Ibovespa perde os 100 mil pontos e atinge o menor patamar em mais de oito meses
Ibovespa perde os 100 mil pontos e atinge o menor patamar em mais de oito meses
Ibovespa perde os 100 mil pontos e atinge o menor patamar em mais de oito meses

Luiz Felipe Bazzo

A bolsa brasileira começou a semana de 20 de março em alta. Contudo, na última quinta-feira (23) por volta das 11h entrou em queda acentuada. No primeiro pregão após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, o Ibovespa fechou o pregão aos 97.926 pontos, seu menor patamar desde 18 de julho do ano passado, quando registrou 96.916 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a bater em 96.996 pontos. 

A expectativa do mercado financeiro era de que o BC sinalizasse a possibilidade de diminuir a Selic em breve, mostrando uma melhora na economia e um horizonte mais otimista. Contudo, o comunicado mostrou que essa não é uma realidade para o Brasil, o Copom adotou uma postura dura e indicou que considera inclusive um novo aumento no percentual, contrariando as expectativas.

Como se não fosse o suficiente, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à postura do órgão fizeram com que o clima piorasse, acelerando o derretimento do índice. Esse cenário somado à incerteza acerca do novo arcabouço fiscal e a crise bancária internacional, gera um clima de tensão para investidores, que devem buscar apostar em mercados mais consolidados.

Esse não é um movimento normal que a gente costuma ver no documento, significa que o mercado já precifica uma piora, com uma maior deterioração da inflação no longo prazo. Mesmo com o Banco Central não citando esses períodos, é importante fazer a observação de que tanto o Focus quanto o comunicado do Copom levam esse cenário em consideração.

Em suma, o comunicado do Copom trouxe alguns recados importantes que precisam ser considerados daqui para a frente. O primeiro ponto é que não há o que comemorar, as incertezas fiscais ainda ameaçam o país, os investidores brasileiros precisam ficar alertas quanto às próximas decisões do Banco Central e principalmente as intervenções do governo federal na economia. É necessário destacar também que houve aumento das expectativas de inflação para 2023 e 2024, ou seja, não há perspectiva de melhora ou de corte de juros para os próximos meses.

Por último, muitos acreditavam que os recentes acontecimentos envolvendo os bancos nos Estados Unidos e na Europa, não afetariam a economia brasileira. Erraram. Está claro que já estão afetando. A conjuntura internacional e os recentes episódios, são monitorados com atenção, corroborando para elevar as incertezas e a volatilidade dos mercados. Outra ressalva que o BC deixou clara é em relação ao cenário internacional, a persistência inflacionária e os níveis de atividade e emprego seguem elevados, pressionando a trajetória da inflação global.

Estados Unidos

O Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) decidiu elevar a taxa básica de juros do país em 0,25 p.p., para o intervalo entre 4,75% e 5%. O aumento veio de acordo com o que era esperado pelo mercado, e indica uma mudança na avaliação do Fed sobre a economia.

Foi a primeira vez, desde março de 2022, quando começou o ciclo de alta, que o Fed não mencionou que “novos aumentos serão apropriados”, refletindo a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), do Signature Bank e do Silvergate, além dos temores com uma possível quebra do First Republic Bank. O banco central americano mencionou que “algumas políticas adicionais” podem ser necessárias, não descartando um novo aumento, mas já sinalizando um aperto monetário mais brando.

Até poucas semanas atrás, o consenso do mercado era que a alta seria de 0,5 ponto percentual, para conter a inflação americana que segue elevada. Mas após problemas no setor bancário, com a crise do Silicon Valley Bank (SVB) aumentando as discussões sobre o aperto monetário agressivo nos Estados Unidos, o mercado reduziu as expectativas de alta. Inclusive, a possibilidade de uma manutenção dos juros também chegou a ser discutida pelos investidores, mas a hipótese foi descartada, pois indicaria que o Fed estaria abalado com a turbulência bancária.

Quando perguntado sobre a influência direta que a crise dos bancos teria sobre a avaliação do comitê, Powell respondeu que o efeito de restrição de crédito vivido na economia americana poderá fazer parte do trabalho de restrição monetária e combate à inflação que estava no curso da autoridade. Para além da reunião de 3 de maio, Powell buscou reafirmar o compromisso com o controle da inflação. Porém, o ambiente é altamente incerto e nós não desprezamos a possibilidade que o ciclo de cortes seja iniciado ainda no quarto trimestre deste ano. Na minha avaliação, podemos ter uma nova alta de 0,25 ponto percentual na reunião de maio e um início do afrouxamento monetário apenas a partir de 2024. 

Câmbio

O clima no mercado de câmbio não está nada bom, com investidores reagindo não apenas à decisão sobre a Selic (a taxa básica de juros), que foi mantida em 13,75%, mas também aos receios de que a relação entre o governo Lula e o Banco Central piore. O comunicado duro do Banco Central em relação ao cenário para a inflação contrariou expectativas do governo e de grande parte do mercado. Para piorar, o Banco Central do Brasil (BACEN) não passou indicações de quando começará o corte de juros.

 

As razões para o BC não esperar realizar corte no curto prazo é a inflação elevada e as expectativas de inflação aumentando, além da incerteza em relação ao novo arcabouço fiscal. Vale destacar também que a Selic em patamares altos por mais tempo, torna o Brasil mais atrativo para os investidores estrangeiros, e é natural esperar uma queda do dólar ante o real. O receio de que a relação entre governo e Banco Central deteriore ainda mais, também ajudou a posicionar a moeda norte-americana em alta ante o real.

Com o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, a tendência é que a moeda se desvalorize nos próximos dias. Uma recessão, mesmo que leve, enfraquece o dólar frente às outras moedas.

O enfraquecimento da moeda americana nesta semana ocorreu por causa de um dos trechos do comunicado do FOMC (Comitê de Política Monetária dos Estados Unidos), em que diz que “acontecimentos recentes devem resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas e pesar na atividade econômica”. Essa fala dá a entender que a atividade nos Estados Unidos deve sofrer sim alguma recessão, algo que alguns players do mercado estavam começando a descartar.

No Brasil, o cenário deve ter predominância na evolução do câmbio ao longo dos próximos dias, principalmente especulações sobre o novo arcabouço fiscal em análise e a indicação pelo governo de um novo membro para a diretoria do Banco Central.

*Luiz Felipe Bazzo é CEO do transferbank, uma das 15 maiores corretoras de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.

 

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