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Aquela Provence luminosa

Por: José Maria Couto Moreira

 

O continente europeu é daquelas terras que Deus criou nos seus momentos de maior inspiração. Por isto, é mais que um privilégio, foi uma dádiva. É lá naquelas plagas, hoje alcançadas em poucas horas graças aos prodígios do homem – sempre com o sopro de Dele – é que nos admiramos com tudo que lhes foi dado, e conservado.

Aquele formidável pedaço da terra deteve ou possui muito do que nos falta, ou que nos concederam, desde os ensinamentos que herdamos de uma civilização iluminada. As cabeças que lá edificaram a construção espiritual de que se valeram os ocidentais, no plano da inteligência e de enunciados outros que passaram a conduzir nossa vida social, tal como as remotas Institutas de Justiniano, também se ocuparam em guardar e ornar as maravilhas naturais que foram prodigalizadas pelo Criador aos povos que compõem aquela imensidão territorial.

Recantos há naquele continente que se parecem, ou nos faz sentir, como se estivesse o visitante em pleno paraíso, tal a sensação de felicidade que se apossa de quem os vê.

Entre muitas paisagens europeias que o homem se deleita em contemplar, está a graciosa e rica Provence, colocada ao sudeste da França, uma geografia que remonta a 27.000 anos a.C., que a mão do europeu, especialmente o francês, teve a sensibilidade e a responsabilidade de conservar, para eles e para os pósteros. Aquela região tudo tem para seduzir os que pisam o seu chão. Esta, aliás, é a característica marcante dos franceses – a sedução – que eles demonstram nas fragrâncias milagrosas dos perfumes e no seu irrequieto e refulgente plano das ideias, que rendeu para a humanidade cientistas como Pasteur e Madame Curie, e intelectuais como Anatole France, Beaudelaire e Sartre, entre outros mil.

Aquelas escarpas que marcam a região, e sua incontestável integração com os límpidos rios que por ela serpenteiam, os quarteirões imensos das magníficas lavandas tingidas daquele azul que nos projeta a um sonho azul, as planícies quase ilimitadas das vinhas cultivadas em réguas, as extensas plantações de oliveira, tudo compõe uma paisagem de um reino que, docemente, nos atrai a lá permanecer.

Esta narrativa é apenas um preâmbulo da Provence. Tudo na Provence é exuberante. O sol, presente em mais de seis meses ao ano, resplandece em fundo azul, e ilumina para moradores e viajantes as belíssimas paisagens que se sucedem, exibindo cores vivas, desde a margem esquerda do Ródano até as proximidades de Nice, aquela joia engastada na região banhada pelo Rio Var. Junto a tantas atrações naturais, encontra o residente todo o conforto da vida moderna, mas sem torres de fumaça, gases nocivos, trânsito ou vizinhos que os incomode. A Provence é um condomínio, sim, cujas normas de convivência são pautadas pela civilidade milenar, pelo respeito à originalidade do lugar e às suas destinações econômicas, voltadas estas somente para o emprego racional da terra, em obediência máxima aos princípios ambientais.

Para completar este voo rápido sobre a Provence, há que se registrar os sítios, vilarejos e cidades existentes naquela região, fundadas algumas há milênios, que guardam as características construtivas originais. Daí o interesse dos estrangeiros em conhecer estas edificações, cada uma um espetáculo à parte.

A cidade de Salon de Provence merece lembrança inicial pelo fato de constituir berço do citadíssimo profeta Nostradamus, ostentando, em sua paisagem física, o charme das ruelas apertadas e as casas exibindo a determinada simplicidade com que se as levantaram.

Nimes é lembrança vigorosa daqueles romanos decididos, que deixaram em toda a Europa a marca de suas iniciativas. O anfiteatro com que conta a cidade, mais uma prova de engenharia em que os romanos superavam só a si mesmos, utilizado constantemente para festas, reuniões, representações teatrais e prática de esportes e outras atividades urbanas é algo de impressionante pelo seu projeto, sua dimensão e sua técnica de superposição de pedras com equilíbrio e beleza arquitetônica.

Em Avignon, onde se instalou o poder papal por quase um século, levantaram os romanos o palácio dos pontífices, a maior atração da cidade, também um apreciável exemplar da ação daquele povo valoroso.

Toulon é outro centro urbano da região da Provence que provoca nossa curiosidade e admiração. Tem a sua história portuária ligada a acontecimentos importantes do país assim como exibe ruínas da prisão de La Bagne, inúmeras vezes descrita na obra imortal de Victor Hugo.

E assim, cada localidade provençal tem a sua história, contada não só pela paisagem humana que a guarnece, mas principalmente pelo tom inesquecível de seus campos, de suas casas e de sua tradição, que ensina ao visitante que conservar as origens é obrigação de todos nós, em favor do presente e do futuro.

 

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