O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) subiu, no dia 08 de agosto último, a meta para os juros básicos (Selic) em 1 ponto, de 4,25% para 5,25%.
Segundo o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed Sameeer El Khatib, com a inflação em alta, especialmente refletida no preço dos alimentos, como arroz e feijão, e no preço dos combustíveis, a SELIC pode atuar como freio nesta tendência de alta.
“Em função do aumento progressivo e agressivo da inflação desde 2020, tivemos a necessidade de acionar um mecanismo de freio dessa alta, isto é, a elevação da taxa SELIC. Esse freio pode, num primeiro momento, evitar preços mais elevados de alimentos, mas pode deixar o crédito mais caro, fato que desestimula o consumo e investimentos das empresas”.
Entenda a taxa Selic
A Selic, também conhecida como taxa básica de juros é uma ferramenta do governo para controlar a inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Quando o governo aumenta a Selic, ele torna o crédito “mais caro” e dificulta o acesso a ele, pois aumentam os juros do cartão de crédito, cheque especial e empréstimos. A mensagem que se passa é de que não está na hora de comprar, tomar decisões de compra mais caras. No longo prazo, essa estratégia controla a inflação.
Como a SELIC está associada ao “custo do dinheiro”, quando ela é aumentada, o consumo da população tende a diminuir, porque o crediário se torna mais caro, e isso desestimula as pessoas a comprarem mais.
“A população começa a conter seus gastos, reduzindo a demanda. Isso provoca uma retração na economia, redução nos preços dos produtos e serviços, e tudo isso faz a inflação cair. Uma taxa Selic em elevação gera retração de consumo; taxa Selic em alta, desestimula o consumo e a economia (mas pode conter a inflação).”, diz Ahmed.
Impacto da Selic para a população
Para a população em geral, os impactos de curto prazo serão pequenos: o crédito tende a ficar um pouco mais caro e o câmbio, um pouco mais estável, com o real um pouco mais valorizado perante o dólar, o que reduz a pressão inflacionária sobre combustíveis e alimentos, por exemplo.
“Contudo, o aumento da SELIC desestimularia os investimentos por parte das empresas, por tornar o crédito mais caro, o que pode aumentar o desemprego. Existe uma teoria conhecida como Lei de Okun (em referência ao economista Arthur Okun), um preceito econômico que identifica uma relação inversamente proporcional entre PIB e taxa de desemprego. Estudos que demonstram que a cada 1 ponto porcentual de aumento dos juros no Brasil, temos a redução do crescimento do PIB em cerca de 0,3 ponto porcentual, com uma defasagem de um ano e meio. Aplicando a teoria mencionada anteriormente, a Lei de Okun, para o Brasil aponta que uma redução do crescimento do PIB dessa ordem de grandeza (-0,3 ponto porcentual) tende a elevar a taxa de desemprego em 0,1 ponto porcentual”, finaliza.