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Poupança e investimento

  • Por Shotoku Yamamoto

Para falar sobre o elevado nível de desemprego existente no país, é preciso distinguir dois importantes conceitos da economia, consumo e investimento. O primeiro é definido como a destruição de um bem ou serviço para satisfazer às necessidades humanas, enquanto que o investimento é a geração de nova riqueza. Portanto, a única medida que pode diminuir o nível de desemprego no Brasil é o aumento líquido dos investimentos, entendendo como tal a formação bruta de capital fixo menos a depreciação. Para o Brasil crescer, em torno de 4 a 4,5 % ao ano, é preciso investir aproximadamente 25% do PIB, e isso só se concretizará se houver fontes de financiamento dos investimentos. Para o Brasil não ficar dependente de investimentos estrangeiros é preciso gerar poupanças de R$ 1,7 trilhões, considerando o PIB de 2018.

 A poupança nacional tem três fontes de geração:

 1 – Poupança das famílias que é a diferença entre a renda menos o consumo da casa. O Brasil, nos últimos governos, tem estimulado o aumento do consumo por meio do financiamento de bens de consumo duráveis, sob o pretexto de aumentar a demanda agregada e, portanto, desestimulando o ato de poupar das famílias, sem falar do efeito colateral que os juros exagerados cobrados pelo sistema financeiro que diminuiu a capacidade futura de consumo das famílias e, portanto, anulando aquele pretexto de aumentar a demanda e a produção futura de bens de consumo.

  2 – Poupança das empresas que é o lucro líquido dos negócios empresariais que deve remunerar o capital ou o patrimônio líquido das empresas todos os anos, a uma taxa no mínimo igual ao rendimento do capital numa aplicação financeira. Tendo em vista que o governo, como foi dito acima, incentivou o consumo das famílias e, o Banco Central que tem como missão o controle da inflação, adotou uma política de valorização da nossa moeda para baratear as importações de modo que as empresas brasileiras não pudessem repassar os aumentos nos preços dos insumos industriais, principalmente o custo da mão de obra, indexada com a inflação passada mais o aumento real sem correspondente aumento da produtividade. A consequência desta política suicida, não poderia ser outra, se não a recessão. Como resultado disto as empresas, não só pararam de obter lucros, como passaram a operar no vermelho e muitas quebraram. Tanto é verdade que a participação das indústrias de transformação na formação do PIB diminuiu para algo em torno de 11% em 2018, o que é pior, pagando 30% da arrecadação bruta de todos os impostos. Portanto, o lucro líquido das empresas que é a poupança das empresas, principal financiador da formação bruta de capital fixo, também secou.

 3 – Poupança do setor governamental é o superavit orçamentário dos três níveis de governo. Não é preciso falar muito a este respeito, já é sobejamente conhecido que, há muito tempo, a União, os Estados e os Municípios, estes últimos, com raras exceções, são deficitários. Ouço muitos comentaristas de economia dizerem que o Brasil está indo para o mesmo destino da Grécia; na minha opinião, uma grande ignorância. Se o Brasil, a exemplo da Grécia, renunciasse o poder de emitir moedas, teria sido obrigado a fazer as devidas reformas há muitos anos. Aproveito para alertar aos contrários à reforma da previdência que o governo não vai deixar de pagar os aposentados exatamente porque tem o poder de emitir moeda e, se o governo recorrer a esta solução, irão rapidamente lembrar da inflação galopante de 2% ao dia. Isto é preciso ser falado aos trabalhadores da iniciativa privada. Se a reforma previdenciária não for aprovada só restam três alternativas: aumentar a carga tributária que hoje já está em 34% do PIB e, como os impostos indiretos têm um peso significativo, o aumento da carga tributária prejudicaria principalmente os mais pobres, portanto uma péssima solução, além de injusta; outra medida seria tomar dinheiro emprestado do sistema financeiro, em última análise, dos ricos, aumentando ainda mais a dívida bruta do governo geral que, em fevereiro deste ano, alcançou o montante de R$ 5,3 trilhões, equivalentes a 77,4% do PIB; e finalmente, a última solução, seria emitir dinheiro para pagar os aposentados, como já foi mencionado. Portanto, analisando as três fontes de poupança interna, concluímos que não há geração de poupança suficiente para financiar os investimentos necessários, esta é a razão porque o Brasil precisa atrair investimentos estrangeiros, aumentando a dívida externa brasileira porque o Brasil é, tradicionalmente, deficitário em transações correntes com o resto do mundo, portanto, integrando o bloco dos devedores do planeta.

 *Shotoku Yamamoto é diretor da Sky Corte Laser e diretor conselheiro da ABIMAQ

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