“Sua aventura vital foi extraordinária!”
(Afonso Arinos,)
Cesar Vanucci*
No fecundo período do governo de JK a nação passou a crer em sua força. As atividades produtivas expandiram. A democracia fortaleceu-se. Os investidores apareceram. Nas tratativas internacionais passamos a ser olhados com maior respeito. Os latino-americanos acompanhavam esperançosos os exemplos promissores do país irmão de fala portuguesa.
Costuma-se alardear que somos um povo desmemoriado. Sei não. O caso de JK desmonta a tese. Em qualquer lugar deste país, a citação de seu nome suscita emoções fortes. Está associada com a ideia desenvolvimento, nacionalismo, promoção humana, com o Brasil de nossos melhores sonhos. JK encarnou o verdadeiro espírito brasileiro, a genuína alma nacional, o sentimento solidário e generoso que povoa as ruas, e até mesmo as qualidades e os defeitos de nossa gente.
Por esse motivo, a confiança popular em seu trabalho era total. Ele tinha visão completa da grandeza do Brasil. O Brasil era para ele como o mar. Contemplando-o em sua imensidão e beleza, não se pode apenas falar dos enjoos das travessias de curta duração.
O carisma ofuscante de JK, sua arrebatadora capacidade de criar e seu verbo convincente incomodavam. E como! Manchetes estridentes referiam-se a Brasília, dia sim, outro também, como o maior escândalo da história. A expressão “mar de lama” era empregada para definir o magnífico empreendimento. Dizia-se, irresponsavelmente que o presidente, entre outras “vantagens”, recebera dos empreiteiros, como “propina”, suntuoso duplex na sofisticada Vieira Souto. Inimigos poderosos acusavam-no e vários de seus leais colaboradores como grandes responsáveis por atos de corrupção sem precedentes. Valeram-se de toda sorte de artimanhas para, num momento trevoso, década de sessenta, cortar-lhe a palavra, tolher-lhe os movimentos. Cassaram-lhe os direitos de cidadania. Exilaram-no. Mas não conseguiram arranhar no conceito populares sua impávida imagem.
Proponho ao caro leitor um exercício de imaginação. Suponhamos que JK estivesse ainda entre nós. Com o vigor de seu espírito criativo, adornado por inabalável crença democrática, ele estaria participando destacadamente dos debates das grandes questões que galvanizam as atenções da sociedade. Estaria condenando os equívocos das políticas econômicas desprovidas de sentido social. Estaria, seguramente, criticando o negacionismo cientifico. Estaria denunciando o racismo, os preconceitos insuflados pelo fundamentalismo político e religioso. Estaria combatendo pra valer as desigualdades sociais, estabelecendo políticas que apagassem do mapa brasileiro as nódoas aviltantes da fome e da pobreza extrema. Estaria convocando todos compatriotas, em clima de harmonia, para febricitante arrancada desenvolvimentista. O brasileiro JK estaria, nesta hora, esforçando-se por manter incólume a identidade do Brasil, a imagem autêntica de um Brasil bem brasileiro.
Delfim Neto, ministro influente nos governos militares, registrou, pouco tempo atrás, que o Brasil se tornou país tristonho, cabisbaixo. É verdade. Com JK, com alguém sintonizado com as ideias e seu estilo gerencial, o Brasil seria, fatalmente, um país alegre, em perfeitas condições de empregar suas imensas potencialidades na superação dos desafios conjunturais, escalando, com firme decisão, as ladeiras do desenvolvimento econômico social antevisto em seu destino.
No fecho da narrativa de hoje, recorro a uma historinha emblemática: O escritor Cláudio Bojunga, no excelente livro “JK, o artista do impossível”, relata episódio de sabor todo especial, aludindo à primeira visita de dona Júlia Kubitschek a Brasília. Da janela do hotel, empolgada com os contornos da metrópole erguida em tempo recorde no descomunal vazio do Planalto Central, numa proeza incomparável na história contemporânea, ela exclamou: “Só mesmo Nonô pra fazer tudo isso!” Esse Nonô!
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