Análise do Comunicado do Copom divulgado
Idean Alves – Sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos
O tom do comunicado veio mais hawkish que o esperado. Mas suave, se comparado aos comunicados das reuniões anteriores. O Copom, no comunicado, reforçou que segue adotando “cautela e parcimônia”, muito por conta do processo desinflacionário ser mais lento que o previsto, e também pelas expectativas de inflação ainda estarem bastante desancoradas, o que pede vigilância do Comitê, para ainda manter os juros no patamar atual.
Chama a atenção no comunicado o fato de o comitê ainda não sinalizar que teremos corte de juros na próxima reunião, o que vai contra o que o mercado esperava e revela o tom hawkish do comunicado. Todavia, na minha visão, o cenário atual está melhor que o esperado e isso deve se materializar em corte em algum momento no ano de 2023.
Destaque para as pressões inflacionárias globais que seguem fazendo peso no Brasil, e no mundo, e tem contribuído também para a alta de preços locais. Ficou como ponto de atenção a “dúvida” em relação ao desenho final do arcabouço fiscal que ainda vai ser aprovado pelo Congresso Nacional, e como ele vai impactar em relação às expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação. A falta de convergência para a meta inflação no mundo, em especial no Brasil, as incertezas sobre a crise bancária nos EUA, e o nível de crescimento das economias, “obrigaram” o Comitê a manter a Selic no patamar atual, como já era esperado pelo mercado.
Na minha opinião, devemos ter a manutenção da Selic na próxima reunião em agosto, em que deve haver a sinalização de quando o corte pode ocorrer. Ao que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, esse corte se dará muito provavelmente na reunião de setembro. O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agora.
Como ficam agora os investimentos em renda fixa
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital
Apesar de haver perspectiva de cortes nas taxas de juros a partir do segundo semestre, a aplicação em renda fixa pós-fixada continua valendo a pena para papéis de até 2 anos, pois a taxa deve cair, mas de forma moderada de acordo com o último boletim Focus, no qual a maior parte do mercado acredita que a taxa Selic chegue no final do ano em 12,5%, um patamar alto de taxa de juros e ainda distante de chegar em um dígito, como estávamos em 2021. A partir daquele momento houve a necessidade de subir as taxas, sendo a inflação o principal fator devido aos problemas causados com a pandemia, paralisando toda cadeia produtiva mundial. Apesar da nossa inflação estar se mostrando mais contida, o BC segue vigilante.
Na minha opinião, os títulos prefixados estavam mais atrativos há alguns meses, quando o mercado ainda não enxergava a queda da taxa Selic. Com os últimos dados de inflação e a possibilidade de queda dos juros, as curvas futuras caíram e as taxas dos títulos prefixados acompanharam essa queda. Desta forma, os títulos com maiores prêmios são os de longo prazo, de 4 anos ou mais, porém aqui o risco é maior, pois envolve muitas incertezas no meio do caminho, como alta de inflação, uma política fiscal expansionista ou mudanças na condução do BC, o que levariam a necessidade de subir novamente a Selic.
Por conta disso ainda prefiro manter a posição de renda fixa com maior exposição à títulos pós-fixados e inflação
Lis Grassi, especialista em investimentos e sócia da Matriz Capital
O mercado já está precificando que a Selic venha a cair num futuro breve. Portanto, as taxas Prefixadas que temos hoje já estão menores do que as que víamos alguns meses atrás, de 13%…14% ao ano. Se a Selic permanecer nos 13,75% provavelmente elas permanecerão nesse mesmo patamar. Quando a Selic estiver mais baixa, a tendência é que essa rentabilidade caia também.
Já o Tesouro Selic, que caminha junto com a Selic, vai continuar rendendo a Taxa SELIC vigente + um prêmio, por exemplo SELIC + 0,08% a.a. Esse prêmio tende a ficar um pouco maior se a Selic cair muito, pra compensar a menor rentabilidade na taxa de juros.
E no Tesouro IPCA+ o investidor tem a correção da inflação + uma taxa Pré, por exemplo IPCA + 6%. Essa taxa Pré, que chamamos de JURO REAL, também tende a ser menor quando a Selic está menor, portanto, se nos próximos meses o nosso juro cair, como esperado, vai ser difícil encontrar um título do tesouro pagando 6% acima do IPCA.
Os títulos de crédito privado, chamados de Debênture, CRA e CRI geralmente dão rentabilidade mais atrativa do que o Tesouro porque o risco é maior. Quando você compra um título do Tesouro você está emprestando seu dinheiro pro Governo e muito dificilmente ele vai quebrar e não te pagar. Quando você investe num crédito privado você está emprestando o seu dinheiro para empresas privadas e assumindo o risco delas, portanto é muito importante avaliar qual é essa empresa, o rating dela no mercado (uma tabela de avaliação de confiança), o caixa dessa empresa, se há garantias… enfim, vai depender do perfil de investidor optar por um risco x retorno maior. No longo prazo, a diferença de rentabilidade costuma ser bem significativa, mas também já vimos caso da empresa ter dificuldades financeiras, como aconteceu recentemente com as Lojas Americanas e a Light.
O Tesouro Renda + vem pagando atualmente a correção da inflação + uma taxa Prefixada de cerca de 5,5%. O racional é o mesmo do Tesouro IPCA+, porém visando longo prazo, aposentadoria, pois nele você vai adquirindo cotas no decorrer de um determinado prazo, escolhido pelo investidor, e depois recebe uma renda mensal durante 20 anos, quando for fazer o resgate. Não podemos fazer uma comparação generalizada com previdência privada, pois existem muitos fundos de Prev que não tem boa gestão e vêm rendendo muito pouco, assim como existem outros, de gestores mais ativos, que pagam excelentes resultados. Porém, um detalhe importante: no Tesouro Renda + o investidor não pode mobilizar o dinheiro de um título pra outro. Já na previdência privada ele pode fazer portabilidade de um fundo para outro, de diferente classe, quando quiser. Por exemplo, hoje com a Selic alta é interessante ter uma previdência Pós-fixada. Quando a Selic estiver dando retorno muito baixo, o investidor pode migrar a prev para outro fundo multimercado ou de ações, se ele quiser.
Dentro do nosso leque de clientes aqui na Matriz Capital (XP Investimentos) não tivemos adesão ao Renda +, porém não deixa de ser uma alternativa praquele investidor iniciante, que não tem assessoria personalizada e que consegue investir cerca de R$ 31 por mês, que é o preço médio deste título atualmente.
A alta taxa de juros o efeito da rentabilidade nos investimentos será muito maior e o acúmulo de capital será potencializado
Caio Canez de Castro, sócio da GT Capital
É bem claro o cenário de queda da inflação e os dados de IPCA dentro da meta há 2 meses corroboram com as perspectivas de queda de juros. Isso tem deixado a taxa de juros real muito elevada, ou seja, a diferença entre os dados de IPCA e Selic está muito acima do que é considerado saudável para a economia e, por isso, o mercado aguarda convicto uma redução da taxa de juros, tendo cortes entre 0,25% e 0,50% para as próximas reuniões do COPOM a partir de agosto.
Apesar de ser uma janela de oportunidade que está se fechando, as melhores oportunidades de ganho estão nos investimentos de longo prazo, atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA + ou os títulos de crédito privado como CRA, CRI e debêntures. Estes investimentos pagam a variação da inflação e mais uma taxa préfixada, que atualmente estão nos melhores níveis históricos, ou seja, uma boa oportunidade para garantir rentabilidades superiores ao mercado no futuro. Para os investidores com pouco capital ou que estão começando, a recomendação é a mesma, aproveitar a oportunidade para “travar” as melhores taxas hoje, porém com uma ressalva, priorizar fazer o maior número de aportes nas suas reservas de emergências que for possível, pois com a alta taxa de juros o efeito da rentabilidade nos investimentos será muito maior e o acúmulo de capital será potencializado.
Como ficam os investimentos agora em renda variável?
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos
Já há algum tempo vale ainda mais pensar em renda variável, não só porque os juros estejam caindo, mas porque também a bolsa pode subir com essa queda dos juros. E mesmo que os juros não caiam tão rápido agora, a gente sabe que a bolsa é sempre uma expectativa do que vai acontecer de dois meses até seis meses adiante. Então, se a expectativa é que os juros caiam daqui a dois meses pra frente, a bolsa já começa a subir desde agora. É muito interessante a gente estar posicionado com certeza em bolsa, mas não quer dizer que os títulos de renda fixa deixem de ser atrativos. Então, eu acho que é um momento interessante sim, agora que a bolsa atingiu o bull market, para a gente ter uma parcela de acordo com obviamente o perfil do investidor, uma parcela locada alocada em bolsa.
É sempre bom diversificar e é sempre bom você escolher de acordo com o seu perfil de investidor. Se é uma pessoa mais ativa e consegue fazer movimentações, tem esse conhecimento, eu acho que vale a pena fazer algum investimento um pouco mais sofisticado. Agora, se é uma pessoa que não tem tempo e não tem conhecimento, aí eu acho sim que vale a pena pensar em escolher fundos de investimento ou ativos menos voláteis.
Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital
Até o momento IBOV acumula alta de 9,70% em 2023. Muito da melhora macro já vem sendo precificado pelo mercado desde maio. Para que bolsa continue subindo com força é necessário ter uma continuidade da queda de juros e melhora de setores domesticos.
Empresas de consumo podem se beneficiar desse cenário, assim como construção civil. Mas é importante gerenciar o risco porque qualquer mudança de cenário pode causar uma realização forte nesses setores.
Se economias dos países desenvolvidos melhorarem, o petroleo também pode continuar melhorando, assim como as empresas do setor.
FIEMG avalia decisão do Copom
Pela sétima reunião consecutiva, Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve taxa SELIC em 13,75% ao ano
A decisão desta quarta-feira (21/6) do Banco Central brasileiro destoa do processo de arrefecimento da inflação observado nos últimos meses: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,95% de janeiro a maio, valor abaixo dos 4,78% observados no mesmo período de 2022.
Além disso, a redução dos preços de combustíveis e a concessão de descontos temporários em automóveis novos apontam para uma deflação em junho. As expectativas de inflação também demonstram uma tendência de declínio tanto para 2023 quanto para os próximos anos.
A FIEMG enxerga com preocupação a manutenção da taxa de juros em patamar elevado, tendo em vista seus efeitos prejudiciais à economia. Entende-se que, com a tendência de queda da inflação, as discussões avançadas sobre a reforma tributária e o encaminhamento do novo arcabouço fiscal, o Brasil esteja preparado para um novo ciclo de corte de juros.
Análise do comunicado do Copom de junho
Sérgio Goldenstein*
O último comunicado de 21 de junho do Copom abriu as portas para o início do ciclo de relaxamento monetário, mas sem se comprometer com a próxima reunião.
Entendemos que o comunicado buscou conter um excesso de otimismo do mercado com relação à trajetória de queda da Selic, mas seguimos com o nosso call de que o Comitê iniciará o processo de flexibilização monetária com um corte de 25 bps em agosto, acelerando para 50 bps nas reuniões subsequentes do ano, com a Selic fechando 2023 em 12% e 2024 em 9,50%. Avaliamos que a projeção de inflação no cenário de referência continuará declinando, em função de provável revisão adicional baixista do IPCA para 2023 e da perspectiva de continuidade do movimento de declínio das expectativas de inflação. A decisão do CMN sobre a meta de inflação será fundamental para a redução das incertezas e do desvio das expectativas em relação à meta.
Destacamos os seguintes pontos que consideramos hawkish:
– A projeção de inflação para 2024 no cenário de referência recuou de 3,6% para 3,4%, desvio ainda não desprezível em relação à meta de 3,0%. Tendo em vista o menor efeito inercial do IPCA de 2023 (cuja projeção foi revista de 5,8% para 5,0%), o declínio em torno de 20 bps das expectativas de inflação para os anos de 2024 a 2026 e a revisão de preços administrados para o próximo ano, de 5,2% para 4,6% (impacto de -15 bps), esperávamos uma projeção um pouco mais baixa para o IPCA de 2024. Além do efeito altista da nova trajetória do Focus (incorporando o início do ciclo em agosto e taxa terminal de 9,5%), provavelmente o Copom passou a trabalhar com uma trajetória mais fechada do hiato do produto.
– O Comitê não explicitou um maior conforto com a evolução recente da inflação. Citou que a inflação acumulada em 12 meses vai subir ao longo do segundo semestre e apontou que as medidas de núcleos seguem acima do intervalo compatível com a meta de inflação, sem apontar a abertura benigna das últimas leituras.
– A descrição do balanço de riscos não apresentou mudanças relevantes. Vale notar que continuou a apontar como risco altista a incerteza sobre o desenho final do arcabouço fiscal, apesar de qualificá-la agora como “alguma incerteza residual”. Além disso, ao citar os riscos baixistas, fez a ressalva de que parte importante do movimento de queda dos preços das commodities em moeda local já se verificou, além de não ter incluído um maior impacto do “canal de câmbio”, apesar da trajetória recente bastante benigna do BRL.
– Reiterou que a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas e acrescentou que isso demanda cautela e parcimônia. Repetiu ainda que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária
Ao mesmo tempo, o Copom abrandou, em alguma medida, o seu discurso, abrindo espaço para o início do ciclo de relaxamento monetário, mas sem sinalizar que será necessariamente na reunião de agosto. Cabe notar os seguintes pontos:
– Nas projeções de inflação, deixou de ser apresentado o cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante em todo o horizonte relevante.
– Ao mencionar a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado, o comunicado mudou o tempo verbal. Enquanto antes apontava que avaliaria se ela seria capaz para assegurar a convergência da inflação, agora afirma que a estratégia tem se mostrado adequada. Em outras palavras, de forma sutil, não se compromete com essa estratégia para o futuro.
– Foi excluída a possibilidade de voltar a subir os juros caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado.
– Ao relembrar que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas de inflação, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos, o Comitê passa a assumir uma postura mais data dependent. A própria menção a “passos futuros” indica uma possibilidade de mudança da estratégia atual.
Com relação aos impactos do comunicado sobre a curva de juros, esperamos uma discreta pressão altista sobre o segmento de curto prazo e variações não relevantes na parte intermediária e longa.
*Estrategista-chefe da Warren Rena. Executivo com mais de 25 anos de experiência, Goldenstein passou por instituições e casas de renome (como Banco Central, FMI, BM&FBovespa, entre outros). Possui profundo conhecimento do mercado financeiro, com foco nos mercados de renda fixa, câmbio e derivativos.
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