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A economia e os gritos vindos da rua

Por: Celso Grisi

 

Despertai-vos pelo que vem à frente

 

Alguns impactos das manifestações sobre a economia são mais óbvios. Outros não e vão ocorrer ao longo dos próximos meses. De início, observou-se a imobilização das empresas. O comércio e os serviços fecharam suas portas, e as vendas acusaram esse golpe ao final de cada mês. As contratações de mão de obra igualmente sofreram reduções. De maneira mais branda, as indústrias também foram obrigadas a paralisar a produção, preservando seus ativos econômicos e seu capital humano. Quando esses movimentos atingiram o setor de transporte, os prejuízos se agravaram de forma horizontal por toda a economia. Os trabalhadores não conseguiam se movimentar, ficando impedidos de comparecer aos locais de trabalho.

Em se tratando de longo prazo alguns efeitos negativos mais perversos são previstos de maneira quase consensual:

1) Investidores são avessos a incertezas. O clima político deteriorou-se muito fortemente e a base de apoio do governo ficou estremecida por sucessivas discordâncias com as posições da Presidência da República.

2) A previsibilidade política diminuiu muito e as posições das lideranças e das instituições políticas transformaram-se rapidamente.

3) Os protestos tendem a reduzir a confiança no desempenho da economia nacional. Essa confiança já vinha sendo arranhada com a crise de credibilidade provocada pela recente deterioração do crescimento, no cenário externo.

4) Esses estados de esgarçamento do tecido social guardam, ao longo da história recente das crises políticas, forte correlação com as saídas de capitais, transformando-se em elemento de pressão cambial. Aliás, o fenômeno é sempre mais visível na bolsa de valores brasileira. O Ibovespa tem um comportamento profundamente negativo ao longo desse ano e os ativos ali negociados atingiram preços tão baixos que se tornaram ativos atraentes no longo prazo. A fuga desses capitais afetou de tal forma as cotações que os programas de recompra começaram a pipocar em junho e ganharam corpo em julho.

O resultado final é que os investimentos, em fase de estudos ou de decisão, foram descontinuados ou, pelo menos, retardados. Mesmo os investimentos contratados passam por um período de desaceleração. O movimento de antecipação das remessas de dividendos também se intensificou e tenderá a ser mais forte quanto maior for a perspectiva de acentuação da desvalorização cambial, ora em curso. A crise é de confiança e governo central precisa sinalizar com seu compromisso de preservar os fundamentos econômicos do país.

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