Lítio brasileiro: baixa demanda interna vem sendo também o grande desafio

Juros e garantias financeiras também afugentam investimentos

Ao lado do excesso de oferta que compromete atualmente os preços do lítio há um outro desafio para a cadeia do mineral no país: a baixa demanda interna. É o que diz o presidente da Companhia Brasileira de Lítio (CBL), Vinícius Alvarenga.

“Somos muito competitivos, mas a superoferta impõe um nível de preço muito desafiador, que está levando quase todo mundo ao prejuízo e afugentou capitais em investimentos de maior produção”, afirma ele.

Dificilmente essa cadeia vai se adensar no Brasil sem uma demanda forte na ponta. Precisamos de uma política de Estado para aumentar a demanda na eletrificação veicular, seja de veículos pequenos, caminhões ou ônibus, seja em relação a instalação de acumuladores de energia estacionários. Não temos nada relevante sendo pensado”, criticou, em entrevista ao Notícias de Mineração Brasil (NMB), após participação em painel no Brazil Lithium & Critical Minerals, em Belo Horizonte.

O executivo ressalta que, assim como outros países, o Brasil chega atrasado nessa discussão em relação à China, por exemplo. “A nossa indústria mineral concorre em base desigual hoje com alguns players mundiais, não só em termos das exigências ambientais, sociais e trabalhistas, apesar da nossa vocação. Mas, independentemente da questão regulatório, com certeza há um diferencial de custo em relação a fornecedores importantes.

Alvarenga esclarece que ao falar de incentivo não está falando em subsídio governamental para a indústria mineral do lítico. “Os governos podem contribuir melhorando a logística, a distribuição de energia, por exemplo, já que temos dificuldade de alimentação energética nos projetos e, também, melhorando a formação técnica básica. Isso tudo vai contribuir com ganhos de produtividade, pondera. “Mas se não houver incentivo à eletrificação veicular, não teremos nada”, frisa.

“A China incentivou fortemente a demanda, tanto que em 15 tornou a indústria tão madura, que não há mais necessidade de incentivos”, comparou. dizendo que não só o Brasil, mas o resto do mundo ficou mundo está muito atrás do país asiático no adensamento da cadeia de transição energética. “Há um ecossistema pleno lá, só não tem o espodumênio, como nós temos, por uma questão geológica”, acrescenta.

Alvarenga convoca governos e iniciativa privada a pensar juntos numa solução. “Temos que pensar em soluções criativas. É complexo diante do equilíbrio fiscal que o governo prometeu alcançar, mas gostaria de participar, sentar na mesa para discutir”, destaca.

Juros

Já o presidente da Bravo no Brasil, Eduardo Javier Muñoz – que dividiu com Alvarenga um painel no seminário que discutiu o desenvolvimento das baterias a base de minerais críticos – acredita que o problema não é a demanda. Concorda, contudo, que a discussão deve envolver o ecossistema do lítio.

“No nosso caso, demanda não é o problema. Temos hoje fábricas de ônibus que precisam das baterias e não temos como entregar”, exemplificou. Segundo ele, há um problema econômico, com taxas de juros altas no país e pedidos de garantias financeiras que impedem boa parte dos investimentos.

“O problema é o nível de juros e as condições solicitadas a empreendimentos novos, como as garantias financeiras. Temos programas do BNDES com juros de 1,27%, mas a fiança bancária eleva para 14% ou 15% as taxas. Escutamos do Ministério das Minas e Energia e do BNDES que estão estudando um mecanismo diferente de garantias, o que seria viável, mas no momento isso não decola”, reclama.

Diante desse contexto,Muñoz diz que os mineradores acabam exportando o produto e as baterias fabricadas no Brasil ficam sem a matéria-prima.

Demanda efetiva de baterias existe, de veículos elétricos existe, de armazenamento de energia existe, mas ela está sendo abastecida pela China”, aponta Muñoz.

O executivo de origem argentina que optou por deixar a administração global da empresa para ficar no Brasil também clama por uma discussão que reúna os setores público e privado, “Sendo que no caso do setor privado, como somos uma indústria transversal, é necessário unir mineradoras, indústria pesada, fabricantes de veículos, de ferramentas, de robôs, de drones, de avião, já que todas elas usam baterias feitas com minerais críticos, em alguma etapa da produção”, afirma.

“Sem fabricar baterias, o futuro do Brasil fica comprometido, e o pais vira um fornecedor apenas. E não há outro lugar no mundo que reúna minério e demanda interna suficiente para justificar a nossa própria oferta. Temos recursos e energia renovável. A Argentina tem isso também, mas é pequena, com 40 milhões de habitantes, não consegue sustentar a indústria”, compara.

Ele aponta para outro diferencial que distingue o Brasil diante da guerra geopolítica e de tarifas. “O país é amigo de todo mundo, um parceiro confiável, sem interesse de supremacia mundial, consegue dialogar com os norte-americanos e chineses. Isso me motivou a ficar no Basil também, porque acredito fortemente nesse potencial de crescimento “, revela. – Fonte: Notícias de Mineração Brasil – 09.06

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