Por: Fernando Soares Rodrigues (Jornalista especializado em economia e finanças)
Sem conseguir ao menos superar a inflação neste início de ano, o investidor em renda fixa ou na maior parte dos fundos e ações fica atento a fatos econômicos e políticos, atos e declarações de autoridades para tentar recuperar as esperanças de melhores dias para o mercado financeiro.
A virada das expectativas começou em 24 de janeiro passado, com a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que manteve a taxa Selic (juros básicos da economia) em 7,25% ao ano. Os participantes do mercado entenderam que o governo passou a se preocupar mais com a inflação e assim deixam o pessimismo de lado e assimilam um ligeiro otimista quanto à possibilidade de obter rentabilidade com ativos financeiros. Os que não admitem essa hipótese passam a consumir e a se endividar mais ou buscam a opção de ativos reais como imóveis.
Em continuidade à sinalização do BC, a presidente Dilma Roussef afirmou que não deixará voltar a instabilidade monetária, quase ao mesmo tempo em que lançava sua candidatura à reeleição. Para muitos, foi justamente a estabilidade monetária – inflação baixa –, lançada no governo Itamar Franco com o Plano Real, que continuou a ser implementada em seguida pelo governo Fernando Henrique Cardoso e mantida pelo governo Lula que permitiu ao PT (Partido dos Trabalhadores) comemorar os 10 anos no poder.
Na sequência, o presidente do BC, Alexandre Tombini, liberou novos indicativos de que pode voltar a utilizar os juros para combater o antigo fantasma da economia. Declaração parecida foi feita pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, sobre a possibilidade de o BC recorrer aos juros e não mais somente ao câmbio e a outras medidas como desonerações tributárias para conter a escalada da inflação.
O mercado financeiro passou a considerar que a fase exclusivamente “desenvolvimentista” da política econômica do governo Dilma perdeu intensidade.
Mito contestado
A inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 0,86% em janeiro e 6,15% no acumulado dos 12 meses anteriores no período. A inflação anualizada de janeiro de 2013 foi a maior dos últimos dez anos, o que obrigou o governo a reformular sua postura. A sorte do país é que as pessoas não passaram a sacar dinheiro das cadernetas de poupança, que rendem 0,5% líquido ao mês na modalidade antiga e 0,41% ao mês na modalidade nova. Os outros ativos de renda fixa, como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e fundos, têm menos chances de superar a inflação próxima do teto da meta de 6,5% com a Selic na faixa de 7,25% ao ano. Os CDBs e fundos oferecem rentabilidade líquida abaixo dos 7,25% ao ano, já que a taxa dos CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários) que lhes baliza os ganhos é menor. Esses ativos de renda fixa ainda estão submetidos a pesadas alíquotas do Imposto de Renda – entre 22,5% em seis meses até 15% em dois anos.
A geração mais nova, constituída por economistas ou especialistas financeiros, não se preocupa tanto com a inflação como os que sofreram com a alta generalizada dos preços que alcançou nada menos que 80% ao mês no governo Sarney, na década de 80 do século passado.
O baixo crescimento econômico do ano passado, apesar das medidas do governo para estimular o setor industrial e desestimular as importações, derrubou, mais uma vez, a teoria defendida por especialistas como o ex-ministro Delfim Netto sobre a viabilidade de se conviver com um pouco mais de inflação. A economia não se expandiu com a inflação maior, e os salários das classes emergentes, onde estão os principais eleitores de Dilma e Lula, estão também sendo corroídos.
Ajuste lento
O mercado financeiro não acredita, no entanto, que o BC possa recorrer a ajuste expressivo da taxa Selic para con- ter a inflação pressionada pelo custo dos alimentos no início do ano. E aposta que a Selic continuará em 7,25% este ano ou que deverá subir um pouco. O reajuste maior de um ponto percentual para 8,25% ao ano só se registraria em 2014, conforme a pesquisa do boletim Focus. O dólar deverá oscilar próximo de R$ 2,00 este ano e no próximo, também segundo a mesma pesquisa realizada com fontes do mercado. Já o percentual de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) caiu, na mesma pesquisa semanal, para cerca de 3% este ano e podendo alcançar 3,65% no próximo.
O superávit da balança comercial deverá terminar o ano no patamar de R$ 15 bilhões e registrar crescimento próximo desse valor em 2014. O déficit de todas as transações externas do País em janeiro atingiu o recorde de U$ 11,4 bilhões. O País precisará novamente receber elevado volume de investimentos externos diretos para fechar o balanço de pagamentos no final do ano. Este fator, junto com a necessidade de não valorizar muito o real frente ao dólar para ajudar a combater a inflação (fato negado pelo ministro Mantega), deverá ditar os rumos da política cambial brasileira.
O dólar fechou em 22 de fevereiro passado, na terceira semana do mês, em R$ 1,971, com queda acumulada no ano de 3,52%. Como não há expectativa de valorização expressiva do real frente ao dólar, pelo menos enquanto a inflação estiver alta, o investimento na moeda norte-americana através dos fundos cambiais ou em espécie pode não compensar.
O preço do ouro negociado com ativo financeiro encontrava-se em baixa de 6,11%, a US$ 1.572,40 a onça-troy (31,1 gramas) na Bolsa Mercantil de Nova York. O metal no Brasil acompanha a oscilação no exterior e cai mais devido à desvalorização do real. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros/Bovespa, o grama do ouro terminou cotado a R$ 99,851 em 22 de fevereiro passado e com queda de 8,81% no ano.
Incerteza na bolsa
O destino do principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, influenciado pelo desempenho das ações mais negociadas, como Petrobras e Vale, continua incerto após ter recuado 6,9% no acumulado do ano para de 57 pontos, em 22 de fevereiro passado. Incertezas quanto ao desempenho da economia interna e de muitas empresas, como a Petrobras e outras dos setores das áreas petrolífera e siderúrgica, somam-se aos fatores negativos externos: baixo crescimento dos EUA, menor expansão da China e retração econômica na zona do Euro.
Mesmo assim, estudos de corretoras como a do banco Itaú BBA estimam em 18,4% o potencial de alta das ações negociadas na Bovespa que têm valor de mercado de US$ 1,22 trilhão. Diversas ações têm potencial de alta segundo o Itaú BBA. Entre elas, a corretora cita os papéis das empresas de bancos como Brasil e Banrisul. E mais as ações da Vale, Klabin, Pão de Açúcar Cielo, Randon e CCR, entre outras. Antes de investir, a pessoa deve fazer uma análise cuidadosa de cada empresa e recorrer à consultoria de analistas de confiança para correr menos riscos. As estimativas quanto ao desempenho do mercado nem sempre são corretas porque ficam sujeitas a diversos fatores não previstos.
Até a primeira quinzena de fevereiro passado, ações de algumas empresas acumularam altas expressivas na bolsa paulista: Agrenco ON, 141,7%; Ccx Carvão ON, 75,6%; Panamericano PN, 27%. Ações de empresas do setor educacional voltaram a registrar bom desempenho no mesmo período: Abril Educacional Unit N2, 23,6%; e Anhanguera ON, 21,2%. No mesmo período, ações de companhias expressivas lideram as quedas: OSX Brasil ON, – 37,4%; MMX Mineração ON, – 33,3%; OGX Petróleo ON, -21% (todas três do grupo de Eike Batista). E mais: Usiminas PNA, – 20,8%; e Petrobras ON, 19,7%.
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