Por: Daniel Resende e Felipe Sotto-Maior
Desde a abertura do capital, a OGX mantinha quase 100% de suas reservas financeiras guardadas em um fundo de investimento, o OGX63. Analisando a evolução do patrimônio deste fundo, percebemos que ele conta a história da companhia. Os diversos momentos da vida do fundo representam fielmente as fases vividas pela empresa, desde o IPO até a derrocada.
O OGX 63 Multimercado Crédito Privado – Fundo de Investimento em Cotas de Fundos de Investimento foi criado em dezembro de 2007 com dinheiro da própria companhia, proveniente do seu capital social e financiamentos privados e públicos. Ainda não existiam os recursos dos acionistas minoritários que investiram na companhia por meio da bolsa de valores.
Com a abertura de capital, as ações da OGX começaram a ser negociadas na Bolsa de valores no dia 13 de junho de 2008. Seguindo o que estava no prospecto, os recursos provenientes da venda dessas ações ingressaram no caixa da companhia quatro dias depois. Entre os dias 17 de junho e 02 de julho daquele ano, o fundo OGX63 recebeu aportes num valor total de pouco mais de R$ 6,44 bilhões.
Do valor total, R$ 5,64 bilhões correspondem ao valor da oferta inicial e R$ 803 milhões correspondem à oferta complementar que o Banco Credit Suisse tinha direito de adquirir por ser o Coordenador Líder da oferta. Por isso podemos afirmar que quase todo o dinheiro levantado com o IPO foi destinado ao OGX63.
A empresa chegou a ter mais de R$ 7,5 bilhões no fundo OGX63. Nesse momento, o projeto de operação da companhia ainda enfrentava etapas burocráticas. O consumo de caixa era irrelevante, e o patrimônio do fundo conseguia crescer, graças à rentabilidade.
A crise de 2008 atingiu o seu ápice poucos meses depois da abertura de capital. Apesar de não haver relatos de problemas operacionais na companhia, o preço da ação da OGX negociada na bolsa de valores despencou, perdendo cerca de 80% do valor.
No final daquele ano, o consumo de caixa da empresa começa a acelerar, porém ainda dentro do esperado pelo mercado. Ao longo de 2009 e 2010, o valor da ação se recupera, junto com a recuperação do mercado em geral. A OGX continua consumindo suas disponibilidades financeiras, mas o ritmo é considerado aceitável.
Depois ter terem amargurado um preço de R$ 2,50 por ação, os investidores da OGX assistem a recuperação da cotação e o papel atinge um pico recorde de R$ 23,39. Nesse momento, a OGX ainda possuía cerca de R$ 4,8 bilhões no fundo OGX63.
No começo de 2011, a companhia acelera os gastos e o consumo dos recursos em caixa. Os investidores começam a se questionar se a OGX vai ter fôlego financeiro para se manter em funcionamento até que a extração de petróleo comece a gerar faturamento. As receitas provenientes da venda de petróleo precisariam superar as despesas e permitir o crescimento do caixa, para que finalmente a empresa se tornasse operacional e financeiramente viável.
Em 2011, o consumo de caixa da empresa começa a acelerar e gera dúvidas sobre a sua viabilidade. Diversos atrasos para o início da produção fizeram com que o valor da ação caísse para R$ 9,09 e o caixa da empresa atingisse um perigoso patamar de menos de R$ 2 bilhões.
A produção da OGX começou em fevereiro de 2012, porém o mercado vinha antecipando esse acontecimento há cerca de três meses. As ações dobraram de preço em pouco mais de um semestre, chegando a R$ 18,41 por ação. A companhia assinou também contratos de venda com a Shell. Supomos que esses contratos devem ter previsto alguns pagamentos antecipados, pois o patrimônio do fundo mostrou alguns sinais de recuperação antes mesmo do início da produção de petróleo. Em maio de 2012, o OGX63 tinha saído do patamar de R$ 1,4 bilhões e alcançado R$ 2,3 bilhões em patrimônio.
A esperança de recuperação durou pouco. Nos meses seguintes a companhia enfrentou novos problemas técnicos e operacionais. A produção não crescia no ritmo esperado e prometido. Pelo contrário, a empresa estava extraindo menos petróleo do que extraiu nos primeiros meses de operação.
A companhia se viu em uma situação sem saída. Não havia caixa para continuar a produzir; sem produção não conseguia gerar caixa; com dificuldades operacionais e já cheia de dívidas, não conseguia levantar empréstimos. A situação só piora e seu principal porta-voz, Eike Batista, perde credibilidade, o que afasta ainda mais qualquer possibilidade de capitalização.
Na última fase, preço por ação passa a apresentar uma grande correlação com a quantidade de dinheiro em caixa – o mercado passa a considerar que as perspectivas de geração de valor são pequenas. Restam menos de R$ 200 milhões no fundo OGX63 e pouquíssima perspectiva de melhoras operacionais.
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