Paulo Cesar de Oliveira
Seria cômico, não fosse trágico, o momento político brasileiro. Os mais vividos hão de lembrar dos “pastelões” de duplas geniais do cinema, como o Gordo e o Magro”, quando, invariavelmente, havia uma briga em que tortas e outras guloseimas eram atiradas no rosto dos adversários, exatamente como se vê agora nas declarações grosseiras e rasteiras dos políticos contra seus adversários. Uma briga que vai recrudescendo na medida em que se aproxima o dia do cidadão ir às urnas. São falas desconexas de quem não tem o que falar ao eleitor e que precisa ficar bem com “chefe”, ou seja, o candidato a um cargo maior que pode ser o puxador de voto de seu grupo.
Tem sido assustador assistir o comportamento de alguns parlamentares que chegam a desrespeitar o mandato que receberam nas urnas com suas posturas e declarações. O exemplo maior talvez seja o deputado mineiro, ex tucano hoje filiado ao PL, que não se acanhou ao propor que o Congresso se torne revisor das decisões do Supremo Tribunal Federal, com poderes para anular decisões que não tenham sido definidas com unanimidade no órgão máximo do Poder Judiciário. Uma proposta claramente dedicada a agradar a Bolsonaro, e que faz corar frade de pedra, tal o seu despropósito e inconstitucionalidade.
É vergonhoso, cruel mesmo, assistir-se o desvario de ministros, auxiliares menores, parlamentares agindo em defesa de propostas, como a de redução do ICMS sobre combustíveis, como se estivessem sobre o palanque eleitoral. E é exatamente o que fazem. Tiveram todo um mandato para propor e defender medidas que julgam urgentes, justas e necessárias ao país. Não o fizeram. Se atiram agora à luta em defesa de medidas que julgam populares e com potencial de voto, sem se importarem com as suas consequências.
São medidas que defenderão até a morte, ou melhor, até as eleições. Depois, bom, depois é depois. É tal a falta de pudor de nossos políticos que talvez seja o caso de alguém mais sensato apresentar projeto proibindo a apresentação de propostas, inclusive de realização de CPI, em ano eleitoral. Para não dizerem que estão cerceando a liberdade do Legislativo, poderiam acertar que medidas eleitoreiras só entrariam em vigor se aprovadas, em ano eleitoral, por unanimidade. Concordam senhores parlamentares?