MC – Além da atuação empresarial, o senhor se destaca como uma liderança do setor de transporte no âmbito de entidades representativas. A culminância desse trabalho é a presidência do Sistema Transporte, iniciada em 2019. Como essas duas experiências se encontraram na sua trajetória?
VC – Sou filho do empresário e líder sindical Vicente Costa. Com isso, sempre convivi nesse ambiente. Comecei a trabalhar na empresa da qual meu pai era sócio e, em 1982, em um processo de cisão dessa companhia, foi criada a Vic Transportes, empresa do modal rodoviário de cargas. Entre 2002 e 2008, tive a oportunidade de presidir o Setcemg (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais). Antes, já fazia parte da diretoria em dois mandatos como diretor-secretário e, entre 2009 e 2016, fui presidente da Fetcemg (Federação das Empresas do Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais). A minha experiência como empresário me ensina sobre os desafios enfrentados pelo setor em seu dia a dia. Já a minha vivência sindical me possibilita encaminhar essas questões e buscar resultados, o que é muito gratificante, pois são conquistas compartilhadas. Para exercer a função de dirigente sindical, é necessário ter a visão de setor, sendo necessário, por vezes, deixar de lado os interesses da empresa, mas com o sentimento de que um setor robusto é melhor para todos e, consequentemente, também para a nossa empresa. Estar à frente do Sistema Transporte é, justamente, a chance de realizar um trabalho de longo alcance, que gera valor e vai além do modal rodoviário, contribuindo não apenas para um segmento ou um setor, mas também para o crescimento do país.
MC – De que forma o transporte impacta o desenvolvimento nacional?
VC – O transporte move o Brasil. Outros setores não prosperam sem a movimentação de bens e pessoas. A mobilidade urbana é tema de assento constitucional; e sua importância é evidente. É importante registrar que a sociedade brasileira vem exigindo dos governantes investimentos em mobilidade urbana. Nós entendemos que a mobilidade é um direito constitucional de todo cidadão brasileiro e, assim como o SUS e o sistema educacional, deve ser custeada com recursos públicos de todos os entes federados, inclusive no âmbito federal. Quem merece os investimentos com recursos públicos é o cidadão, que precisa se locomover para estudar, trabalhar e se divertir.
A indústria, o comércio e o agronegócio são dependentes do transporte para produzirem, exportarem a produção e, também, para distribuí-la internamente. Sem o transporte, o abastecimento do país fica comprometido, com riscos à segurança alimentar da população, o que quase ocorreu durante a pandemia da covid-19. Acertadamente, o governo reconheceu o transporte como serviço essencial; e os motoristas foram a campo, mas não apenas eles. Refiro-me a cobradores, motoboys, aeroportuários, portuários, entre outras categorias, que não se intimidaram, apesar das incertezas enfrentadas naquele momento. Não há que se falar em varejo e comércio eletrônico, que tanto prosperaram, sem o serviço de entrega. Por fim, enfatizo que os transportadores utilizam mão de obra intensivamente, gerando empregos em vários pontos da cadeia de suprimentos. O setor é grande e precisa encontrar, no Sistema Transporte, uma representação à altura.
MC – O senhor poderia falar mais sobre a representatividade do Sistema Transporte? Qual é a abrangência dessa liderança?
VC – O Sistema Transporte é a denominação ampla para o trabalho desenvolvido pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), pelo SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte) e pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística). Essas três entidades se dedicam a aumentar a eficiência e a competitividade dos vários modais do setor de transporte. A CNT reúne 28 federações, cinco sindicatos nacionais e 22 entidades associadas. Sob esse guarda-chuva, estão representadas mais de 165 mil empresas, que geram mais de 2,6 milhões de empregos. Em uma frente, a Confederação atua, institucionalmente, para defender os interesses do setor junto aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Em outra, produz estudos e materiais técnicos que trazem subsídios para os formuladores de políticas públicas e, também, para a tomada de decisão de executivos e CEOs. O ITL é o nosso braço acadêmico, voltado para a alta gestão, com foco em inovação e aprimoramento constante. Ele visa formar os líderes de amanhã, com conteúdo de ponta elaborado por instituições de renome, como a Embry-Riddle, a DB Rail Academy e FDC (Fundação Dom Cabral). Já o SEST SENAT, que é Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte, é fruto da visão pioneira do ex-presidente do Sistema Transporte, Clésio Andrade. O SEST SENAT é um verdadeiro marco para os trabalhadores do transporte e as suas famílias, que, com o SEST, passaram a ter atendimentos de saúde de alta qualidade em odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia – especialidades complementares ao serviço prestado pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Com o SENAT, a aposta é em qualificação profissional, o que é fundamental para a sustentabilidade e a competitividade do setor. O mercado exige novos cursos e treinamentos a cada dia. Para dar uma noção da grandiosidade do SEST SENAT, quero ressaltar que a rede conta com mais de 160 unidades operacionais e, ao longo dessas três décadas, somou mais de 124 milhões de atendimentos de saúde, além de 56 milhões de matrículas em capacitações. E tudo isso é gratuito para os trabalhadores do transporte. Já o ITL tem como objetivo transformar o setor pela educação, promovendo qualificação a nível de pós-graduação para a alta gestão do transporte. Hoje, já são mais de 3.000 profissionais qualificados. Acreditamos que, ao melhorarmos a qualificação da alta gestão das empresas de transporte, poderemos transformar o setor.
MC – Esses serviços são financiados pelas empresas contribuintes. Correto?
VC – Sim. As contribuições ao Sistema são compulsórias e descontadas diretamente em folha, conforme disposição legal. Nesse sentido, 1,5% é direcionado ao SEST; e 1,0%, ao SENAT. Esse mecanismo garantiu a viabilidade econômica da iniciativa ao longo dos anos e serviu de anteparo às instabilidades políticas do país. Costumo dizer que, para os empresários, esse é um serviço pré-pago, mas a gente faz questão de entregar um valor maior do que o que foi pago, porque os serviços são de alta qualidade e estamos abertos, por exemplo, à customização de cursos. Os que não utilizam o Sistema – às vezes, por desconhecimento – acabam gastando muito mais, contratando por fora aquilo que já está disponível.
MC – Tradicionalmente, a CNT alerta para o Custo Brasil. Qual é o impacto dele para o país?
VC – O Custo Brasil cobre uma quantidade grande de aspectos e situações, que vão desde a manutenção da infraestrutura rodoviária até a burocracia para abrir um negócio, para liberar um navio, passando pela insegurança jurídica. Tudo isso torna o país ineficiente ou, como costuma dizer o nosso vice-presidente, Geraldo Alckmin, o Brasil ficou caro antes de ficar rico. É fato! Hoje, há estimativas que servem para ilustrar o tamanho do prejuízo. A FGV (Fundação Getulio Vargas) tem usado números que impressionam: o Custo Brasil representaria 19,5% do PIB (Produto Interno Bruto), o que equivale a dizer que ele subtrai do país cerca de R$ 1,7 trilhão por ano.
Não é verdade que o país optou pelo sistema rodoviário. O Brasil, há décadas, optou por não investir em infraestrutura, principalmente a de transporte. Como a nossa produção agrícola se expandiu para novas regiões, como o Centro-Oeste, o Nordeste e o Norte, os caminhões levam os insumos e depois buscam a produção, muitas vezes, sem estradas e em vias não pavimentadas, passando dias atolados, como já foi amplamente divulgado pela imprensa. Precisamos continuar investindo em infraestrutura de transporte para garantirmos o crescimento socioeconômico do país. Onde existem estradas de qualidade, há investimento da indústria, da logística, geração de empregos e renda. Para ver isso, basta olhar para o sul de Minas Gerais antes e depois da duplicação da Fernão Dias. Para reduzir custos, é preciso investir na navegação interna e mudar a concepção de nossas ferrovias, exigindo que haja concorrência também nesse modal.
A CNT se debruça sobre esse fenômeno há muito tempo e busca ser propositiva, sempre apontando caminhos para “destravar” o país. Nosso posicionamento está em pesquisas, na Agenda Institucional Transporte e Logística e nas propostas entregues aos presidenciáveis a cada eleição. A título de exemplo, pleiteamos tornar permanente a política de desoneração da folha de pagamento; buscamos avançar a agenda de privatizações e concessões de ativos; defendemos que as políticas nas áreas de infraestrutura e logística se tornem planos de Estado, com continuidade assegurada, independentemente de quem estiver no poder. Há muito a ser feito, mas medidas como essas já trariam melhorias para o ambiente de negócios e tornariam o país mais atrativo para os investidores externos.
MC – O senhor mencionou a privatização e a concessão de ativos, que são temas de uma análise recente feita pela CNT, contida na série Parcerias? Com tem sido a experiência brasileira em desestatização?
VC – Vou comentar especificamente a análise mencionada: a série “Parcerias – a provisão de infraestruturas de transporte pela iniciativa privada”. Trata-se de um balanço de 30 anos feito a partir da criação do Procrofe (Programa de Concessões de Rodovias Federais). De um modo geral, são resultados positivos que o cidadão comum consegue perceber quando trafega por um trecho pedagiado, por exemplo. A Pesquisa CNT de Rodovias atesta, ano após ano, que a parte concessionada das nossas rodovias tem avaliação melhor em comparação à parte gerida pelo Estado. Esse bom resultado permite à CNT apoiar a continuidade da agenda de concessões no país em ativos de infraestrutura.
A expansão da participação privada não exime o Estado da sua responsabilidade e do seu papel de investidor. Há complementariedade entre a provisão de infraestruturas pela iniciativa privada e o investimento público. O setor privado só tem interesse em regiões maduras e desenvolvidas, onde consegue financiar o investimento e seu retorno com a cobrança de pedágios. Para isso, é preciso já ter um volume de tráfego consolidado. Nesse sentido, o investimento público puro ou feito por meio das PPPs é indispensável para o desenvolvimento socioeconômico das regiões mais pobres. Essas duas vias caminham paralelamente, mas se encontram no objetivo final: a prosperidade do Brasil.
MC – Como o Sistema Transporte tem se preparado para a onda ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança)?
VC – Eu diria que não é uma onda, mas, sim, uma agenda permanente que precisa da atenção de toda empresa daqui para a frente. Com relação ao transporte, o desafio é ainda maior se considerarmos a urgência da transição energética e da descarbonização. O que posso dizer é que o Sistema Transporte já começou a sua jornada ESG em várias frentes. O Sistema promove essa agenda, por exemplo, quando leva grupos de empresários do transporte para missões internacionais. Na mais recente delas, na Suíça, vimos como esse país já avançou em boas práticas – e como nós, brasileiros, também temos contribuições. Na ocasião, ficou bem claro que largar na frente é um diferencial, pois, em breve, virão regulações muito exigentes, que poderão ser impostas por governos, órgãos internacionais ou pelo próprio mercado. Em resumo, o cenário vai mudar de qualquer modo; e os nossos clientes estarão cada vez mais exigentes. Outra oportunidade para conhecermos experiências foi a terceira edição do Fórum ITL de Inovação do Transporte, ocorrida em setembro deste ano, cujo tema foi “ESG no Transporte”. Nessa oportunidade, houve o reconhecimento do pioneirismo da CNT e do SEST SENAT com o programa Despoluir, nascido em 2008, antes mesmo dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU). A CNT vem contribuindo muito para o debate com estudos e publicações, como as da série Energia no Transporte, que já abordaram a importância do biometano, do hidrogênio renovável e da eletricidade como alternativas ao combustível fóssil. Por fim, menciono que o SEST SENAT acaba de lançar sua Política de Sustentabilidade e incluiu o compromisso com o ESG no Plano Estratégico 2024-2028. Nossas lideranças já estão sendo treinadas e, para isso, contamos com a consultoria do Instituto Ethos. A ideia é disseminarmos, de forma gradual, essa cultura para todo o nosso quadro.
MC – Como o senhor recebeu a premiação da revista MercadoComum?
VC – Em primeiro lugar, agradeço ao diretor executivo Carlos Alberto Teixeira, em nome de quem cumprimento toda a equipe de MercadoComum. Como empresário e presidente do Sistema Transporte, recebi, com grande satisfação, o título de “Personalidade Empresarial do Ano de Minas Gerais”, que já foi destinado a grandes brasileiros, como o saudoso vice-presidente da República, José Alencar. Maior ainda foi a minha felicidade como mineiro, natural de Araxá, que deseja contribuir para o setor de transporte e ver o Brasil cada vez mais desenvolvido e próspero.
MERCADOCOMUM estará circulando em dezembro com uma edição especial impressa e outra eletrônica trazendo matérias sobre os premiados, as empresas/instituições e personalidades, destacando a relevância da premiação para a economia e o desenvolvimento de Minas Gerais. Cabe ainda ressaltar a importância da realização desse evento, que reúne expressiva parcela formadora do PIB mineiro e obtém ampla repercussão da mídia em geral. Nesta edição especial constará o descritivo do XXVII Ranking de Empresas Mineiras, listando-se as “500 Maiores Empresas de Minas – 2023” – em ordem alfabética, por setor econômico, receita operacional líquida, resultado, patrimônio líquido e ativos totais.
MercadoComum, ora em seu 30º ano de circulação e em sua 324ª edição é enviado, mensalmente, a um público constituído por 118 mil pessoas formadoras de opinião em todo o país, diretamente via email e Linkedin, Whatsapp/Telegram, além de disponibilizar, para acesso, o seu site www.mercadocomum.com, juntamente com as suas edições anteriores.
De acordo com estatísticas do Google Analytics Search a publicação MercadoComum obteve – no período de outubro de 2022 a agosto de 2023 – 9,56 milhões de visualizações – das quais, 1.016.327 ocorreram de 14 de agosto a 10 de setembro/2023.
O XXV Prêmio Minas – Desempenho Empresarial – Melhores e Maiores Empresas – MercadoComum – 2023 conta com o apoio da ACMINAS – Associação Comercial e Empresarial de Minas; ASSEMG – Associação dos Economistas de Minas Gerais; Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de Minas Gerais e MinasPart- Desenvolvimento Empresarial e Econômico Ltda
O prazo para reserva de espaço para as publicidades na edição especial de MC será até o dia 31 de outubro e, a entrega de materiais, até o dia 16 de novembro.
As empresas agraciadas que participarem desta premiação, através da veiculação de uma página de publicidade na edição especial impressa e eletrônica, bem como no site desta publicação, além de um descritivo institucional sobre as mesmas receberão, também, um diploma impresso em papel especial, um troféu em aço inox e terão direito, adicionalmente, a uma mesa exclusiva de 8 lugares para a solenidade de premiação e jantar de confraternização. Também participarão de um almoço especial que ocorrerá em dezembro, em Lagoa Santa-MG, em homenagem aos agraciados.
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