Por: Raimundo Couto
Chevrolet volta a importar o SUV Tracker para o Brasil; repaginado, o jipinho assume sua vocação urbana, mais “on do que off”, preço inicial é de R$ 71.990
Se até há pouco tempo o aventureiro urbano EcoSport voava em céu de brigadeiro, sem sofrer ameaça de espécie alguma da concorrência e mantendo isolado sua hegemonia como produto que fez surgir das cinzas uma nova Ford, as coisas estão mudando. Ainda muito longe de ter este predomínio ameaçado, o jipinho começou a conviver, com certa turbulência, recentemente, com a chegada do Renault Duster que, se não é um campeão de vendas, vem se dando bem no segmento, que cresceu quase três vezes nos últimos anos.
Por isto mesmo outros players não querem ficar fora desta fatia de mercado. É o caso da Chevrolet, que volta a importar o Tracker, agora vindo do México e em proposta diferenciada, mais “on do que off”. O menor SUV da gama GM usa a plataforma conhecida como GSV – Global Small Vehicle – que é usada no Sonic, Cobalt, Spin, Onix e Prisma. Com essa arquitetura, o comprimento do Tracker é bem parecido com a de um hatch compacto – 4,28 metros. São 1,77 m de largura, 1,64 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos.
O modelo foi desenvolvido na Coreia e é vendido em mais de 100 países. Na maioria deles, recebe a alcunha de Traxx, em outros é conhecido como Buick Encore e Opel Mokka, mas no Brasil ganhou o mesmo nome (Tracker) que marcou a trajetória de um valente utilitário produzido na Argentina que oferecia tração 4×4 e muitos equipamentos de série. O volume de importação está limitado à cota permitida pela Inovar-Auto e, para abrir o espaço e aumentar o número de unidades para ser comercializadas no país, a montadora americana precisou abrir mão de trazer a versão com motor de seis cilindros da Captiva e o modelo com carroceria três volumes do Sonic.
A expectativa de vendas para 2014 gira em torno de 10 mil unidades. Até o fim deste ano, a meta é colocar cerca de 2.500 novos Tracker no mercado. A disputa com o EcoSport acontecerá apenas para os modelos mais caros (Titanium com motor de 2.0 litros), com câmbio automático e pacote completo de fábrica. Vale ressaltar que o jipinho da Ford é um fenômeno que emplaca mais de quatro mil unidades mensais.
Pacote com recheio
Visualmente moderno e contemporâneo, o Tracker de roupa nova agrada por suas linhas que fazem lembrar à sua irmã maior e mais velha, a Captiva, esta sem alteração desde seu lançamento, há quase quatro anos. Mas ainda assim o jipinho tem suas particularidades que marcam seu estilo logo no primeiro contato, como a grade dianteira bipartida e que ostenta a tradicional gravata dourada. Os para-lamas são pronunciados e os arcos das rodas são robustos, marcando a linha de cintura alta do carro. Os faróis invadem o capô e parte da lateral do SUV, assim como as lanternas na traseira. O minispoiler completa o desenho do jipinho.
Mas está no recheio de equipamentos de série um dos atrativos do Chevrolet urbano. Além de airbags frontais duplos e ABS, ele vem com o já conhecido e difundido sistema multimídia My Link com GPS integrado. O dispositivo tem uma tela LCD de sete polegadas sensível ao toque que reproduz fotos, vídeos, músicas, aplicativos de smartphones, além de fazer ligações pelo celular via Bluetooth. À parte de todas estas funcionalidades, o sistema vem com rádio AM/ FM com leitor de áudio para arquivos MP3/WMA.
Completam os equipamentos de série: câmara de ré com sensor de estacionamento traseiro, bancos de couro e volante multifuncional. Numerosos mesmos são os porta-objetos. Há 25 distribuídos no modelo entre porta-copos, óculos, além de uma gaveta embaixo do banco do passageiro. Existem também dois porta-luvas. A Chevrolet ainda disponibiliza alguns opcionais, como airbags laterais e de cortina – totalizando seis – e teto solar elétrico. Completo, o Tracker chega a R$ 75.990.
Mecânica comum
Como divide a mesma plataforma com outros “colegas” do catálogo, também motor e câmbio são compartilhados. O bloco é o conhecido 1.8 litros flexível que gera até 144 cavalos a 6.300 RPM e 18,9 kgfm de torque a 3.800 giros – desempenho máximo sempre com etanol. O propulsor é o mesmo que equipa as versões hatch e sedã do Cruze. E como a versão LTZ também funciona como uma vitrine tecnológica para a fabricante, o SUV traz uma transmissão automática de seis velocidades. O câmbio é chamado de GF6 e está em sua segunda geração, que estreou esse ano no Onix e Prisma. Trocas manuais, só por meio de botões na alavanca.
Não há planos neste momento da GM importar a opção de tração nas quatro rodas (AWD ou 4×4 sob demanda), item que daria uma característica mais off-road ao Tracker (como aconteceu com seu antecessor) e que está disponível nos rivais EcoSport e Duster. Outra boa nova é a tampa traseira ter ficado livre do estepe, que segue sendo oferecido em seu primeiro concorrente, o EcoSport. Apesar de transmitir uma primeira impressão de ser um carro menor, ao entrar no Tracker se percebe que o espaço interno é satisfatório.
Seu entre-eixos é maior 3,4 cm maior que o EcoSport, o que garante uma boa acomodação para as pernas de todos os ocupantes; no banco traseiro. De comprimento mede 4,25 metros, 1,78 m de largura e 1,65 m de altura. A capacidade do bagageiro com rebatimento do banco traseiro é de 735 litros, e nessa condição — e sempre de acordo com a GM — é possível levar a bordo objetos com 2,3 metros de comprimento.
Tracker na pista
A apresentação aconteceu no CPCA da GM, ou Campo de Provas da Cruz Alta, em Indaiatuba, interior de São Paulo, o mais completo centro de treinamento, desenvolvimento e testes de veículos do Brasil. O tempo chuvoso impediu a avaliação em percurso preparado em pista off-road, os testes se limitaram a um trecho de 5 km em asfalto, com misto de diversos tipos de piso e uma volta na reta infinita do CPCA. Boa relação peso e potência e o ótimo casamento entre motor e câmbio deixam o jipinho gostoso de guiar. São 144 cavalos que empurram os 1.400 kg do Tracker, que não é carro feito para correr.
A transmissão automática de seis velocidades é suave e executa as trocas sem trancos e nos momentos adequados – de redução e mais aceleração. As mudanças de marcha podem ser feitas manualmente pelo polegar no botão na alavanca de câmbio. Nas curvas vai bem e não faz com que o condutor se lembre que está ao volante de um SUV, o comportamento é de um hatch. A suspensão tem calibração firme e absorveu bem as irregularidades simuladas da pista de testes da GM.
Sendo vendido em 100 países, cada um com sua peculiaridade, o modelo feito no México, que vem para o Brasil, recebeu modificações para enfrentar a dura realidade de nossas estradas, quase sempre em estado de conservação lamentável. A falta do controle de estabilidade (ESP) é um pecado original para um carro deste padrão e preço, mas não compromete a dirigibilidade, sempre lembrando que não é um carro com vocação para velocidade.
Ruído no interior é sentido quando o pedal do acelerador é mais fortemente pisado, isto porque até que o câmbio se entenda com o motor ele se mantém em altas rotações até encontrar a faixa de giro ideal e o ambiente tende a permanecer mais silencioso. O Tracker LTZ chega para competir com as versões mais caras do EcoSport Titanium Powershift e a diferença de preço não chega aos mil reais. O fato do Tracker não oferecer tração 4×4 e nem controle de eletrônico de estabilidade poderá prejudicar a vendas? Só tempo tem a resposta.
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