Nos anos 1980 e início dos anos 1990, a inflação era tão alta (chegou a 2.708,2% no ano) que diziam que cada brasileiro era um “economista em potencial”, justamente porque ele sentia e administrava a constante falta de dinheiro.
Mas o que é inflação, afinal? Imagine um lugar que produz bens avaliados para venda em R$ 1 milhão. Agora imagine que há disponível na economia R$ 2 milhões para o consumo das famílias (eu disse apenas para o consumo, excetuando-se qualquer tipo de poupança). O resultado é simples: como não posso atender a economia com poucos produtos e muito dinheiro, eu ajusto os preços. Esses produtos são encarecidos para atender essa demanda e passam a ser vendidos por até R$ 2 milhões. Pronto, o que custava R$ 1, agora custa R$ 2. Demanda maior que a oferta. Ou, muito dinheiro na economia procurando poucos produtos. Inflação.
Em julho de 1994 foi implementado o Plano Real, que eliminou a possibilidade de uma hiperinflação no futuro e uma catástrofe econômica maior ainda. Isso foi feito em três etapas: Programa de Ação Imediata, que “preparou a casa” para a nova moeda; criação da Unidade Real de Valor, pela qual o valor da moeda brasileira foi equiparado ao do dólar; e por fim a implantação da nova moeda, o real.
Mas ao contrário do que as pessoas pensam, o Plano Real não foi um decreto político ou uma decisão com resultados mágicos, custou muito caro. Muito mesmo. E me refiro não à economia do Brasil, mas aos que viviam nela e que somavam efetivamente valores ao Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, os empresários e as famílias.
De qualquer forma, fazer sacrifícios faz parte da nossa vida para se obter progresso e foi isso que ocorreu na implantação do Plano Real. Antes do seu lançamento, vários processos haviam sido implementados. Destaco a seguir alguns dos principais:
– Cortes nos gastos públicos;
– Combate à sonegação fiscal;
– Privatizações;
– Política cambial e crédito internacional.
O período de maturação do plano foi até o ano de 2004. Nessa década o desemprego saltou de 5,03% para 12,57%. O PIB registrou crescimento tímido e chegou a ser negativo em 2003 (-0,20 %). A eliminação imediata da inflação também custou aos cofres públicos, cuja dívida cresceu significativamente — de R$ 153,2 bilhões em 1994 para R$ 946,7 bilhões em 2004.
Note ainda que a política cambial aplicada (manter o valor do real próximo ao do dólar), evitando principalmente a desvalorização do real ou especulação pelo dólar, apesar de baratear a importação de bens, também desaquecia o mercado interno (importações maiores) e desestimulava o mercado de exportações.
Até o início do Plano Real, a balança comercial tinha um desempenho médio positivo (vendíamos mais para o exterior do que comprávamos). É como se recebêssemos mais salário do que gastássemos em despesas cotidianas.
Depois da implantação do Plano, a queda foi tanta que desequilibramos a balança comercial, ou seja, passamos a importar mais do que exportar. Foi o resultado de manter, artificialmente a nossa moeda (Real) equiparada ao dólar.
Enfim, o Plano Real e sua história demonstra que qualquer decisão política e econômica, de alto impacto e longo prazo, não nos possibilita colher frutos instantâneos, necessitando de anos de maturação e sacrifício.
Autor: Daniel Cavagnari é coordenador do curso de Gestão Financeira do Centro Universitário Internacional Uninter.
- Brasil pagou R$ 746,9 bilhões de juros sobre a dívida pública consolidada nos últimos…
Mesmo podendo conquistar a 8ª posição no ranking das maiores economias neste ano, o PIB…
Sergio Augusto Carvalho O Mundial do Queijo do Brasil realizado mês passado em São Paulo…
Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Central Crediminas, João Batista Bartoli de Noronha Instituição teve…
Enóloga Marta Maia apresentou as vinícolas de Portugal Novidade foi divulgada durante eventos em Belo…
Maior fabricante de genéricos injetáveis do Brasil completa 40 anos de atividades neste mês e…