Gueto, liberdade e a verdadeira democracia, em questão

Autor: Jayme Vita Roso*

Viver no gueto

1 – As cidades, contemporaneamente, levam os homens a viver num gueto, mais sofisticado que os construídos pelos nazistas na Polônia.

2 – Então, pensando bem, não há mais poesia? Sim, há a da mineira Adélia Prado, que “com ousadia e grandeza ela perscruta a condição humana, ciente de que o poema é também um produto social” (Adélia Prado, Terra de Santa Cruz, 2ª ed., 1986, da contracapa).

E Guimarães Rosa assim a apreciou, como “poesia metafisica e universal” um verdadeiro desafio permanente.

Assim é o homem que se conforma em viver e conviver em apartamentos de quarenta andares ou em comunidades, ou em favelas.

3 – Isso ocorrendo, o homem deixa de ser o “homem que pensa” para ser o “homem que é conduzido a modelos estereotipados” capaz até de “produzir efeitos na edição genética de humanos podem ser desastrosas” (Christiane N.M. Barbosa et Lino, Rampazzo, Novas Técnicas de Manipulação Genética, Edições Loyola, pág. 212, 2023).

Então como se apresenta a liberdade?

4 – A liberdade é uma palavra mágica, “meta de atingir é um fardo para carregar. Desafio quotidiano e golpe sério contínuo”. (Fizzoti  e Punzi_, Costretti,  Liberi  p.5,   ed., paulinas).

5 – Se é difícil ser livre, seja porque temos dificuldade em nos comunicar, seja porque o nosso corpo é imperfeito, seja porque a nossa personalidade é posta em discussão (caráter, alguns, herdados dos pais, acontecimentos da infância), finalmente, a sociedade em que vivemos, nos condiciona com aspectos sociais e econômicos, até culturais. E assim por diante.

Então, o nosso agir não se apresenta livre e, por óbvio, a nossa liberdade é precária!

A liberdade não é um projeto incompleto para o homem, e nele, porque pelo fato de ser homem, tem “raízes inalienáveis de sua dignidade” (op.cit.,p.8)

6 – Agora, “além da liberdade, ter a consciência de responsabilidade… na intimidade da consciência, reluz a sua existência “autentica, no confronto direto com ele mesmo” (op.cit.p.24).

“Liberdade é comprometer-se, é dizer: “Importa-se” (op.p.28)

7 – Até, enfatizando os autores citados, é ousar ter na paz um coração inquieto com a injustiça, ou para garantir a dignidade, o crescimento, e, como diz a canção, We shall overcome.

Como vai a democracia como garantidora da liberdade?

8 – A democracia na França vai mal, escusando-me de apreciar a tupiniquim. No canal 7 (“I Panorama G FR”), encontro o dia-a-dia da pátria de De Gaule. Difunde um programa que tem por título: “A verdadeira democracia”.

9 – Aproveito para listar “alguns defeitos” da democracia galesa, como narrados no Canal 7, independente, sem qualquer dúvida.

No dia 06/01/2025, “jamais foi vista uma tal repressão, diante da cólera dos agricultores, que desejavam ser ouvidos pelas autoridades, diante dos políticos que julgavam desfavoráveis, com o acordo com o Mercosul, que os prejudicava.

No dia 09/01/2025 “a indecência”. 

Que consiste essa reprimenda?

O Presidente do Senado encomendou uma cadeira para sentar e presidir as sessões que custou 40.000 eur., (ou 270.000,00 reais aproximadamente), ou um luxo face à austeridade exigida dos cidadãos.

No dia 10/01/2025, os jovens de 18 a 25 anos, com as restrições impostas no mundo de trabalho, procuraram se impor, ou em busca da liberdade, não em capricho, mas uma busca de um equilíbrio de vida. Não é, pois, uma geração, para ganhar mais, mas preservar sua saúde mental, vivendo cada instante plenamente de sua vida.

No dia 11/01/2025, a informação de que o político François Rebsann, antigo prefeito de Dijon (onde se produz a melhor mostarda do país), foi guindado  ser o  Ministro da Organização do Território, se auto  promoveu a receber mais 25.000 euros,  acumulando duas funções, porque, ainda, recebe pelo cargo que não  mais exerce na Metrópole de Dijon.

No dia 12/01/2025, o tema é mais amplo. Diz: “O século XXI inaugurou uma revolução tecnológica sem precedentes com a chegada da Internet e, nos anos 2000, a explosão dos smartfones.” 

Com muita razão e gravidade, ainda diz: “o impacto mais visível desta revolução é, sem dúvida, o desaparecimento progressivo dos jogos e atividades ao ar livre. Lá, onde antes, um dia de neve convidava as crianças a se divertir ao ar livre, as ruas hoje são desertas, mesmo em caso de eventos excepcionais”, porque “a juventude é conectada, mas isolada”, pelos efeitos nefastos das telas sobre os jovens”.

No dia 13/01/2025, nos centros de saúde “sua política é criminosa, eles morrem, aguardando horas para serem atendidos, em casos de urgência. “Os serviços de urgências franceses atravessam mais uma crise”. Tudo saturado de gente e pouco atendimento, pois “é uma responsabilidade política evidente”. Acrescento que isso ocorre porque não há mais investimentos que são dirigidos para outras finalidades políticas.

Que lição nos aparece como necessária?

Se não estamos contentes, se não sorrimos com os impulsos do coração, se mexemos com a essência da vida, então, voltando a Adélia Prado, encerro: “Estremecerei de susto até dormir. E, no entanto, é tudo tão pequeno. Para o desejo do meu coração, o mar é uma gota”  (O coração desesperado, Solari. Ed.1984).

*Advogado, escritor e ambientalista

 

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