Destaques da Edição

Crise hídrica pressiona inflação

Crise hídrica pressiona inflação – Fernando Soares Rodrigues*

A gestão da economia pelo governo sob influência, em muitos casos, de interesses políticos e de uma “ideologia de direita” ultrapassada, em nada contribui para melhorar as expectativas do mercado financeiro neste início do quarto trimestre de 2021.

O previsível agravamento da crise hídrica, neste final de ano, sem que a crise da pandemia do Covid-19 tenha sido ainda devidamente equacionada, mantém os investidores na defensiva.

Para completar o cenário nada alvissareiro, os principais bancos reduziram para menos de 1% a expectativa de crescimento do PIB-Produto Interno Bruto para 2022, quando a inflação deverá estar rodando na melhor das hipóteses na faixa de 3% anualizados.

O fator PIB menor, que corresponde a retração do consumo, afeta especialmente as ações de companhias do setor comercial tradicional e as mais ligadas às vendas por internet. Ações destas companhias, que registraram altas expressivas no início ano, na B3, a bolsa brasileira, passam a ser observadas com reserva.

Bolsa afetada

Fatores externos como a crise financeira da gigante chinesa Evergrande, a perda de valor do minério de ferro e o comportamento desastrado do governo no último 7 de setembro derrubaram a B3.

O Ibovespa, que retrata a ações mais negociadas na B3, recuou do patamar de 120 mil pontos para a 110 mil pontos e caiu mais com a ameaça do calote da Evegrande que deve US$ 300 bilhões a bancos. A expectativa de o governo chinês socorrer esta mega empresa fez a B3 e as demais bolsa mundiais reagirem em seguida.

Os principais ativos financeiros de renda fixa continuam oferecendo rentabilidade real negativa (abaixo da inflação). As altas continuas da taxa Selic nos últimos meses não acompanharam a inflação. A Selic é o referencial para a taxa dos CDIs, a base de remuneração da renda fixa.

Em agosto, quando a inflação oficial pelo IPCA passou a rondar a casa dos 10% anualizados, a Selic estava em 5,25% ao ano. Então, desde os CDBs aos fundos de investimentos financeiros e cadernetas de poupança acumularam novamente perdas reais em relação à inflação.

Os títulos públicos lastreados em IPCA ou na Selic nem sempre asseguram rentabilidade real quando o investidor saca os valores aplicados antes dos respectivos vencimentos.

O boletim Focus do Banco Central (BC) do último dia 17 de setembro, previa inflação de 8,40% anualizada em dezembro próximo, quando a Selic pode alcançar os 8,25% ao ano.

A alta recente do IOF-Imposto sobre Operações Financeiras para o governo arrumar dinheiro para o Bolsa Família reduz a rentabilidade da renda fixa. A medida foi considerada eleitoreira.

Ao invés de adotar medidas para reduzir o desemprego formal de cerca de 15 milhões de pessoas, o governo adota a medida, uma espécie de “cala boca” para os menos necessitados.

Vale recordar o pensamento da direita ¨sensata” dos EUA expresso pelo saudoso presidente Ronald Reagan: “a melhor distribuição de renda é o emprego”.

Dólar não dispara

Nem tudo está perdido. A pesquisa Focus junto aos principais representantes do mercado mantém a expectativa de o dólar comercial não disparar e fechar 2021 na faixa de R$ 5,20 e recuar para R$ 5,10 em 2022. Pelo menos este fator não pressionará mais tanto a inflação.

O próprio ministro Paulo Guedes, da Economia, admitiu que o dólar poderia estar bem mais baixo se não houvesse tanta instabilidade na política. Ele não teve certamente condições de afirmar que quem provoca grande instabilidade na política é o patrão dele, o presidente Jair Bolsonaro.

O quadro de relativa estabilidade no câmbio pode se alterar para pior, se as previsões do alcance do superávit comercial deste ano, da ordem de US$ 70 bilhões recuarem diante da perda de valor do minério e da previsão de crescimento menor da economia chinesa.

Os investimentos estrangeiros diminuem no País com a instabilidade política. O capital externo requer segurança jurídica para entrar no País. E só uma democracia plena garante esta segurança. Governos populistas de direita ou de esquerda não oferecem esta garantia, alertam os analistas dos cenários nos diversos países.

*Jornalista especializado em economia e finanças

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