A busca do bem estar, como forma de ser feliz

“O rei dólar está nu. A super abundância da criação monetária risca de fazer saltar o próprio dólar” (Jean Marc Vittori)

 

Na França, acabam de ser publicados dois livros que o público manifestou interesse pelos seus reconhecidos autores e por seus conteúdos, embora diversos um do outro. Assim, Michael Rocard o primeiro, unânime como político decente, ético, comprometido, escreveu com Pierre Larrouturou: “A esquerda não pode falhar” (Editora Flammarion, 2013, Paris, 364p).

Optei, entretanto, pelo de Stefano Bartolini, “Manifesto pela felicidade. Como passar de uma sociedade do ter para uma sociedade do bem estar” (Edição Les Libres qui Libèrent, 2013, Paris, 284p). Esse livro originalmente fora dado à luz na Itália, porque seu autor, originário daquele país, é professor de Economia Política e Economia Social, em Siena, sendo reconhecido por seus ensaios em revistas de vários países, além de obras importantes no campo da economia.

Essa breve síntese, a título de servir de guia para os interessados na temática, alguns dos temas abordados:

1) Um crítico de renome, Denis Clerc, escreveu que Bartolini acentua que vivemos o momento ou a era de crescimento negativo, grosseiramente entendido como “crescimento à beira do abismo”. Isso significa que “se o crescimento conseguiu melhorar o bem estar no passado agora ele contribui para degradá-lo” (Alternatives Economiques, 20/4/13).

2) Essa degradação – é o que preocupa – assenta-se nas relações em geral, a saber, as pessoas tendem a se isolar (crescimento do individualismo), enquanto a confiança nas instituições diminuem, aumentam vertiginosamente as desigualdades (motor das frustrações e das neuroses) e correm os indivíduos para buscar meios e condições de escapar dessas fontes do mal estar permanente.

3) Crítico feroz da degradação do homem contemporâneo – sempre infeliz –, Bartolini, fulmina o trabalho (mais rápido e mais intenso), a perda da relação familiar e social, tudo porque a publicidade atrofia e impulsiona para desejos impossíveis, a democracia se perverteu, o ensino somente dá valor à escala na sociedade (pois ninguém tem interesse em aprender) e o automóvel desarticulou o tráfego e a malha urbana, tudo isso favorecendoa degradação social, poluindo o meio ambiente e encurralando os transeuntes.

Bartolini, politólogo, na esteira de Ivan Ilich, que não cita, nem menciona, denuncia a “contraprodutividade” dos objetos que a sociedade moderna endeusa, na vã tentativa de que vão dar à vida utilidade e prazer sensorial. Em suma, para ele, está instaurado o mal estar globalizado, porque o âmago da questão é que o conhecido desenvolvimento econômico, além de empobrecer as relações humanas (afetivas e sociais), gera instabilidade econômica e enterra os bons costumes.

Dentre outras várias opiniões sobre a obra, ressalto a da jornalista Francesca Corrado, especialista em formação do bem estar, que assistiu o lançamento do livro (11/12/12), na Universidade em Siena. Dou valência ao que escreveu: “Para superar a crise necessitam-se de significados e modos de pensar e de produzir que vão além do individualismo e as motivações meramente utilitaristas ditadas pelo cálculo (matemático), mas centradas nas pessoas e nas relações”. Pois, em suma, “os tempos são maduros para tornar prioritária a exigência ligada à complexidade do viver das pessoas reais e ao próprio bem estar” (Well Lab Il Valore del Benessere, www.wellblab.it/index.php/2012/12/il-manifesto-per-la-felicita/ em 20/4/13).

Particularizando, o livro merece atenção, porque as propostas dão relevância ao ser humano, recusando o mercado, bem como o relativismo contemporâneo, fonte das crises éticas na vida das pessoas.

Complementando o pensamento de Bartolini, destacam-se os apêndices quantitativos matemáticos sobre a “felicidade americana” no período de 1975-2004, reproduzindo textualmente a autocrítica da US General Society Survey (texto dirigido a economistas e publicados pelo autor e dois professores também economistas, Bilancini e Pugno). Com a sua leitura, testamos e aferimos a nossa sensibilidade e o sentimento que temos por nossos semelhantes, comparando-os com os dos norte americanos (www.lan_pol.unici.it/quaderni/540.pdf, em 28/4/13).

Por esses motivos recomenda-se o livro do professor Stefano Bartolini para os interessados em uma economia dirigida aos homens prioritariamente.

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