
Paulo Sérgio Ribeiro da Silva*
Comemorar 50 anos de atividade de uma empresa é motivo de satisfação e orgulho, especialmente para mim, que fundei a TORA, em 1972.
São muitas e boas as recordações e sentimentos que esta solenidade me desperta, mas vou me restringir aos aspectos mais empresariais.
Prometo, para os próximos anos, um livro de memórias.
O maior de todos os sentimentos, é de gratidão a todos aqueles que participaram e ainda participam desta jornada.
Meus agradecimentos iniciais são à Deus, que me deu saúde e força para enfrentar os momentos difíceis e a minha família, que sempre me estimulou e contribuiu para o meu equilíbrio emocional.
Mas, tenho certeza de que, de alguma forma e em algum momento, todos os aqui presentes, contribuíram com o meu objetivo de empreender, de trabalhar, de crescer.
Agradeço, sinceramente, aos nossos clientes, pela confiança e estímulo.
Sem eles, a nossa história seria apenas um sonho. E foi através de um deles, que acreditou em uma ideia inovadora, que iniciamos nossa caminhada.
Os nossos funcionários, os colegas acionistas, fornecedores, amigos, e colegas empresários, sempre foram, e ainda são uma grande fonte de aprendizado.
Foi cultuando o respeito, a dedicação e harmonia, que nós acionistas, os pioneiros: Toninho, Abelardo, Valter, e os que se incorporaram ao longo dos anos: Edson, Altair, Janaina, Junior e Rodinei, que sustentamos a estabilidade e o crescimento da TORA. Destaque especial para meu irmão Antônio e o Sr. João Bueno, já falecidos, que muito contribuíram para nosso desenvolvimento.
Agradecimento a todos os milhares de funcionários que nestes 50 anos passaram pela empresa.
Muitos deles, depois de 20, 30 anos, ainda continuam vestindo a camisa e ajudando a empresa a crescer.
Cada um a seu tempo, todos se empenharam em manter os valores fundamentais de nossa atividade empresarial, que são sintetizados em conceitos simples: respeito, trabalho e, aplicados de maneira sistemática e abrangente.
São estes os valores que formam a nossa cultura empresarial.
Sabemos que somente um pequeno percentual das empresas do país, chegam a esta idade madura com solidez e visão de futuro.
Por isso, nos orgulhamos, não só de termos sobrevivido, mas com o fato de podermos ver que as pessoas, que compõem nosso universo, estão entusiasmadas, felizes e confiantes no futuro.

E é por levarmos a sério o valor do respeito e do diálogo, que também nos orgulhamos de termos passados estes primeiros 50 anos, sem nenhuma demanda com nossos clientes e fornecedores.
Infelizmente, temos contenciosos trabalhistas, apesar de cumprirmos integralmente com as obrigações sociais e nunca termos atrasado, por um dia sequer, o salário de nossos colaboradores.
De fato, nosso maior orgulho é termos contribuído para o crescimento da sociedade e de nossos clientes, gerando empregos dignos e sustentáveis (atualmente são 2.400 diretos e mais de 4.000 indiretos).
Seguramente, as nossas ações propiciaram estabilidade e perspectivas para milhares de famílias.
A nossa cultura nos obriga a respeitar as pessoas e as leis, buscando sempre aplicarmos parâmetros e conceitos justos nas relações de trabalho e comerciais.
Seria enfadonho discorrer sobre as dificuldades que enfrentamos nestas cinco décadas.
Dificuldades que em sua maioria, vieram de fora para dentro, consequência da excessiva interferência do Estado em nossas atividades.
O Estado brasileiro está a cada dia mais inchado e ineficiente.
A partir da década de 90, enquanto o setor privado vem modernizando a sua gestão, o setor público não só não evoluiu, como incorporou conceitos anacrônicos, origem dos graves problemas atuais do país.
Sob a justificativa de proteger direitos, a constituição de 1988 estimulou a judicialização, criou privilégios e tornou menos efetiva a aplicação das leis facilitando a impunidade.
O emaranhado de leis e regulamentos, encarecem custos e muitas das vezes são interpretadas de maneira diversa pelas três instâncias do Judiciário, gerando insegurança jurídica, inibidora de iniciativas empresariais.
Os processos judiciais são excessivamente lentos e em muitos e vários casos, as decisões judiciais privilegiam o processo sobre o mérito, gerando decisões injustas.
A modernização das ações e estabelecimentos de conceitos éticos pelo Estado é tarefa urgente a ser desenvolvida pelos três poderes constituídos.
É preciso promover não só mudanças pontuais, mas de fato, uma reforma do estado brasileiro, que venha tornar nossa sociedade mais justa, coesa e produtiva.

As reformas administrativa e tributária, merecem o carimbo de urgentes.
A primeira para reduzir o tamanho do estado e racionalizar a sua gestão.
A tributária, para desonerar a produção e dimuir o custo de gerar empregos.
De maneira bem suscinta, elenco algumas situações graves que ocorrem, nas três esferas dos poderes, que justificam este sentimento de urgência.
No Judiciário:
Não é aceitável, que processos conduzidos pelas três instâncias do judiciário, avaliados e sentenciados por colegiados, venham a ser anulados por razões processuais.
Nosso aparato judicial não tem conseguido eliminar situações fragrantemente ilegais e injustas, que acabam consolidando, com o passar do tempo, privilégios e anomalias.
Os juízes da Justiça Trabalhista, frequentemente emitem sentenças desarrazoadas, que na maioria dos casos, não são revistas nas instâncias superiores.
No Legislativo:
Decorridos 34 anos da promulgação da constituinte de 88, existem dezenas de artigos que precisam ser regulamentados e que não foram estimulando, assim, a judicialização e permitindo interpretações discricionárias.
Entendo que, aos parlamentares, a quem cabe a elaboração de leis que organizem a sociedade e protejam os cidadãos, deveriam ainda, liderar a negociação de um modelo econômico planejado, com visão de longo prazo e que nos conduza a uma sociedade mais justa e equilibrada.
O que temos visto são ações, muitas delas adequadas, mas na maioria voltadas a atender demandas localizadas e corporativas.
Por obvio, a sociedade não sabe até hoje para onde vão os recursos das emendas secretas.
A transparência não é preceito explícito de nossa constituição?
Executivo:
Analiso há anos uma distorção, que no meu entender, é totalmente antiética e prejudica milhões de trabalhadores, e apesar disso, vem sendo mantida por vários governos.
O dinheiro do Fundo de Garantia, poupança compulsória dos trabalhadores, é corrigido a 3% ao ano, enquanto, para os outros investidores, a taxa básica de juros é sensivelmente superior (13,5% atualmente).
A justificativa de ser um meio de subsidiar juros da casa própria é frágil e inconsistente.
Empobrecer o trabalhador durante anos, para depois facilitar o acesso à moradia
A carência habitacional dos cidadãos de baixa renda é mesmo grave. Mas, é um problema da sociedade. Não é justo que seja bancado pelos assalariados.
As políticas sociais devem ser bancadas pelo conjunto da sociedade, assim como ocorre, há décadas com o justo subsídio de taxas de juros para a agricultura, que é custeado pelo Tesouro Nacional.
Assim foi também, quando há alguns anos, de maneira inadequada e injusta, o Tesouro Nacional bancou diferenças de taxas de juros para investimento de diversos segmentos empresariais.
Além de ser antiético, resulta em transferência e concentração de renda.
Um outro fato que corrobora a crítica, é o caso da BR381, um dos mais importantes eixos da malha rodoviária nacional e mineira.
Há mais de 30 anos, a sociedade reclama a duplicação da rodovia da morte. O edital que agora pretende privatizá-la prevê o final das obras para 2042.
Isto não é de forma nenhuma aceitável.
A meu juízo, estas considerações deixam evidente que nosso Brasil está precisando mesmo de uma reforma geral.
O desafio é grande…
O cenário atual mostra que não conseguimos coesão dos agentes públicos para definir e implementar um modelo político e econômico para o país.
Os conceitos liberais na economia não são implementados e a falta de harmonia entre os poderes não viabiliza as ações e reformas que o país demanda.
Por falta de iniciativa e diálogo, as ações são conduzidas para atender interesses corporativos e, às vezes, questionáveis interesses políticos.
É cada dia mais intensa a divisão da sociedade em ambiente de forte radicalização, o que só acentua as divergências.
O respeito ao regime político que adotamos, a democracia e o efetivo cumprimento das leis, são pressupostos fundamentais à estabilidade social e a liberdade das pessoas.
Nós, cidadãos, mesmo de tendências políticas diferentes, temos que aceitar nossa responsabilidade de preservar a paz social no nosso país.
O nosso Brasil tem um povo inteligente, um clima favorável e empresários comprometidos com a produtividade e com a evolução tecnológica. Temos a obrigação de zelar por este patrimônio.
No entanto, avalio que, nós, cidadãos conscientes, temos errado.
O foco da participação política é sempre na Presidência e nos cargos executivos. Nos descuidamos ou damos menos importância a eleição de nossos parlamentares.
No arcabouço jurídico nacional, as demandas da sociedade, devem ser, necessariamente, avaliadas pelo parlamento.
É ele que tem poderes para alterar e criar leis, destituir servidores e exercer a representação direta das demandas sociais.
Precisamos escolher melhor nossos parlamentares.
Estas considerações não tem o sentido de reclamação e desânimo, são apenas alertas e uma chamada de consciência.
Foi enfrentando desafios com firmeza e tranquilidade, que chegamos aos 50 e assim, será nos próximos 50.
A conjuntura atual é altamente desafiadora. No plano doméstico temos a inflação, o crescimento da pobreza e a radicalização política.
No contexto internacional, a pandemia, conjugada com a absurda guerra Rússia x Ucrânia, afetaram fortemente a economia mundial, provocando grandes mudanças nos fluxos de comércio e profundas alterações no modelo atual de globalização.
Mas, onde há desafios, haverá, também, coragem e superação.
A Tora não é uma pessoa, é algo muito mais amplo e ambicioso.
E assim, ela continuará na estrada, lendo a cada quilômetro da estrada, nossos princípios e valores.
A diretoria da Tora, liderada pela Janaina, que falará em seguida, junto com nosso Conselho de Administração e nós acionistas, assumimos que continuaremos a contribuir para o crescimento das pessoas, atender aos clientes com responsabilidade, ajudando o desenvolvimento do nosso país.
Vamos em frente e sempre juntos!
*Fundador e Presidente do Conselho de Administração da Tora – Discurso pronunciado durante a solenidade de comemoração dos 50 anos da empresa, ocorrida em 24 de maio, no Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte – MG