Autor: José Anchieta da Silva*

Em sessão solene da Diretoria Executiva da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, no último dia 19 de julho, no auditório do Colégio, dentro da celebração dos 250 anos daquela instituição, foi lançado o Projeto “Caraça – Patrimônio do Mundo”, titulação a ser obtida da Unesco, o braço cultural da ONU. Presentes e patrocinadores da empreitada, além da diretoria da ACMinas e seus Conselhos de Cultura, Turismo, Educação e Jovem, estavam o Diretor Geral do Caraça, o Presidente da Associação dos Ex-Alunos e Amigos do Caraça, os Prefeitos dos Municípios de Santa Bárbara e Catas Altas. Representando o Governo do Estado, o Secretário de Cultura de Minas Gerais e o Dirigente do Museu Mineiro. Pretende o Caraça o seu reconhecimento como patrimônio do mundo na categoria de acervo documental. Foi dada a largada.

O Caraça, por força de sua história, é patrimônio do mundo. Falta-lhe, todavia, o reconhecimento universal dessa sua qualificação pela autoridade da Unesco. O projeto nasceu nos idos de 2003/2004 por oportunidade da celebração dos 300 anos da Vila/cidade de Santa Bárbara. A pretensão, por razões várias, andou hibernada e agora ressurge, cuidando do tema, no âmbito da ACMinas e agora com parceiros vários, um qualificado Grupo de Trabalho e o objetivo há de ser alcançado. 

Encrustado na serra do mesmo nome (um enclave da serra do Espinhaço), no Colégio do Caraça, uma instituição dos Padres Lazaristas (os padres da Congregação da Missão), se tem o mais acreditado repositório de documentos que contam a história de Minas Gerais e do Brasil. O Caraça deu ao Brasil, além de centenas de prelados da Igreja Católica (entre cardeais, bispos e padres), uma leva de políticos (Presidentes da, República [Affonso Penna e Arthur Bernardes], Governadores de Estado [Affonso Penna, Antônio Augusto de Lima, Quintiliano Silva, Olegário Maciel, Melo Viana, Levindo Lopes] e Senadores e Deputados), um sem-número de professores, pensadores e empresários nos mais variados setores. 

Fundado em 1774 pelo misterioso Irmão Lourenço de Nossa Senhora, a história do Caraça se divide em quatro etapas, (período português, período francês e período brasileiro, chegando-se ao período atual, como centro de estudos, de observação e de turismo) marcadamente nos séculos XIX e XX, tendo ali estudado oito mil alunos até o ano de 1968, quando se vitimou de enorme incêndio. Sobreveio uma bem-sucedida restauração concluída pelo Instituto BDMG Cultural – do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. S.A. Antes, já haviam colaborado também, nesse sentido, a FIAT Automóveis S.A. e a Organização Roberto Marinho. Reinaugurado em 19.04.1990, a restauração do Caraça resultou no seu estado atual, de notável conservação, passando, inclusive, a ser um dos endereços mais prestigiados do turismo em Minas Gerais. 

O valor do Caraça é plural e está revelado no Santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens, em estilo neogótico, as antigas instalações, obras de arte, com destaque para o Quadro da Santa Ceia de Manuel da Costa Athayde, e, principalmente, o seu acervo documental único no gênero, em Minas Gerais. É neste ponto que está o seu valor para Minas, para o Brasil e para o mundo, justificadores do reconhecimento do sítio como Patrimônio (Unesco) do Mundo.

Visita-se o Caraça por motivações diversas: numa viagem de fé, indo ao encontro da sua própria origem e da sua inspiradora história; uma viagem de encontro com a natureza, serra, floresta, rios e cachoeiras, com o gigante de pedra adormecido, sugerindo uma figura humana, razão de seu nome (caraça é sinônimo de cara grande); uma viagem cultural, ao encontro de obras raras e com um acervo documental imprescindível à compreensão do Brasil que se construiu nos últimos três séculos.

É no Caraça que, por obra do Padre Tobias Zico, exemplares da família do Lobo Guará, todas as noites, aparecem para se alimentar na escadaria do Santuário e para fazer a alegria e a curiosidade dos turistas (um evento que se repete todos os dias). No segundo império, visitou o Caraça o Imperador Pedro II, assistindo, segundo autorizados registros, a aulas de Teologia, Direito canônico, História Eclesiástica, Latim, Português, Matemáticas, Geografia). Passando por Mariana, no retorno à corte no Rio de Janeiro, anotou o Imperador: Estou satisfeitíssimo com o Caraça. Só o Caraça paga a viagem a Minas (fonte recente livro: Congregação da Missão no Brasil – Resumo Histórico 1820 a 2000, de autoria do Padre Tobias Zico [o padre dos lobos guarás] encontrável no local). 

*Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas (a Tribuna do Empresariado e das Instituições).

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