Se hoje achamos que o trânsito e a superpopulação são fenômenos recentes, basta ler a crônica “Belo Horizonte” para ver que sensação é antiga. “Enterraram a minha cidade e muito de mim com ela. Em nome do progresso municipal, enterraram a minha cidade”. Depois de reclamar das árvores arrancadas, das ruas asfaltadas e de casas demolidas em nome do progresso, o cronista recorre a Drummond para reunir expressões que justificavam seu amor, apesar de tudo, pela cidade; “há uma hora em que os bares fecham e todas as virtudes se negam”, “noite estrelada de funcionários” “a bailarina espanhola de Montes Claros” e “as pensões alegres dormiam tristíssimas”.
Mas o melhor é quando observa a influência do céu azul da cidade sem mar no povo de Minas. “Em mim, dado a comparações livrescas”, argumenta, “o azul de Belo Horizonte é puro azul de Mallarmé. Azul mallarmaico não define, antes amplia o segredo, enriquecendo-o de nuanças emocionais, tão mais abstratas quão mais real o seu vigor encantatório”.
Talvez seja este azul o que nos faz ficar, voltar, amar e lutar por esta cidade que não cabe mais em seus domínios.
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