• Por Stefan Bogdan Barenboim Salej

Das várias teorias de sucesso de políticos, existe uma simples: “Em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”. E por mais que analisamos o primeiro ano do governo Bolsonaro, que tem um núcleo econômico guedista, chegamos à divergências quase insuperáveis em avaliações sobre se estamos bem ou não. Não estamos falando de meio copo cheio ou meio copo vazio. Estamos falando de quem tem o copo e quem não tem o copo.

Uma mínima parcela da população, que tem dinheiro investido na Bovespa, que pertence aos mercados financeiros, em resumo que tem capital e participa do processo de economia liberal do guedismo, está rindo de orelha a orelha. Os bancos brasileiros, que demitiram muita gente no ano passado, tiveram, com a queda dos juros, um lucro de fazer inveja a qualquer membro de Wall Street ou da City londrina. Não tem banco mais lucrativo do que o brasileiro no mundo. E isso num país cuja Importante parcela da população não tem nem emprego e nem condições mínimas de vida.

Uma parte do agronegócio também foi muito beneficiada pelo mercado internacional. Basicamente, não o produtor, mas a indústria e o complexo comercial exportador. Os fazendeiros, por exemplo, os cafeicultores, continuam com preços aviltados e com dificuldades.

Não há um sucesso econômico igual para todos, nem quando a economia vai muito bem. O lumpenempresariat, a classe media empresarial e com ela também a classe de pequenos empreendedores, continua sofrendo com o fenômeno econômico mais antigo do mundo: a renda do brasileiro, mesmo com as medidas dos governos temporais, não está crescendo. Temos uma distribuição de renda com um mercado de super-ricos (inclusive maiores investidores no exterior) e a absoluta maioria da população sem capacidade de consumir. A classe média está desaparecendo e a classe D, aumentando. Os dados de dezembro de 2019, que deveria ser um mês excelente de vendas no comércio, mostraram isso. A eles se juntam os dados incríveis de aumento de endividamento da população. E os juros, que caíram no Banco Central, não caíram no varejo para provocar aumento de consumo e não só a migração da poupança para a especulação.

Os empresários apoiaram, e continuam dizendo que é melhor o bolsonarismo do que o petismo (o qual também atônitos apoiavam). Mas, isso não vai bastar para dinamizar o crescimento econômico. O nível de emprego está crescendo, mas longe de provocar mudança significativa no crescimento do país. A reforma da previdência foi feita, mas os resultados nas contas públicas vão demorar. E outras reformas estão num caldeirão de discussões que levam a crer que não se pode contar com elas para aumentar os investimentos, gerar mais empregos e mais renda.

O guedismo, que é o núcleo duro do governo, muito mais duro do que o núcleo militar (que by the way lhe dá guarita, como deu a Delfim Netto no passado, sem saber de que se trata), está convencido que eles estão certos, e que todos os outros estão errados. Falam o que querem, têm toda a liberdade de fazer o que querem, mas será que o modelo proposto gerou e vai gerar resultados, além da baixa inflação, que também esta cambaleando, que o país precisa? É impressionante a certeza que o guedismo tem de que o que está fazendo está certo.

As ações que estão em curso nessa área têm efeito profundo na economia e nas finanças do país. E como são todas legais, porém com transparência complexa, também são muito boas para um pequeno número de pessoas do mundo financeiro.

A agenda financeira está em curso como poucas vezes antes no Brasil. Provavelmente, há uma agenda de modernização ao nível terciário do governo na área econômica também em curso. Esta vai aparecendo aos poucos, mas não substitui a reforma de gestão do estado, principalmente, a tributária.

O guedismo não ganhou a eleição. O bolsonarismo, sim. Por quanto tempo a agenda guedista vai sobreviver no seio de bolsonarismo, sem apresentar os resultados que o eleitorado considera de fato suficientes para re-eleger o chefe, ninguém pode responder hoje. Numa ruptura, os que forem sair, não sairão com prejuízo pessoal. Nem profissional e nem financeiro. E uma eventual substituição não poderá ser feita por uma pessoa, mas da troca completa do guedismo por um outro modelo que poderá dar certo. O custo político vai ficar para governo, e a conta, para o povo.

*Empresário, Ex-Presidente da FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

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