Um balanço sobre a economia e o Ibovespa no ano passado e o que esperar em 2024

Entrevista com Rodney Ribeiro, economista e assessor de investimentos da WIT Invest

MC – Qual foi o desempenho do mercado de ações brasileiro, representado pelo Ibovespa, no primeiro ano do terceiro governo Lula?

RR – O desempenho tem sido muito bom, como já esperado desde as análises trazidas no ano de 2022, em que o mercado monitorava a possibilidade de queda da inflação no ano de 2023, bem como a curva de juros de longo prazo apresentando queda, o que trouxe otimismo para o mercado. 

O valor das empresas na bolsa, também extremamente descontadas, trouxe a oportunidade ao investidor de se posicionar ainda mais no mercado.

O resultado da balança comercial mais as aprovações de reformas estruturais, mesmo que ainda muito aquém do necessário, trouxeram a percepção de o Brasil se tornou de certa forma um bom “porto” para novos negócios, trazendo assim um aumento do fluxo estrangeiro.

MC – Quais foram os setores da Bolsa que mais se destacaram positivamente em termos de desempenho, e por quê? E quais setores que tiveram desempenhos piores? 

RR – Vamos destacar os três melhores setores:

  1. Imobiliário
  2. Financeiro

 III. Utilidade Pública

O motivo é bem simples: a queda da taxa de juros, que aconteceu a partir do começo do segundo semestre, proporcionou a busca por investimentos no setor; Outro fator, é a cultura brasileira de investir em imóveis, o que proporcionou a busca pelo setor. Além disso, tanto no setor financeiro quanto no setor de utilidade pública, se destacam empresas consolidadas, que possuem lucros mais estáveis e entregam resultados consistentes.

MC – Como os analistas avaliam a relação entre a alta da Bolsa de Valores e a queda dos juros nos Estados Unidos, em contraste com o cenário local?

RR – Uma oportunidade de retomada da economia global. Quando a queda da taxa de juros cai, isso demonstra uma perspectiva de retomada da economia, uma vez que a política monetária restritiva sai de cena. De certa forma, esperamos uma busca por investimentos no mercado americano, o que pode diminuir os investimentos no Brasil. Por outro lado, a bolsa brasileira ainda apresenta várias oportunidades, por possuir empresas ainda descontadas, o que torna atrativa a exposição no mercado brasileiro.

MC – De que forma o ambiente político foi caracterizado pelo mercado financeiro no primeiro ano do mandato de Lula e como isso influenciou os investimentos?

RR – Os mercados sentiram que a questão política está administrada com as propostas de reformas estruturais, que seguiram seu curso no campo político, da mesma forma que reforma tributária, orçamento e marco regulatório seguem seu curso. Isso de certa maneira, traz a confiança de que o “jogo está seguindo seu fluxo”.

MC – Como a reforma tributária impactou o desempenho da Bolsa de Valores em 2023?

RR – As empresas que têm suas operações no Brasil terão sua competitividade afetada, uma vez que a reforma traz um dos maiores impostos do mundo, segundo algumas projeções, na casa dos 28%. Menos competitividade, menos lucro. Menos lucro, menos atratividade para investidores. Esse pode ser um fator preponderante, que pode contribuir com a saída de investidores da bolsa brasileira, aliado ao fator de queda da taxa de juros americana, para que saiam e busquem alternativas no mercado americano. O principal foi as grandes fortunas, que sofreram maior impacto, uma vez que os dividendos serão tributados.

MC O fluxo de capital estrangeiro na B3 influenciou a valorização do Ibovespa ao longo do ano? Quais foram os principais fatores que contribuíram para a alta de 16,04% no Ibovespa entre janeiro e novembro de 2023?

RR – Valorizou, pois mostra que mais investidores buscam por aquisição de novos ativos. É a lei da oferta e procura. Mas outros fatores contribuíram para tal cenário: além do fluxo estrangeiro, a queda da taxa de juros e empresas com potencial de crescimento e com valores bem descontados. Outro fator importante, foi a Guerra Ucrânia x Rússia e conflito Israel x Palestina, China em recessão, assim como recessão na Europa e EUA.

MC – Quais são as análises e preocupações dos especialistas em relação ao arcabouço fiscal criado, considerando a intenção do governo de mudar as regras?

RR – Com o limite de crescimento das despesas primárias em 70% da variação da receita:

  1. Algumas são as criticidades do arcabouço. A que mais tem chamado a atenção é a correção dos limites, sendo que as bandas dos limites de gastos públicos, corrigidos anualmente pela inflação (IPCA), só ocorrerá a partir de 2025;
  2. Para 2024, o parâmetro utilizado terá mais flexibilidade para gastos do governo, no que se trata da correção das chamadas “bandas de limites”;
  3. Essas alterações vão mudar a LDO, com possibilidades de que o governo gaste uma estimativa de R$ 32 bilhões do orçamento de 2024;

Em resumo, todas essas questões deixam o investidor com o Alerta Ligado, uma vez que o governo está com tendência de gastos maiores e com um PIB em retração. Essa situação leva a arrecadação do governo cair. Fica a questão: De onde virá o dinheiro para cobrir as despesas do Orçamento? Será que vamos repetir a mesma estratégia de 1986, com emissão de papéis?

MC – De que forma a queda da inflação, o início do ciclo de cortes na taxa básica de juros e o aumento do fluxo de capital estrangeiro influenciaram a alta da Bolsa no decorrer do ano?

RR – Com a queda da inflação, as pessoas têm mais poder de compra, aumentando a possibilidade de consumo. Com o ciclo de corte de juros, o crédito fica mais barato e mais acessível tanto para empresas, quanto para pessoas, o que traz possibilidades de investimentos, aumentando assim a força do PIB. Com essas possibilidades os investidores estrangeiros investem mais nas empresas no Brasil. Fatores que contribuem muito, são:

  1. agrícola pujante. Somos sempre os mais bem colocados em diversas culturas;
  2. Campeão em energia limpa;

III. Ausência de conflitos militares com outras nações;

  1. O advento da China em fechar suas portas no período da pandemia trouxe um alerta para empresas distribuírem seus parques fabris em outras regiões.

MC – Como a recuperação das empresas da Bolsa, especialmente as ligadas à economia doméstica, contribuiu para o desempenho positivo do mercado em 2023?

RR – Por conta da queda da inflação e diminuição da taxa Selic. As empresas ligadas ao consumo cíclico foram de fato beneficiadas, trazendo uma expectativa de crescimento para o final de 2023 e para o primeiro semestre de 2024.

MC – Por que o Índice Imobiliário (IMOB) registrou um aumento de 41,02% entre janeiro e novembro?

RR – Dois grandes fatores são preponderantes para essa situação:

  1. A queda da taxa Selic, que ajuda na redução do custo de crédito, e por sua vez gera uma expectativa de aumento do consumo de imóveis;
  2. A cultura do brasileiro de ter sua casa própria. Quando olhamos esse contexto, a busca por empresas na bolsa aumenta, justamente por conta dessa perspectiva.

MC – E o comportamento do câmbio brasileiro ao longo de 2023, em particular o comportamento do dólar, como foi?

RR – Títulos dos EUA estão pagando menos: imagine os títulos do governo dos EUA como um cofrinho que paga para você guardar seu dinheiro. Quando eles pagam menos, as pessoas preferem colocar seu dinheiro em outros cofrinhos, como o do Brasil, o que faz o real valer mais em relação ao dólar.

O Brasil vendeu mais para outros países: nosso país vendeu muitos produtos para fora, mais do que se esperava. Isso é bom porque quando vendemos, recebemos dólares em troca, e quanto mais dólares entram, menos eles valem em relação ao nosso real.

Pode ser mais barato pegar empréstimo em dólar: há uma expectativa de que os juros dos empréstimos em dólar diminuam, o que significaria que pagaríamos menos para pegar dinheiro emprestado dos EUA. Isso faz com que mais pessoas e empresas se interessem em investir aqui, trazendo mais dólares e, novamente, fazendo com que o valor do dólar caia.

O Brasil está arrumando a casa: Tomamos algumas decisões importantes sobre como governo gasta dinheiro e cobra impostos, o que deu mais confiança para os investidores. Quando eles confiam mais, eles trazem mais dinheiro para cá, o que também faz o dólar ficar mais barato.

Nosso juro era alto e atraente: No começo do ano, nosso juro estava bem alto, comparado com outros lugares. Isso era como se fosse um grande cartaz dizendo “invista aqui que você ganha mais”. Então, mais dólares vieram para o Brasil, e como temos muitos dólares por aqui, eles acabam valendo menos

MC – O que esperar do mercado financeiro para 2024? Quais são os principais conselhos para os investidores? 

RR – A expectativa da queda da taxa de juros e a inflação sob controle traz ainda uma perspectiva de boas oportunidades na bolsa brasileira, para o primeiro semestre.

Já para o segundo semestre, devemos acompanhar a política fiscal com as diretrizes tomadas nesse ano (LDO/Arcabouço);

Para o investidor, esse é um excelente momento para entrar em renda variável, diversificando a carteira em empresas consolidadas que pagam dividendos, e nas chamadas SMALL CAPS, uma vez que essas tendem a apresentar bons ganhos.

Outra possibilidade em renda variável é a compra de FIIs, na busca de uma carteira focada em Shoppings, Galpões Logísticos, Tijolos e Fundos de Papéis. Com uma boa carteira em FIIs, a possibilidade de começar a construir uma aposentadoria (longo prazo), esse sem dúvida é o melhor momento;

Lembrando que para o investidor iniciante, é importante manter um lastro em RESERVA DE EMERGÊNCIA. Afinal de contas, precisa estar habituado com as oscilações do mercado.

MercadoComum, ora em seu 30º ano de circulação e em sua 324ª edição é enviado, mensalmente, a um público constituído por 118 mil pessoas formadoras de opinião em todo o país, diretamente via email e Linkedin, Whatsapp/Telegram, além de disponibilizar, para acesso, o seu site www.mercadocomum.com, juntamente com as suas edições anteriores.

De acordo com estatísticas do Google Analytics Search a publicação MercadoComum obteve – no período de outubro de 2022 a agosto de 2023 – 9,56 milhões de visualizações – das quais, 1.016.327 ocorreram de 14 de agosto a 10 de setembro/2023.

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O XXV Prêmio Minas – Desempenho Empresarial – Melhores e Maiores Empresas – MercadoComum – 2023 conta com o apoio da ACMINAS – Associação Comercial e Empresarial de Minas; ASSEMG – Associação dos Economistas de Minas Gerais; Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de Minas Gerais e MinasPart- Desenvolvimento Empresarial e Econômico Ltda.

O prazo para reserva de espaço para as publicidades na edição especial de MC será até o dia 31 de outubro e, a entrega de materiais, até o dia 16 de novembro.

As empresas agraciadas que participarem desta premiação, através da veiculação de uma página de publicidade na edição especial impressa e eletrônica, bem como no site desta publicação, além de um descritivo institucional sobre as mesmas receberão, também, um diploma impresso em papel especial, um troféu em aço inox e terão direito, adicionalmente, a uma mesa exclusiva de 8 lugares para a solenidade de premiação e jantar de confraternização. Também participarão de um almoço especial que ocorrerá em dezembro, em Lagoa Santa-MG, em homenagem aos agraciados.

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