Os resultados do COPOM, FED e o que esperar do futuro

Para Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3, “a decisão de elevar os juros de 14¼% para 14¾% encerra um ciclo de 3 reuniões seguidas onde a autoridade monetária sinalizava ao mercado os próximos movimentos, essa sinalização agora passa a ser (em tese) data dependent dos dados de atividade e inflação que ainda serão apresentados nos próximos 45 dias, bem como dos, desdobramento dos mercados, da economia e da política global e em especial, da condução da política de tarifas que a Administração Trump conduzirá junto ao governo brasileiro.

No Statement, o COPOM continua considerando a “assimetria do risco”, mas da forma como atualizou sua mensagem, “retira peso” do entendimento dessa assimetria, o que não faz sentido, uma vez que os indicadores dessa assimetria, são os mesmos, se mantém presentes e ainda representam elevado risco à inflação, mas o entendimento de que o balanço de riscos está mais “simétrico” (quando não o é) torna o Statement mais do que dovish, torna-o “mais heterodoxo”.

O COPOM considera que o cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, para justificar uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta.

Entretanto, mesmo reconhecendo que os riscos permanecem elevados, relevantes e com perfil “assimétrico”, o que nos faz acreditar que a autoridade monetária mantenha sua ação e “firme compromisso” de agir no sentido de conter a desancoragem das expectativas da inflação e buscar a sua convergência rumo ao teto da banda (4½%) e posteriormente ao seu centro (3%), o Statement retira o termo “firme compromisso” substituindo-o por uma palavra mais suave “objetivo”.

E mesmo diante de todas as incertezas que seguem com potencial de desancoragem das expectativas, a autoridade monetária “entende” que essa decisão de ajustar apenas 0,5% na reunião sem sinalizar os novos ajustes em sua política monetária, seja uma ação “compatível” para se promover a convergência da inflação ao redor da meta ao longo do horizonte relevante de 18 meses. Tudo isso, sem prejuízo do objetivo fundamental que é o de assegurar a estabilidade de preços, e na suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O problema é que o gasto fiscal, a desancoragem das expectativas inflacionárias e as incertezas externas são presentes e possuem um efeito significativo sobre a economia para os próximos meses.

Além disso, não se pode esquecer que existem efeitos políticos externos que ficaram ainda mais no radar após 02/abril (DIa da Libertação), quando a Administração Trump um concedeu um período de 90 dias para que os seus países ofereçam condições ainda mais favoráveis à América, para se evitar uma elevação das tarifas a serem cobradas.

Aguarda-se neste contexto o que vem após 09/julho, quando esse prazo se encerra, momento em que se aguardam algumas definições sobre estas taxas e seus impactos no comércio internacional.

Os bancos centrais poderão se deparar com uma nova realidade a partir de então, de atividade, de consumo, de inflação, e lógico, de crescimento. Isso inclusive pode mudar todo o quadro que conhecemos hoje (e pelos próximos 2 meses) o que obrigará da parte das autoridades monetárias, ações para se controlar a inflação. mas também (ainda que não explicitamente) evitar a perda da atividade e principalmente a recessão de seus países.

O Banco Central sinalizar nesse momento com a possibilidade de uma finalização de seu ciclo de aumento de juros a partir do entendimento de que uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza, poderia também desacelerar internamente a atividade econômica doméstica de forma mais acentuada do que a projetada, tendo impactos (positivos) sobre o cenário de inflação, reduzindo a necessidade de futuros aumentos, é desconsiderar o efeito de todo carregamento estatístico que as economias ainda apresentarão pelo menos por 2 trimestres à frente

E, aceitar uma inflação, em média maior e um juro real menor a 15 meses do início da campanha eleitoral, olhando para os últimos 8 anos de gestão ortodoxa do BCB na era Ilan-Campos, começamos a ver o começo de um flerte com a heterodoxia.

Edição 345 - Maio de 2025 — Edição 345 – Maio de 2025

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