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Decadência da economia de Minas Gerais

 

Números do pib mineiro de 2012 já são controversos

 

Cabe ao IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a apuração e a divulgação oficial das principais estatísticas e dados macroeconômicos relativos à economia nacional e, nesse contexto, inclui-se o cálculo do PIB-Produto Interno Bruto brasileiro, bem como daqueles relacionados ao desempenho da economia de todos os estados. É usual que os resultados sofram pequenas alterações nos meses subsequentes, por força de alguns ajustes e melhor refinamento das informações colhidas.

O PIB estadual é divulgado através de um documento mais amplo, intitulado “Contas Regionais” e, geralmente, conta com uma defasagem de dois anos. Assim, o documento mais recente desse estudo teve a sua divulgação ocorrida em novembro último e contempla os resultados econômicos de todos os estados e o Distrito Federal desde 1995 até 2010.

Portanto, os dados considerados oficiais e prevalecentes relativamente ao desempenho das economias estaduais, até agora já divulgados, têm 2010 como último ano e referência.

Quaisquer outras informações relacionadas aos anos seguintes, como as de 2011 e de 2012, merecem ser vistas com especial cuidado, pois não passam de meras estimativas, projeções e previsões ou até mesmo simples especulações quanto ao comportamento das economias estaduais.

Durante os anos mais recentes, o governo de Minas Gerais não tem se mostrado certeiro na divulgação dos dados relativos ao PIB estadual e vem sempre divulgando o desempenho da sua economia, quando confrontadas com as informações oficiais posteriores do IBGE – com razoáveis margens de erro, invariavelmente sempre a seu favor e acompanhadas de caras estruturas de marketing político e de publicidade oficial. E o que é pior, não vem se dando nem ao cuidado de informar a provisoriedade daqueles dados – e que a competência a quem cabe, em última análise, a sua divulgação e oficialização, é do IBGE.

 

Assim, por exemplo, para o ano de 2009 – ápice da crise financeira internacional, o governo de Minas havia anteriormente anunciado, de forma bastante acanhada e com escassa divulgação, que a economia mineira apresentara desempenho negativo de 3,1%. O número oficial, no entanto, ficou acima, em -4,0%, o que representa uma diferença de 29,0% a menor (o dado anterior era mais favorável ao governo mineiro). Nesse mesmo ano, as exportações mineiras despencaram em torno de 20,2% e a queda do PIB de Minas Gerais chegou a superar a média brasileira de -0,3%, a média mundial de -0,6% e até mesmo a dos Estados Unidos, que alcançou -3,5%.

Já para o ano de 2010, a divulgação do PIB mineiro foi alardeada a todos os cantos e resto do país através de uma intensa e cara mídia publicitária como se uma nova economia chinesa tivesse surgido no Brasil, com o registro de Minas Gerais tendo um aumento do PIB alcançando impressionantes 10,9% – superior à média brasileira de 7,5% e mais elevada do que o da própria China, de 10,4%.

No final do ano passado veio a constatação, através do IBGE: o crescimento do PIB de Minas Gerais foi de 8,9% e não de 10,9% – como amplamente divulgado antes pelo governo local. A diferença da taxa oficial do IBGE e a anterior divulgada pelo governo mineiro ficou em 22,5% menor, (a anterior também era favorável ao governo mineiro).

Para o ano de 2011, as informações já divulgadas pelo governo de Minas, relativas ao PIB mineiro, foram um pouco mais acanhados. Para um desempenho médio de expansão de 2,7% do PIB brasileiro naquele ano, os dados aqui divulgados começaram exatamente empatados com o mesmo ritmo e nível alcançados pela economia nacional. No entanto, as estimativas mais recentes, do próprio governo estadual, já aceitam a sua redução e indicam na direção de um novo número: 2,5% e, portanto, inferior à média nacional contabilizada pelo IBGE. Há possibilidades que tenha sido, inclusive, menor ainda do que já está sendo reconhecido.

Cabe esperar a divulgação do número oficial pelo IBGE, prevista para novembro deste ano e que, pelo visto, deverá confirmar mais uma queda no desempenho da economia mineira e mais um desvio de pontaria das estatísticas oficiais locais.

 

 

Os resultados do pib mineiro de 2012

 

Em 1º de março último o IBGE divulgou que o PIB brasileiro registrou em 2012 um crescimento de apenas 0,9%, inferior à média mundial de 3,2%. No acumulado dos dois primeiros anos de governo Dilma Rousseff, a economia brasileira contabiliza uma medíocre expansão acumulada de apenas 3,65% – menos da metade dos 7,64% da América Latina e Caribe e bem inferior à média mundial de 7,22%.

Quase simultaneamente ao anúncio do IBGE, no dia 06 de março, o governo mineiro anunciou as suas estatísticas e, mais uma vez, sem tomar os devidos cuidados em alertar sobre a provisoriedade daquelas informações e que elas não poderiam ser consideradas definitivas nem oficiais, competência que cabe ao IBGE. Assim, a exemplo de vezes anteriores, as estimativas ou projeções foram transformadas ao grande público como uma realidade insofismável e definitiva. Com toda a pompa e circunstância, contando com adesão cega da mídia mineira a rufar os tambores e a soprar as suas cornetas divulgou, principalmente ao resto do país, o “dinamismo” da sua economia que contabilizava expansão de 2,3% no exercício de 2012 e, portanto, um desempenho bastante superior à média nacional. Alguns afoitos veículos de comunicação impressa mineiros chegaram ao destempero de anunciar que o desempenho da economia mineiro em 2012 havia “superado em duas vezes e meia”o resultado nacional.

Nesse sentido, consideramos mais uma vez oportuno reproduzir observações feitas no Informativo/CEI – PIB IV Trimestre -2012 – MG, feitas pelo CEI-FJP-Fundação João Pinheiro, no dia seis de março, quando divulgou os números da economia mineira de 2012:

 

-“As estatísticas apresentadas são preliminares”;

-“O PIB trimestral de Minas Gerais é calculado pela Fundação João Pinheiro com metodologia própria, desenvolvida segundo as recomendações adotadas pelo IBGE nas Contas Nacionais e Regionais do Brasil”;

-“Estes cálculos são sempre e normalmente revistos, em trabalho conjunto com o IBGE, com dois ajustes principais: 1) a estrutura de ponderação das atividades econômicas no valor adicionado da economia do Estado é atualizada; 2) projeções ou valores preliminares nas séries de dados primários utilizados no cômputo do PIB trimestral são substituídos por valores consolidados”;

-“Os procedimentos de revisão são semelhantes aos adotados pelo IBGE no que diz respeito às Contas Nacionais Trimestrais, e os resultados definitivos usualmente divulgados com uma defasagem de dois anos”.

De acordo com o governo mineiro, o formidável desempenho da economia mineira em 2012 e muito superior à média brasileira do período se deu, principalmente, ao fato de que “embora a diferença no desempenho anual tenha sido disseminada na maioria dos setores de atividade, foi determinante a performance superior da agropecuária em Minas Gerais.

 

Enquanto o valor adicionado pela agropecuária mineira em 2012 foi 4,4% maior que o de 2011, em termos reais, no conjunto da agropecuária nacional houve contração de 2,3%”. E acrescenta que “no setor industrial, também houve uma diferença significativa em sua evolução no estado e no conjunto do país. O valor adicionado na indústria de Minas Gerais em 2012 foi 1,5% maior que no ano anterior; no país, foi 0,8% menor. Nos serviços, o valor adicionado no estado superou em 2,3% o volume produzido em 2011; no Brasil, o volume do produto agregado setorial foi 1,7% maior em 2012”

Os números divulgados pelo governo estadual relativamente ao PIB mineiro de 2012 colocaram-se em confronto com a expectativa de vários economistas que previam a possibilidade até mesmo de um PIB negativo para Minas naquele ano, principalmente em função de que as exportações estaduais sofreram retração de 19,24% no mesmo período, queda só comparável à de 2009 – de 20,15% e que resultou em um PIB negativo de 4,0%.

As contestações e divergências já começaram a surgir. A matéria publicada no dia 23 de março, no Diário do Comércio – página 16, sob o título de “PIB 2012 – Agropecuária mineira teve expansão pífia no ano passado”, revela que o PIB-Produto Interno Bruto do agronegócio mineiro registrou crescimento de apenas 0,27% em 2012. O PIB do agronegócio mineiro foi estimado pelo CEPEA-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, sob encomenda da FAEMG- Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais e da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo mineiro.

De acordo com o referido estudo do CEPEA, “ao contrário dos anos anteriores, em 2012 a elevação de apenas 0,27% do PIB do agronegócio teve como impulso os resultados positivos da pecuária, uma vez que o desempenho da agricultura encerrou o período em queda”. E destaca, ademais, que “o aumento do abate e da produção de leite foram fundamentais para o resultado positivo, apesar de pífio, nesse segmento. No caso da agricultura, o fraco desempenho registrado nos resultados do café, principal produto do agronegócio mineiro, contribuiu para que a agricultura encerrasse o período em retração”.

 

A decadência da economia mineira em números oficiais

 

Não cabe choro nem vela nem há mais o que contestar, porque os dados são oficiais, a fonte é o IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e confirmam o declínio da economia mineira, conforme se pode constatar através das tabelas abaixo:

 

 

Durante o período de 2003 a 2010, a média geométrica de crescimento anual do PIB de Minas Gerais foi de 4,3% e o crescimento acumulado totalizou 34,7%. Com esse resultado, Minas Gerais se posiciona no referido período detendo o 6º pior resultado entre todos os estados.

De acordo com dados preliminares, em 2011 o crescimento do PIB mineiro ficou aquém da média brasileira (até o presente em -0,23%) e será preciso aguardar os resultados que o IBGE deve divulgar até novembro próximo sobre os números efetivos. Quanto ao desempenho de 2012, a espera durará um tempo a mais para se confirmar de que lado mora a razão dos verdadeiros e corretos números.

O declínio econômico de Minas Gerais não é evidência que se mostrou concreta apenas nos dias atuais, ontem ou antes de ontem. Iniciou-se muito tempo atrás, bastando lembrar que o Estado, na metade dos anos 1980 chegou a ocupar o segundo lugar no ranking nacional das maiores economias estaduais. Se hoje esse quadro de decadência configura-se como uma realidade difícil de se aceitar e que não pode muito menos ser tolerada, é imprescindível que ações eficazes sejam tomadas para que a situação não se transforme, mais do que em uma tendência, numa triste realidade que apenas nos aguarda na chegada dos anos vindouros. A situação precisa ser encarada com coragem e ousadia, principalmente, cabendo destacar que alertar para tais fatos não se trata de criticar estas ou aquelas decisões governamentais. E, ao contrário, busca a compreensão da natureza dos fatos e episódios que constragem e obstam a expansão econômica estadual.

Não basta apenas torcer para que o desempenho da economia mineira supere a média nacional. A situação exige de todos nós uma postura ativa em busca de um desenvolvimento que incorpore o crescimento econômico vigoroso e contínuo, com qualidade, sustentabilidade e como premissa maior a permear toda a nossa trilha futura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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