Opinião

A evolução das tecnologias bancárias e como elas moldam à vida financeira dos brasileiros

A evolução das tecnologias bancárias e como elas moldam à vida financeira dos brasileiros

André Cunha*

A tecnologia tem sido uma das principais ferramentas para fornecer os mais diversos acessos a quem nunca teve antes. Há três décadas, a internet surgiu para conectar pessoas ao redor do mundo. Esta novidade mudou relações pessoais e profissionais, criou empregos e segue transformando até os mercados mais tradicionais, como o financeiro. Há dez anos, bancos sem agências eram impensáveis. As opções de empréstimos ou cartão de crédito limitavam-se a cinco ou seis empresas, onde precisávamos ir pessoalmente, pegar senhas, filas e argumentar com um funcionário porque precisávamos daquele valor. Lembra? 

Neste contexto de difícil acesso, muita gente passava uma vida inteira fora do sistema bancário, ou com uma única conta criada pelo governo para transações básicas. Em caso de dívidas ou outras situações que os negativavam, “deixavam de existir” diante desse sistema, impedidos de fazer movimentações. Mas essa população não parava de consumir. É impossível viver em sociedades como a nossa sem necessidades de consumo. 

Mas sem acesso ao sistema bancário, dependiam de terceiros para parcelar compras, fazer empréstimos, ou mesmo pagar boletos. Cenário que as fintechs tornaram missão solucionar. Algumas das respostas são o cartão pré-pago, que pode ser carregado com saldo previamente por meio de boleto e utilizado como débito vinculado ou a uma conta bancária, e o Buy Now, Pay Later, modalidade de crédito na qual a aprovação do consumidor é feita por rápida consulta de dados, ampliamos as opções do cliente. 

Já o open finance, que permite ao cliente decidir a qual empresa vai se associar, onde consegue melhores condições de juros, produtos e taxas, e o Pix, recurso de pagamento instantâneo aderido por mais de 150 milhões de brasileiros, foram as demonstrações de que o Banco Central apoia a evolução digital. 

Tamanho é o resultado que, nos últimos cinco anos, o número de contas bancárias por brasileiro mais que dobrou. Em 2018, eram em média 2,4 contas por pessoa. Em 2022, cerca de 5,2 contas. Em 2019, segundo estudo do Instituto Locomotiva, 29% da população adulta brasileira estava desbancarizada. Em 2022, segundo o Banco Central, esse número reduziu para 13,5%. 

Além da mobilidade e agilidade no atendimento – instituições digitais não têm agências com fila e, na maioria delas, a aprovação de contas é praticamente imediata -, os baixos encargos são um dos principais benefícios desde o início da “era fintechs”. A tecnologia possibilita a redução de custos operacionais, que não precisam ser repassados ao usuário. Isto, somado à conveniência de ter literalmente o banco na palma da mão, maior acesso e possibilidade de escolha, são alguns dos motivos que podem explicar o fenômeno dos últimos cinco anos. 

E esses números ainda podem subir, a depender de novidades de Banking as a Service e Card as a Service, que transformam qualquer empresa em um banco ou emissor de cartão, como mercados, lojas de roupa e, recentemente, até times de futebol. Contas que fazem tanto quanto ou mais que as tradicionais, como depósito, saque, transferências via DOC, TED e Pix, extratos, pagamentos de contas via boleto e outros. Já os cartões oferecidos ao consumidor final podem ser totalmente personalizados, com a marca da empresa e funções de crédito, débito ou pré-pagos. E a segurança é totalmente garantida pela fintech que fornece a infraestrutura. 

Esta mudança de mindset traz ao consumidor o controle e a responsabilidade sobre o uso da ferramenta, liberdade que demanda conscientização financeira. Espírito empreendedor e coragem o brasileiro já tinha e, agora, conta com a tecnologia a favor. Portanto, o que falta para atingirmos nosso potencial enquanto nação é somente acesso pleno à informação. Alcançado esse estágio, todas as portas estarão abertas para nós.  

*Fundador e CEO da Ewally, é Engenheiro Eletrônico formado no ITA, com mestrado e doutorado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Desde os anos 1990, fundou e dirigiu diversas empresas no setor de tecnologia, até criar a Ewally em 2014.

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