O padrão de vida do brasileiro poderá ficar quase estagnado nos próximos 40 anos, se não houver reformas estruturais importantes no país: passará do equivalente de 23% daquele dos Estados Unidos hoje para apenas 27% em 2060. A convergência do lado chinês e indiano é muito mais rápida.
A projeção é da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, em estudo publicado em 19 de outubro último sobre a pressão fiscal de longo prazo nos seus 38 países-membros, visando dar uma dimensão dos desafios à frente.
A OCDE projeta alta do PIB potencial per capita do Brasil de 1,1% ao ano entre 2020-2030, passando para 1,4% em 2030-2060. Por sua vez, a China, que teve PIB real de 10% ao ano entre 2000-2007, ficaria com 4,2% anual entre 2020-2030 e cairia para 2,1% entre 2030-2060 – (Fonte – Valor 20.10.2021)
Desde 1980, no consolidado de seus respectivos governos, apenas José Sarney e Itamar Franco conseguiram obter expansão real da economia brasileira, isto é, o PIB brasileiro conseguiu superar a média mundial. Itamar Franco lidera o ranking, registrando um crescimento médio anual de 2,18% nos seus dois anos de mandato. O pior desempenho fica por conta de Fernando Collor, que apresentou uma queda real média anual de 4,02% nos três anos de seu governo.
BRASIL – TAXA DE VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL REAL DO PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO POR GOVERNO – 1980 a 2021
Governo/Média Anual % Brasil Mundo Diferença %
João Batista Figueiredo 1,46 2,34 -0,88
José Sarney 4,50 3,92 +0,58
Fernando Collor -1,20 2,82 -4,02
Itamar Franco 5,00 2,66 +2,18
Fernando Henrique Cardoso 2,46 3,45 -0,99
Luiz Inácio Lula da Silva 4,08 4,24 -0,16
Dilma Rousseff 0,43 3,58 -3,15
Michel Temer 1,55 3,66 -2,11
Jair Bolsonaro* 1,03 2,62 -1,59
*Projeções
Observação: Considera apenas os 5 últimos anos do Governo J.B. Figueiredo
Fonte: FMI-Word Economic Outlook – Oct/2021
BRASIL – RANKING DA TAXA DE VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL REAL DO PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO POR GOVERNO– 1980 a 2021
Classi- Governo Variação Média Anual
Ficação %
1º Itamar Franco +2,18
2º José Sarney +0,58
3º Luiz Inácio Lula da Silva -0,16
4º João Batista Figueiredo -0,88
5º Fernando Henrique Cardoso -0,99
6º Jair Bolsonaro* -1,59
7º Michel Temer -2,11
8º Dilma Rousseff -3,15
9º Fernando Collor -4,02
*Projeções
Observação: Considera apenas os 5 últimos anos do Governo J.B. Figueiredo
Fonte: FMI-Word Economic Outlook – Oct/2021
Projeções do relatório intitulado World Economic Outlook do FMI – Fundo Monetário Internacional, divulgadas em 12 de outubro último, revelam que o crescimento da economia mundial deverá situar-se em 5,88% neste ano e 4,89% em 2022. Apontam, de outro lado, que a economia brasileira poderá alcançar uma expansão de 5,23% e 1,52% respectivamente.
Nos últimos onze anos, o PIB – Produto Interno Bruto brasileiro convertido em dólares norte-americanos teve a sua participação no total mundial reduzida à metade e isso significará uma perda de quase US$ 1 trilhão contabilizada apenas neste ano de 2021.
EVOLUÇÃO DO PIB MUNDIAL X BRASIL
Em US$ bilhões correntes – 2011 a 2021
Ano Brasil Mundo BR/Mundo %
2011 2.614,03 73.654,67 3,55
2012 2.464,05 75.038,19 3,28
2013 2.471,72 77.207,53 3,20
2014 2.456,06 79.237,88 3,10
2015 1.800,05 74.954,12 2,40
2016 1.796,62 76.153,75 2,36
2017 2.063,52 80.823,16 2,55
2018 1.916,93 85.883,45 2,23
2019 1.877,82 87.390,79 2,15
2020 1.444.72 84.971,65 1,70
2021 1.645,84 94.935,11 1,74
Fonte: FMI-World Economic Outlook – Oct/2021
MinasPart Desenvolvimento
Com um PIB estimado pelo FMI-Fundo Monetário Internacional de US$ 1,65 trilhão neste ano, o Brasil continuará ocupando a 12ª colocação no ranking das maiores economias e poderá conquistar mais uma posição em 2022, mas isso só ocorrerá se o país conseguir expandir a sua economia em 5,23% neste ano e 1,52% em 2022 – índices que nem o mercado doméstico acredita ser possível, de acordo com o Relatório Focus do Banco Central.
RANKING DAS MAIORES ECONOMIAS – 2020
Classi- País US$ bilhões
ficação
01 Estados Unidos 20.893,75
02 China 14.866,74
03 Japão 5.045,10
04 Alemanha 3.843,34
05 Reino Unido 2.709,68
06 Índia 2.660,24
07 França 2.624,42
08 Itália 1.884.94
09 Canadá 1.644,04
10 Coreia do Sul 1.638,26
11 Rússia 1.478,57
12 Brasil 1.444,72
13 Austrália 1.359,37
14 Espanha 1.280,46
15 México 1.073,92
16 Indonésia 1.059,64
Total Mundial 84.971,65
Fonte: FMI-World Economic Outlook – Oct/2021
MinasPart Desenvolvimento
RANKING DAS MAIORES ECONOMIAS –
PROJEÇÕES PARA 2021
Classi- País US$ bilhões
ficação
01 Estados Unidos 22.939,58
02 China 16.862,98
03 Japão 5.103,11
04 Alemanha 4.230,17
05 Reino Unido 3.108,42
06 Índia 2.946,06
07 França 2.940,43
08 Itália 2.120,23
09 Canadá 2.015,98
10 Coreia do Sul 1.823,85
11 Rússia 1.647,57
12 Brasil 1.645,84
13 Austrália 1.610,56
14 Espanha 1.439,96
15 México 1.285,52
16 Indonésia 1.150,25
17 Irã 1.081,38
18 Holanda 1.007,56
Total Mundial 94.935,11
Fonte: FMI-World Economic Outlook – Oct/2021
MinasPart Desenvolvimento
RANKING DAS MAIORES ECONOMIAS –
PROJEÇÕES PARA 2022
Classi- País US$ bilhões
01 Estados Unidos 24.795,08
02 China 18.463,13
03 Japão 5.383,68
04 Alemanha 4.557,35
05 Reino Unido 3.442,21
06 Índia 3.250,08
07 França 3.140,03
08 Itália 2.272,27
09 Canadá 2.189,79
10 Coreia do Sul 1.907,66
11 Brasil 1.810,61
12 Rússia 1.703,53
13 Austrália 1.677,45
14 Espanha 1.570,91
15 México 1.371,64
16 Indonésia 1.247,35
17 Irã 1.136,68
18 Holanda 1.070,75
Total Mundial 102.404,01
Fonte: FMI-World Economic Outlook – Oct/2021
MinasPart Desenvolvimento
É importante mencionar que, no ano de 1995, o PIB-Produto Interno Bruto brasileiro totalizava R$ 786,54 bilhões e detinha uma participação relativa de 2,53% no total mundial e superava o da China, de US$ 736,54 bilhões e participação de 2,38%. Decorrido um quarto de século, o resultado é impressionante: a economia chinesa atualmente é dez vezes maior do que a brasileira. A participação da China no PIB mundial é de 17,76% – enquanto a brasileira reduziu-se para 1,73%.
EVOLUÇÃO DO PIB – BRASIL X CHINA X MUNDO– 1995/2021
Em US$ bilhões correntes
1995 | 2000 | 2010 | 2021* | |
Brasil | 786,54 | 655,44 | 2.207,62 | 1.645,84 |
China | 736,87 | 1.214,92 | 6.066,35 | 16.862,98 |
Mundo | 31.003,49 | 33.843,97 | 66.026,27 | 94.935,11 |
*Projeções
Fonte: FMI – World Economic Outlook/MinasPart Desenvolvimento
PARTICIPAÇÃO DO PIB – BRASIL X CHINA NO TOTAL MUNDIAL – 2005/2021
Em %
1995 | 2000 | 2010 | 2021* | |
Brasil | 2,53 | 1,94 | 3,34 | 1,73 |
China | 2,38 | 3,59 | 9,19 | 17,76 |
Mundo | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 |
*Projeções
Fonte: FMI – World Economic Outlook/MinasPart Desenvolvimento
Brasil – Uma recessão econômica que já dura 8 anos.
O Brasil detinha um PIB – Produto Interno Bruto ao final de 2013, no valor de US$ 2.471,72 bilhões. Em 2021 o país deverá encerrar o ano com o PIB atingindo o valor de US$ 1.645,84 bilhões. Isso significa uma redução de 1/3 na produção total nacional apenas neste ano quando comparada à do ano de 2013 e isso equivale a uma perda de US$ 825,88 bilhões em um único ano. O impacto negativo mais direto desta perda incide, principalmente, sobre a renda per capita brasileira.
BRASIL – RENDA PER CAPITA
2014-2021
Ano %
2014 -0,36
2015 -4,34
2016 -4,07
2017 0,55
2018 1,04
2019 0,70
2020 -4,70
2021* 4,09
Média -0,89
Taxa Acumulada -7,20
*Projeções
Fonte: Banco Central/MinasPart
Variação do PIB-Produto Interno Bruto – 2014 a 2021* – Em %
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Mundo 3.51 3,42 3,27 3,75 3,57 2,84 -3,12 5,88
Países Desenvolvidos 2,00 2,30 1,76 2,46 2,25 1,74 -4,54 5,20
-Estados Unidos 2,29 2,71 1,67 2,26 2,92 2,29 -3,41 2,09
-Japão 0,30 1,56 0,75 1,68 0,56 0,02 -4,59 2,36
Zona do Euro 1,40 2,04 1,86 2,63 1,85 1,50 -6,34 5,04
Países Emergentes 4,70 4,31 4,48 4,77 4,58 3,67 -2,07 6,38
América Latina 1,34 0,38 -0,60 1,35 1,19 0,15 -7,02 6,34
BRIC 6,05 5,63 5,93 6,00 6,22 5,13 -1,42 7,49
-Brasil 0,50 -3,55 -3,28 1,32 1,78 1,41 -4,06 5,23
-Rússia 0,74 -1,97 0,19 1,83 2,81 2,03 -2,95 4,69
-Índia 7,41 8,00 8,26 6,80 6,53 4,04 -7,25 9,50
-China 7,39 7,02 6,85 6,95 6,75 5,95 2,34 8,02
Obs: 2021/Projeções
Fonte: World Economic Outlook/FMI-Oct 12,2021/MinasPart Desenvolvimento
Variação do PIB-Produto Interno Bruto – 2014 a 2021* – Em %
Média Anual Acumulada
Mundo 2,89 25,21
Países Desenvolvidos 1,65 13,66
-Estados Unidos 2,09 17,70
-Japão 0,33 2,50
Zona do Euro 1,25 10,01
Países Emergentes 3,85 35,03
América Latina 0,39 2,69
BRIC 5,13 48,84
-Brasil -0,08 -1,02
-Rússia 0,93 7,38
-Índia 5,41 50,98
-China 6,41 64,21
Obs: 2021/Projeções
Fonte: World Economic Outlook/FMI-Oct 12,2021/MinasPart Desenvolvimento.
Nestes últimos oito ano, o PIB-Produto Interno Bruto brasileiro pode ser apelidado de Pibículo, pois se transformou e oferece a todos um resultado ridículo da economia nacional. Não vamos afirmar participar de uma corrida pela busca do crescimento econômico, porque o país simplesmente não consegue nem andar e, assim, como verdadeiro rabo de cavalo, só cresceu para baixo e para trás. É o que comprovam as estatísticas reveladas pelo documento intitulado World Economic Outlook,divulgado pelo FMI – Fundo Monetário Internacional, no dia 12 de outubro último.
De 2014 a 2021 – considerando-se as projeções do FMI para todos os países (para o Brasil 5,22% – enquanto o mercado doméstico já projeta 4,80% no ano) a média anual de expansão da economia mundial deverá situar-se em 2,89% e, no acumulado do período, em 25,11%. Os países emergentes ou em desenvolvimento, categoria da qual o Brasil faz parte, devem crescer em média 3,85% ao ano e, no acumulado, 35,03%. Outra categoria, da qual nosso país também integra – o BRIC, deverá registrar um aumento médio anual do PIB de 5,13% e, no acumulado, de 48,84% mesmo com a pandemia do coronavírus e outros contratempos. O Brasil ficará muito mal nesta foto: contabilizará uma retração, ou seja, terá andado com a sua economia para trás, a uma média anual de -0,08% e que, no acumulado, significa uma perda de 1,02% no período. Em termos de renda per capita acumulada, no período analisado, os brasileiros terão ficados mais pobres em cerca de 7,2%. E, para completar, as expectativas dos economistas, analistas de mercados e outros já estimam que em 2022 poderemos, inclusive, colher os resultados de uma retração da atividade econômica da ordem de até 0,5% no ano.
Já tivemos aqui antes a oportunidade, juntamente com vários outros colegas economistas, de ressaltar a necessidade de compreendermos a importância da retomada do crescimento econômico. Vários equívocos têm permeado as políticas econômicas do País – como as altíssimas taxas de juros praticadas e, se persistirem, obstruirão inapelavelmente qualquer tentativa de relançamento da economia brasileira de volta ao caminho do desenvolvimento.
Vale mencionar que, desde a Crise Financeira Internacional de 2008, os Estados Unidos passaram a adotar uma política monetária de juros reais negativos – tendo estacionado a mesma por um patamar fixo por praticamente 7 anos e retornado neste ano, conforme pode ser verificado na tabela abaixo:
JUROS REAIS NOS ESTADOS UNIDOS – 2009/2021
Ano Inflação-CPI Fed Funds Taxa Real
% ao ano % ao ano % ao ano
2009 2,81 0,25 -2,56
2010 1,44 0,25 -1,19
2011 3,06 0,25 -2,81
2012 1,76 0,25 -1,51
2013 1,51 0,25 -1,26
2014 0,65 0,25 -0,40
2015 0,64 0,26 -0,38
2016 2,05 0,51 -1,54
2017 2,10 1,10 -1,00
2018 1,92 1,91 -0,01
2019 2,26 2,28 +0,02
2020 1,30 0,54 -0,76
2021* 6,29 0,25 -6,04
*Estimativa
Fonte: FMI/LCA Consultores/MinasPart Desenvolvimento
Não basta apenas crescer. É necessário que o crescimento da nossa economia supere a média mundial e possa se compatibilizar com o nível de expansão das economias dos países emergentes. E, ainda, que incorpore outros elementos, como as da qualidade, da produtividade e da competitividade.
Um desses equívocos diz respeito à crença de que a estabilidade econômica é condição prévia à retomada do desenvolvimento do País. Primeiro a estabilidade, só depois o desenvolvimento. Sendo assim, as políticas de estabilização assumem um caráter de primazia absoluta, subordinando e sufocando todas as outras políticas. Apequena-se a política econômica, amesquinham-se os objetivos para a economia do País. E já lá se vão algumas décadas de busca inglória da miragem da estabilidade.
Evidentemente, ninguém, em sã consciência, há de negar a necessidade de as economias nacionais ostentarem bons e saudáveis fundamentos macroeconômicos. O caminho da estabilidade deve ser concebido e implementado, no bojo de uma política de desenvolvimento para o País. A estabilidade não precede o desenvolvimento; ao contrário, é a estratégia de desenvolvimento do País que deve, simultaneamente, orientar e contextualizar as opções da política macroeconômica. Até porque, ao contrário do que se costuma propagar, os caminhos possíveis para se alcançar a estabilidade econômica são vários.
Outro desses equívocos é imaginar que apenas o ajuste fiscal e algumas reformas – como a previdenciária – também devem ser considerados como condições prévias à retomada do desenvolvimento. Da mesma forma colocada em relação à estabilidade econômica, deve-se privilegiar – concomitantemente – a expansão econômica que produzirá ganhos generalizados e, em especial, aumentos da arrecadação tributária. Cabe destacar que, quando um denominador é baixo, todos os numeradores podem ser considerados altos – o que se aplica efetivamente no tocante à questão das receitas e despesas públicas. Quando há declínio da atividade econômica, como ocorre nos anos mais recentes – a produção nacional não cresce – os lucros se transformam em prejuízos para empresas e, com isso, não há como gerar Imposto de Renda e outras receitas.
Gostaria de retomar alguns trechos do meu discurso proferido em outubro de 2011, quando da realização da solenidade do XI Prêmio Minas Gerais de Desenvolvimento Econômico, ocorrida no Automóvel Clube de Minas Gerais, em Belo Horizonte
“Faço um alerta: se não voltarmos a crescer, as nossas dificuldades só vão se agravar e as soluções, para os nossos principais problemas, estarão cada vez mais distantes. Mesmo já detendo, por exemplo, a mais elevada carga tributária de nossa história, ela continuará se expandindo, assim como a dívida pública, que poderá nos direcionar a uma situação explosiva. E os recursos para investimentos em geral ficarão, também, sempre mais escassos
Repito e insisto no tema: precisamos nos reconciliar com o desenvolvimento e retomar o crescimento econômico vigoroso. Temos de buscar nos transformar em país desenvolvido.
Considero o desenvolvimento a trilha natural do Brasil rumo ao futuro, como já afirmava Juscelino Kubitschek há mais de 50 anos.
A busca de um futuro melhor para o Brasil passa, inexoravelmente, pela urgente decisão de deixarmos de ser emergentes para nos convolar em país desenvolvido.
Reafirmo, com convicção que, assim como existe o “Sistema de Metas de Inflação”, o Brasil deveria criar outro modelo similar e a ser considerado a prioridade nacional número um. A proposta, nesse sentido, é a implantação de um “Sistema de Metas de Crescimento Econômico Vigoroso, Consistente, Contínuo e Sustentável”, resgatando-se o planejamento para que se possa captar o futuro promissor e iniciar já a sua transformação em realizações efetivas.
O crescimento econômico vigoroso deve deixar de ser apenas uma casualidade, uma questão episódica, uma efemeridade, um acontecimento meramente fortuito para se transformar, efetivamente, na grande meta econômica nacional, permeando a convolação do País em uma economia madura e desenvolvida.
Nesta direção já tivemos, antes, vários exemplos bem sucedidos e que poderiam nos servir de inspiração, como foi o caso do Plano de Metas, durante o Governo JK”.
Na verdade, nestes últimos 40 anos, com raríssimas exceções, o Brasil vem sendo vítima de uma doença que intitulo de “síndrome do raquitismo econômico” e fica evidenciado, simplesmente, que não consegue acompanhar o crescimento da economia mundial. A marcha do crescimento econômico nacional parece enferrujada, emperrada e não consegue engatar qualquer ritmo que possa levá-la avante e, ao contrário, tem se mostrado como uma autêntica marcha a ré, um verdadeiro andar para trás, como um rabo de cavalo.
País cuja economia não cresce é um país condenado ao atraso, à miséria e ao subdesenvolvimento, considerados os maiores inimigos da democracia.
O Brasil não pode prescindir do crescimento econômico: o estoque de problemas sociais acumulados, eleva-se exponencialmente, apesar da desaceleração da taxa de crescimento da população. Entendo que só a expansão da economia preencherá as condições necessária para o enfretamento e atenuação dos mesmos.
A superação dos diversos impasses atuais e o ingresso do País em uma nova etapa de expansão econômica, contínua e segura exigirão coragem e firme determinação por parte da sociedade brasileira e de seus dirigentes. A saída não é simples nem trivial e demandará enfoques criativos e destituídos de preconceitos e de várias antigas verdades.
É verdade que há uma grave crise financeira do setor público brasileiro, em todos os seus níveis e, em grande parte, ela é provocada pelo não crescimento real das receitas públicas em decorrência do pouco dinamismo da economia nacional e, mesmo assim, apesar da “des-carga” tributária asfixiante. É absolutamente indispensável que se promova o resgate do crescimento da economia e se busque a resolução dos problemas financeiros que o impedem de exercer o seu imprescindível papel dinamizador
É mister, porém, que não se caia aqui no privatismo radical e absoluto. A privatização de empresas estatais não pode ser vista como a panaceia que irá resolver todos os problemas ou males da administração pública brasileira. É certo que a superação da crise financeira do Estado brasileiro exigirá um reposicionamento e um redimensionamento do mesmo no contexto da economia nacional. No entanto, a presença do Estado na economia ainda continua essencial e insubstituível, ainda mais quando se trata de um país com dimensões continentais como é o caso do Brasil, com alta concentração de renda e ainda por se desenvolver.
Neste sentido, o equacionamento e a solução da problemática financeira do setor público devem se efetivar no bojo de um projeto global de redefinição de seu papel na economia da País, e não a partir de medidas tópicas, superficiais e indiscriminadas que fariam agravar ainda mais a questão.
Sem a superação desses entraves, a economia brasileira continuará patinando, imersa no conjunturalismo predominante e vigorante em várias das décadas anteriores e ainda persistente nos dias atuais. Desatar esses nós é pré-condição para o seu lançamento em um novo ciclo de expansão.
Entendo ser fundamental que as decisões governamentais nacionais consideram a urgente necessidade da transformação do País em uma Nação Desenvolvida, justa e próspera. Para que isso ocorra, torna-se imprescindível que estas decisões, insubstituíveis e inadiáveis por mais tempo, elejam “o desenvolvimento em primeiro lugar”.
Quero reafirmar que aposto no desenvolvimento de Minas Gerais e na possibilidade de o Brasil conciliar-se com o crescimento vigoroso e a modernização da economia, com a justiça social e a democracia.
A seguir, apresento o texto de Texto de autoria de Gita Gopinath (Economista-Chefe do FMI) durante a apresentação do documento intitulado “Word Economic Outlook”, divulgado pelo FMI – Fundo Monetário Internacional, em 12 de outubro deste ano.
*Administrador, Bacharel em Contabilidade e Economista. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais. Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico e Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum.
Uma recuperação desequilibrada por profundas fissuras
A recuperação global continua, em meio à incerteza crescente e a dilemas de política mais complexos.
Texto de autoria de Gita Gopinath (Economista-Chefe do FMI – Fundo Monetário Internacional)
A recuperação global continua, mas perdeu ímpeto por causa das incertezas ligadas à pandemia. O número total de mortes causadas pela Covid-19 já está próximo de 5 milhões, em parte devido à altamente transmissível variante delta, e são muitos os riscos para a saúde, o que impede o retorno completo à normalidade. Os surtos da pandemia em regiões que abrigam elos importantes das cadeias de suprimento globais resultaram em rupturas no abastecimento mais prolongadas do que o previsto, conduzindo à alta da inflação em diversos países. De modo geral, os riscos para as perspectivas econômicas aumentaram e as decisões de política econômica se tornaram mais complexas.
Em comparação com nossa previsão de julho, a projeção de crescimento global para 2021 foi marginalmente reduzida para 5,9%, e a projeção para 2022 permanece inalterada em 4,9%. Contudo, essa revisão moderada na previsão global mascara grandes reduções em alguns países. A perspectiva para o grupo de países em desenvolvimento de baixa renda tornou-se consideravelmente mais sombria devido ao agravamento da dinâmica da pandemia. A revisão em baixa também reflete perspectivas mais difíceis no curto prazo para o grupo de economias avançadas, em parte devido a perturbações no abastecimento. Parte dessas alterações é contrabalançada pela melhora das projeções para alguns países exportadores de commodities devido ao aumento dos preços desses produtos. Na maioria dos países, o ritmo de recuperação do mercado de trabalho é muito inferior ao da recuperação da produção, em razão das perturbações relacionadas à pandemia nos setores de contato intensivo.
A perigosa divergência nas perspectivas econômicas dos diversos países continua a ser uma grande preocupação. Estima-se que o produto agregado do grupo de economias avançadas retorne a sua tendência anterior à pandemia em 2022 e a supere em 0,9% em 2024. Em contrapartida, espera-se que, em 2024, o produto agregado do grupo de economias de mercados emergentes e em desenvolvimento (excluída a China) permaneça 5,5% abaixo das projeções anteriores à pandemia, resultando em um retrocesso ainda maior na melhoria de seu padrão de vida.
Estas divergências são consequência do grande abismo no acesso a vacinas e das imensas disparidades no apoio proporcionado pela política econômica. Enquanto nas economias avançadas mais de 60% da população está totalmente vacinada e alguns grupos estão agora recebendo doses de reforço, cerca de 96% da população dos países de baixa renda ainda não foi imunizada. Além disso, diante de condições de financiamento mais restritivas e um risco maior de desancoragem das expectativas de inflação, muitas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento estão antecipando a retirada do apoio da política econômica, apesar das maiores quedas na produção.
As rupturas no abastecimento representam outro desafio para a política econômica. Por um lado, os surtos da pandemia e as perturbações climáticas resultaram na escassez de insumos essenciais e reduziram a atividade industrial em vários países. Por outro lado, essa escassez da oferta, juntamente com a liberação da demanda reprimida e a recuperação dos preços das commodities, fez com que a inflação dos preços ao consumidor aumentasse rapidamente, por exemplo, nos Estados Unidos (EUA), Alemanha e muitas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento. Os maiores aumentos de preços dos alimentos ocorreram nos países de baixa renda, onde a insegurança alimentar é mais grave, exacerbando as dificuldades para as famílias mais pobres e o risco de agitação social.
O Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial (GFSR) de outubro de 2021 destaca outros desafios para a política monetária em decorrência do aumento da assunção de riscos nos mercados financeiros e das fragilidades crescentes no setor de instituições financeiras não bancárias.
Prioridades de política econômica
Um dos principais fatores por trás de todos esses desafios complexos é o contínuo avanço da pandemia na sociedade global. Portanto, a prioridade máxima das políticas públicas é vacinar pelo menos 40% da população de cada país até o final de 2021 e 70% até meados de 2022. Isso exigirá que os países de alta renda cumpram os compromissos assumidos de doação de doses, coordenem com os fabricantes para definir a prioridade das entregas para o COVAX no curto prazo e removam as barreiras comerciais ao fluxo de vacinas e seus insumos. Ao mesmo tempo, fechar a lacuna residual de US$ 20 bilhões de dotações para testes, terapias e vigilância genômica salvará vidas agora e manterá as vacinas adequadas ao seu propósito. Para o futuro, os fabricantes de vacinas e os países de alta renda devem apoiar a expansão da produção regional de vacinas para a Covid-19 nos países em desenvolvimento por meio de financiamento e transferência de tecnologia.
Outra prioridade global urgente é desacelerar o aumento da temperatura do planeta e conter os crescentes efeitos adversos da mudança climática. Isso exigirá compromissos mais ambiciosos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26). Uma estratégia de política que inclua um preço mínimo internacional para o carbono, ajustado às circunstâncias de cada país; um impulso ao investimento público verde e às pesquisas nessa área, bem como transferências compensatórias direcionadas às famílias, pode ajudar a fazer com que a transição energética ocorra de forma equitativa. Igualmente importante, os países avançados precisam cumprir suas promessas anteriores de mobilizar anualmente 100 bilhões de dólares de financiamento climático para os países em desenvolvimento.
Além disso, esforços multilaterais coordenados para assegurar a liquidez internacional adequada para as economias em dificuldades, além da implementação mais rápida do quadro comum do G-20 para a reestruturação de dívidas insustentáveis, ajudariam a limitar as divergências entre os países. Aproveitando a alocação histórica de US$650 bilhões em Direitos Especiais de Saque (DES), o FMI está incentivando os países com posições externas sólidas a canalizar voluntariamente seus DES para o Fundo Fiduciário para a Redução da Pobreza e o Crescimento. Além disso, está analisando a criação de um Fundo Fiduciário para a Resiliência e Sustentabilidade, que ofereceria financiamentos de longo prazo para apoiar o investimento dos países em crescimento sustentável.
No plano nacional, a combinação geral de políticas deve ser adaptada à evolução da pandemia e às condições econômicas locais, visando atingir o nível de emprego máximo sustentável e, ao mesmo tempo, proteger a credibilidade dos quadros de políticas. Com o espaço fiscal cada vez mais limitado em muitas economias, os gastos com saúde devem continuar a ter prioridade, enquanto os auxílios emergenciais e as transferências precisarão se tornar cada vez mais direcionados, reforçados pela requalificação e pelo apoio à realocação da mão de obra. Conforme melhorem os resultados na área da saúde, a ênfase das políticas deve se concentrar cada vez mais nas metas estruturais de longo prazo.
Com a dívida pública em níveis recorde, todas as iniciativas devem assentar em quadros confiáveis de médio prazo, respaldadas por medidas factíveis de receitas e gastos. O Monitor Fiscal de outubro de 2021 demonstra que essa credibilidade pode reduzir os custos de financiamento para os países, além de ampliar o espaço fiscal no curto prazo.
A política monetária precisará se equilibrar numa linha bastante tênue entre o combate à inflação e riscos financeiros e o apoio à recuperação econômica. Projetamos que, em meio a incertezas elevadas, a inflação geral volte aos níveis anteriores à pandemia em meados de 2022, tanto no grupo das economias avançadas como nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento. Entretanto, existe uma heterogeneidade considerável entre os países, com perspectivas de resultados mais favoráveis em alguns, como os EUA, Reino Unido e certas economias em desenvolvimento e de mercados emergentes. Embora, de forma geral, a política monetária possa olhar para além da alta transitória da inflação, os bancos centrais devem estar preparados para atuar rapidamente caso os riscos de aumento das expectativas inflacionárias se tornem mais concretos neste território ainda desconhecido da recuperação. Os bancos centrais devem planejar ações contingentes, anunciar acionadores claros e atuar de acordo com essa comunicação.
De modo mais geral, a clareza e a coerência das intervenções podem contribuir bastante para evitar tropeços desnecessários nas políticas econômicas, que possam desestabilizar os mercados financeiros e retardar a recuperação global – desde o insucesso em aumentar em tempo hábil o teto da dívida dos EUA até reestruturações desordenadas no setor imobiliário chinês, passando pela escalada das tensões tecnológicas e no comércio internacional.
Acontecimentos recentes deixaram perfeitamente claro que estamos todos no mesmo barco e que a pandemia não terminará em lugar algum até que termine em todos os lugares. Se tiver um impacto prolongado – de médio prazo – a Covid-19 pode fazer com que o PIB global fique 5,3 trilhões de dólares abaixo de nossa projeção atual nos próximos cinco anos. Não é preciso que seja assim. A comunidade global deve intensificar os esforços para garantir o acesso equitativo às vacinas em todos os países, superar a hesitação em relação à imunização onde há suprimento adequado de vacinas e garantir perspectivas econômicas melhores para todos. (Fonte: FMI –1 2 de outubro de 2021)