º LUGAR
A Construção de uma Nação Próspera e Justa
-Volume III – MENSAGEIRO DA ESPERANÇA
Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI
– Coletânea de 250 discursos proferidos no exercício do mandato da Presidência da República – 1956 a 1960
JUSCELINO KUBITSCHEK
Profeta do Desenvolvimento:
em 3 volumes e 2.336 páginas
Juscelino Kubitschek nasceu em Diamantina, em 12 de setembro de 1902. Da pequena cidade mineira saiu para se tornar deputado federal (1934-1937), prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), governador de Minas Gerais (1950-1954) e presidente da República (1956-1961), com o slogan “Cinquenta Anos de Progresso em Cinco Anos de Governo”.
Toda esta expressiva trajetória, que marcou o desenvolvimento econômico e social do Brasil, encontra-se relatada nas páginas de “Juscelino Kubitschek – Profeta do Desenvolvimento – Exemplos e Lições ao Brasil do Século XXI”, obra composta por três volumes que acaba de ser lançada pelo economista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, Presidente/Editor Geral de MercadoComum – Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios e Presidente da ASSEMG – Associação dos Economistas de Minas Gerais e que agora já pode ser adquirida.
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