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Navegar no mar, quase infinito de escravidão. E o grande desafio da Marinha brasileira ontem e hoje

Navegar no mar, quase infinito de escravidão. E o grande desafio da Marinha brasileira ontem e hoje

Itamar José de Oliveira

A Marinha do Brasil, durante o império e o início da República, foi uma instituição fortemente identificada com o colonialismo europeu de histórica inspiração e cultura escravocratas.

Após a revolta de 1910- a famosa Revolta da Chibata- que a Marinha brasileira iniciou um processo de aprendizagem que certamente será muito importante para o futuro das instituições democráticas do País.

O olhar da jornalista, historiadora, pesquisadora e memorialista Silvia Capanema no livro “João Cândido e os Navegantes Negros” não e apenas mais uma visão da Revolta da Chibata.

Trata-se de uma longa e provocante viagem para as (IM) possíveis abolições de escravidões na terra Brasilis.

Silvia não saiu da selva brasileira para navegar no cisne branco da marinha inglesa capaz de transformar corsários e piratas em heróis nacionais e internacionais.

Ela, na origem, saiu do centro oeste de Minas Gerais para ouvir os comandantes e almirantes da Marinha de Guerra do Brasil sem se esquecer de escutar e auscultar os descendentes dos marinheiros rebeldes de 1910, particularmente a família de João Cândido e de Adalberto Ferreira Ribas e os marinheiros rebeldes de 1964, nas vésperas do golpe militar, para nos lembrar que as rebeldias costumam ser atos permanentes de luta contra escravidões de ontem e de agora.

Silvia nos ensina que o corpo e portador e identidades e um lugar de resistência e liberdade. Os marujos de 1910 lutaram contra os castigos corporais-com rituais de castigo que chegavam a 250 golpes de chibata diante da tripulação-e, novamente, estamos diante da realidade que nos desafia como projeto de nação: o Brasil foi o último país ocidentalizado a abolir a escravidão e a Marinha a última instituição do mesmo gênero a abolir a chibata como instrumento de coerção, castigo e tortura.

Silvia Capanema, infelizmente ela própria constata, não pode transformar a realidade e a “segunda abolição” ainda não aconteceu no Brasil. Fico me perguntando, diante da desigualdade e da violência reinante contra os pobres, se tivemos algum tipo de abolição da escravidão.

A Silvia não entrega os pontos e acredita nas pontes. Ela não teme arrecifes, norteada por um vasto trabalho de cabotagem histórica.

Paris está novamente em chamas e a mãe de três filhas, casada com um gaúcho gauche desde pequenino, transita entre barreiras e barricadas, do Quartier Latim ao campus Condorcet, caminhando entre as lapides dos reis de Franca, em Saint Denis, capital dos imigrantes negros de uma Franca pátria dos direitos humanos e das luzes.

A mineira Silvia Capanema nos ensina que João Cândido e os navegantes negros nos deixaram um legado digno de Tiradentes, Jeaures, Martin Luther King e Nelson Mandela.

Navegar com Silvia Capanema e os navegantes negros ‘é uma viagem imperdível para quem sonha em transformar o Brasil em pátria, fratria e mater para todos os brasileiros.

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