Segundo a Abinee, houve piora no abastecimento; algumas empresas já indicam redução média de 31% na produção do 1º trimestre de 2020
A terceira sondagem realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) sobre o impacto do coronavírus na produção do setor eletroeletrônico apontou que 70% das empresa entrevistadas já apresentam problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos provenientes da China. Esse resultado indica um agravamento da situação em relação às pesquisas anteriores. Na primeira pesquisa (5 de fevereiro), o número de empresas com problemas era de 52%, e, na segunda sondagem (20 de fevereiro), 57% das consultadas apontavam impacto negativo.
A situação de desabastecimento é observada principalmente entre os fabricantes de produtos de Tecnologia da Informação, como celulares, computadores, entre outros. O levantamento contou com a participação de 50 indústrias das diversas áreas do setor eletroeletrônico.
De acordo com o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, a nova pesquisa indica agravamento da situação das indústrias que dependem dos componentes externos.
Segundo o levantamento da Abinee, 6% das pesquisadas já operam com paralisação parcial em suas fábricas, no levantamento anterior, esse índice era de 4%. Outras 14% já programaram paralisações para os próximos dias, a maior parte delas, também de forma parcial.
Apesar do impacto negativo na produção, a pesquisa indicou que 48% ainda não têm previsão de parar suas atividades. A decisão dependerá de quanto tempo persistirem os problemas no abastecimento.
Maior impacto no resultado do trimestre
Com esse novo cenário, passou de 17% para 21% o total de empresas que informaram que não devem atingir a produção prevista para o primeiro trimestre deste ano. Conforme essas associadas, a produção do período deverá ficar, em média, 31% abaixo da projetada. Este percentual também aumentou na comparação com a pesquisa anterior, que indicava uma queda de 22% na produção.
Para quase metade das empresas (48%), no entanto, as projeções devem ser mantidas; outras 31% afirmaram que ainda não é possível dar essa indicação.
Conforme o levantamento, as empresas devem demorar, em média, cerca de dois meses para normalizar o ritmo da produção, após a retomada dos embarques de materiais, componentes e insumos da China.
Produto final
Nesta pesquisa, destacou-se que 54% das empresas informaram que caso essa situação se prolongue por mais um mês e meio, cerca de 47 dias, haverá risco na entrega do produto final para os seus clientes. Essa foi a primeira vez que as indústrias pesquisadas deram essa indicação.
Redução de custos para tornar competitiva a produção local de componentes
Na opinião do presidente da Abinee, as dificuldades atuais alertam para o problema da dependência, não somente do setor eletroeletrônico, mas de toda a indústria brasileira, de materiais e componentes provenientes de um único mercado, como a China. “A situação revela nosso alto índice de vulnerabilidade em relação à importação de componentes”, observa.
Na análise do executivo, o Brasil precisa de reformas que reduzam os custos de produção de componentes localmente. “O país tem uma oportunidade ímpar de fazer as reformas estruturais, como a tributária, que tornarão a produção nacional competitiva internacionalmente. Do contrário vamos continuar vulneráveis”, diz.
Conforme dados elaborados pela Abinee com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do então Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), do total de insumos do setor (matérias-primas e componentes) cerca de 60% são importados e 40% nacionais.
A China é a principal origem das importações de componentes do Brasil, totalizando US$ 7,5 bilhões em 2019, o que representou 42% do total importado. Isso significa dizer que somente esse país foi responsável por 25% do total de insumos do setor (nacionais + importados).
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