Renato Ladeia
Professor do curso de Administração do
Centro Universitário da FEI (Fundação
Educacional Inaciana)
O termo é novo e o significado é antigo. No Brasil preferiuse
economia criativa ao invés de indústria criativa, pois a
expressão indústria em português usualmente indica fábrica,
enquanto “industry” na língua inglesa é um setor econômico.
A economia criativa está relacionada às atividades que
envolvem valores e significados culturais, como crenças,
tradições e expressões artísticas de um povo. Portanto, é a
atividade econômica vinculada aos processos criativos num
contexto cultural. Ela vai além da geração empregos, pois
gera também novos valores, preservando tradições, a cultura
popular e a identidade de um povo.
A atividade criativa está presente em todas as cadeias produtivas
que conhecemos e das quais, mesmo sem saber, participamos.
O design de roupas que geram modas, produtos e
produção em série. A receita de um novo sabor de sorvete,
que resulta em um novo mercado. A criação de um novo modelo
de sapatos, que gera aumento de produção e aumento
do consumo interno ou externo. A música criada que resulta
em geração de CDs, a criação de romances, poesias, crônicas,
biografias, artes plásticas, design de móveis, decoração
etc. estão no contexto da indústria criativa ou economia
criativa. Enfim, por trás de uma grande indústria está uma
atividade humana gerada a partir da criatividade, capacidade
inventiva de milhões de pessoas anônimas ou não.
A economia criativa pode ser também sustentável, pois muitas
criações partem de produtos descartáveis ou lixo reciclável
e se tornam novos produtos a partir da criatividade humana.
Mas sustentabilidade da economia criativa vai além da
reciclagem. A criação de empregos fixando populações em
seus locais de origem através da geração de renda utilizando
elementos das culturas regionais é também um exemplo de
sustentabilidade, pois contribui para a redução de grandes
conglomerados urbanos com os seus problemas amplamente
conhecidos. Além disso, pode utilizar elementos disponíveis
localmente para o desenvolvimento de uma nova indústria.
A rigor toda indústria tem sua origem na criatividade
humana, mas a chamada indústria criativa está basicamente
relacionada à produção cultural. Que gera produtos ou
serviços que constroem significados importantes para as
pessoas, preservando identidades e valores culturais.
Quem não se lembra do famoso pão de queijo, fruto de uma
velha tradição mineira que ganhou o Brasil e o mundo, sendo
hoje exportado para todos os cantos do planeta Este é um
belo exemplar da indústria criativa, que soube explorar uma
tradição caseira e transformá-la em um produto internacional.
Outro exemplo é a cachaça, um produto originado no Brasil
colonial, que na realidade era um subproduto da indústria
canavieira. A produção atual, com técnicas sofisticadas
tornou o produto um ícone da identidade nacional. Diante
da emergência dessa indústria, o governo apressou-se em
registrar o nome cachaça como um produto tipicamente
brasileiro. Hoje é a bebida é vendida em todo mundo e as
linhas top chegam a preços próximos aos de marcas famosas
de whiskies escoceses.
Recentemente, foi criada uma Secretaria da Economia
Criativa com o objetivo de estimular atividades que resgatem
elementos importantes da cultura nacional, transformandoos
em produtos que possam gerar empregos de forma
sustentável em várias partes do Brasil. Assim, muitos produtos
tipicamente brasileiros poderiam alçar voo no mercado,
gerando novas alternativas de desenvolvimento econômico
e social em áreas que carecem de empregos. Conceito novo
ou velho, a economia ou indústria criativa pode representar
novas oportunidades de negócios, reforçando identidades
étnicas, criando produtos que geram significados que
vão além da relação investimento-lucro e que podem ser
apropriados pelas comunidades gerando novas opções de
renda e trabalho.
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